A Luta Com os Pensamentos

Parte da experiência de ter uma mente humana é estarmos o tempo todo tendo novos pensamentos. Alguns têm um conteúdo bom e agradável, outros são neutros, e há aqueles que podem ser difíceis e até indesejáveis. É compreensível tentar afastar os pensamentos difíceis ou evitar “pensá-los”, mas o problema de lidar com eles dessa forma é que, muitas vezes, isso resulta em mais sofrimento. Em vez de desaparecerem, esses pensamentos podem se tornar ainda mais frequentes ou até influenciar nossas escolhas, levando-nos a evitar determinadas situações apenas para não tê-los.
Quando tentamos suprimir um pensamento, frequentemente ele volta com mais força. Esse fenômeno, conhecido como “efeito rebote”, ocorre porque, ao focarmos nossa atenção em não pensar em algo, acabamos reforçando sua presença. Por exemplo, se alguém disser “não pense em um elefante rosa”, a imagem do elefante surge imediatamente na mente. O mesmo acontece com pensamentos incômodos: ao resistirmos a eles, nossa mente tende a reproduzi-los com ainda mais insistência.
Além disso, quando evitamos certas situações ou tomamos decisões apenas para fugir de pensamentos desconfortáveis, podemos limitar nossa vida de maneiras significativas. Se alguém tem medo de falhar e, por isso, evita desafios, essa tentativa de controle pode levar a uma vida restrita, com menos oportunidades de crescimento e realização. O sofrimento não vem apenas dos pensamentos em si, mas do impacto que eles podem ter sobre nossas escolhas e comportamentos.
Diante desse cenário, o que pode ser feito? Uma alternativa para lidar com esses pensamentos é um dos seis processos da Flexibilidade Psicológica, conceito central da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT). Em vez de tentarmos controlar um pensamento ou sermos completamente dominados pelo que ele diz, podemos simplesmente notar sua presença sem nos identificarmos com ele. Dessa forma, criamos espaço para agir de acordo com nossos valores, mesmo na presença de pensamentos difíceis.
Uma forma de desenvolver essa habilidade, trabalhada em terapia, é através do autoconhecimento, explorando a história desse pensamento e de outros semelhantes ao longo da vida do paciente, de que forma ele influenciava o paciente a agir nas situações em que aparecia e para quais contextos ele foi útil ou prejudicial. Fazendo isso, não significa que os pensamentos difíceis não voltem ou parem de ser incômodos, mas sim que podemos desenvolver uma nova forma de nos relacionar com eles, dando abertura para a sua presença e reduzindo seu impacto sobre nossas escolhas e ações, ganhando mais liberdade para agir com consciência e intencionalidade.