Convivendo com TDAH na infância
Compreenda quais são os sintomas do TDAH e as comorbidades mais relacionadas ao TDAH
na infância.
Por Drª Cristiane Beckert
A sintomatologia do TDAH tem variação de acordo com sua forma de apresentação. Em crianças com o subtipo desatento, os sintomas aparecem nas dificuldades na organização e na percepção de detalhes, que levam a pobre execução de tarefas, com a tendência a apresentar maior número de erros e realizá-las em menor velocidade. Crianças que apresentam o subtipo hiperativo/impulsivo, demonstram dificuldades para controlar sua agitação motora e para regular seu comportamento, sobretudo em situações nas quais
deve esperar, o que leva a maior tendência em ter mais acidentes e problemas nos relacionamentos interpessoais. No subtipo combinado, além das dificuldades já citadas, há predisposição para a desatenção surgir como distrabilidade na execução de tarefas e da agitação motora ser também mental
e dificultar a autorregulação emocional e comportamental (Abreu et al., 2015).
Um estudo realizado em escolas destacou que a prevalência de casos de TDAH na população brasileira infantil tem média de 12%, com variação entre 5 e 18% entre as regiões (Gonçalves; Pureza; Prando, 2012).
Crianças com TDAH, são mais predispostas a terem comorbidades relacionadas a dificuldades de aprendizagem, com estimativa de 10 a 25% dos pacientes (Dias; Badin, 2015). A aprendizagem exige a integração de estímulos sensoriais captados do ambiente com conhecimentos prévios, internalizando
seus significados. Portanto, a aquisição de novos conhecimentos exige do sujeito controle atencional, inibindo demais estímulos distratores, fisiológicos e do ambiente, para focar no estímulo alvo. Pacientes com TDAH apresentam com frequência dificuldades com os métodos pedagógicos convencionais,
sobretudo no subtipo desatento, podendo ser preditor para dificuldades na aquisição da leitura (Rizutti et al., 2008). Embora o TDAH não traga déficits no processamento fonológico ou na habilidade para compreender conceitos numéricos, cerca de 10 a 35% pacientes com dislexia e 25% dos pacientes
com discalculia apresentam TDAH, levando a maiores prejuízos acadêmicos e emocionais (Dias; Badin, 2015).
Abreu et al (2015) destacam que não há redução nos sintomas neuropsicológicos e comportamentais durante a transição da infância para a adolescência. Na adolescência, os sintomas do TDAH tendem a se reduzir,
principalmente os ligados a hiperatividade e impulsividade, porém estima-se que entre 60% permanece na vida adulta (Schmitz; Polanczyk; Rhode, 2007).
Polanczyk, et al. (2009) afirmam que em adolescentes com TDAH, há prevalência de 10 a 20% para depressão, 25% para comorbidades relacionadas a transtornos de ansiedade e, entre 10 a 25% para transtornos de aprendizagem. Além disso, os autores pontuam que os transtornos disruptivos
do comportamento tem incidência entre 30 e 50% dos casos. Os fatores emocionais gerados pelas dificuldades de relacionamentos familiares e na escola tornam esta faixa etária propícia a conflitos com a lei e para comportamentos de risco, tais como uso de drogas. Além disso, as dificuldades de aprendizagem enfrentadas por adolescentes com TDAH estão relacionadas com maior incidência de fracasso escolar (Barkley et al., 2004).
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