Você mente para seu terapeuta?
Quinta-feira. 18 horas. Como já estabelecido em sua agenda, você chega para mais uma sessão com seu terapeuta. Vocês começam a conversar sobre as tribulações que passou nos últimos dias. Havia sido uma semana muito difícil em seu trabalho, diversas cobranças de seu chefe. Parece que tudo se resumia a uma estafa paralisante.
Você começa a se lembrar dos problemas que já havia enfrentado anteriormente com chefes em outros trabalhos. Uma das memórias lhe é desconfortante: trata-se de uma briga com um antigo chefe, você lhe fez várias acusações e no final das contas percebeu que você mesmo estava errado.
Ao relatar tal episódio para seu terapeuta, você começa a se sentir angustiado e opta por não lhe falar o final da história. Apesar de saber que você descobriu seu erro, prefere manter as acusações ao seu antigo chefe.
A sessão acaba e você sai da sala. Enquanto voltava para a casa, sentia um estranhamento. Não entendia muito bem o porquê de ter mentido para seu terapeuta. Tanta confusão em sua cabeça. De um lado, uma vontade de ligar para seu terapeuta e lhe contar toda a verdade, de outro lado, uma vontade de parar a terapia. Por fim, acaba optando por conversar sobre tudo isso que sentiu na próxima sessão.
Esse relato fictício retrata uma situação frequente ao longo do processo de terapia. Durante as sessões são abordados temas delicados da subjetividade da pessoa. Isso traz à tona diversos sentimentos, muitas vezes desconfortantes.
Assim, na hora, parece que é impossível falar sobre determinado aspecto. Parece sensato omitir algum detalhe ou até mesmo mentir para seu terapeuta. Por vezes pode aparecer um medo de ser julgado, uma vergonha em expor alguma intimidade, até um receio de que o relato possa decepcionar seu terapeuta.
Curiosamente, esses momentos são fundamentais ao longo do processo de terapia, uma vez que eles acabam tocando justamente em pontos que lhe trazem dificuldades na relação consigo mesmo ou com as outras pessoas.
Se você sentir que não dá para relatar o que se passou, poder falar sobre essa barreira com terapeuta, abordando os medos que que rodeiam esse relato, pode ser algo muito enriquecedor no seu processo psicoterápico.