Você sabe diferenciar quando é tristeza ou depressão?
Cada vez mais se fala sobre depressão. Não é incomum numa conversa descompromissada com um colega de trabalho ou de estudo ouvirmos a seguinte frase: “hoje acordei um pouco deprimido”. O que será que esse comentário quer dizer? Tratar-se de depressão mesmo ou seria apenas tristeza?
Hoje assistimos a uma maior penetrância do vocabulário médico-psiquiátrico dentro do nosso cotidiano. Utilizar uma gramática de termos como depressão, ansiedade e compulsão é cada vez mais comum na expressão de nossas experiências subjetivas. Devemos olhar com um certo cuidado para esse fenômeno. Termos médicos como a depressão não devem ser utilizados de maneira indiscriminada, uma vez que a depressão é considerada um fenômeno patológico da vida mental. Seu uso deverá ser restrito para estados afetivos, cuja experiência seja impactante a ponto de ser necessário algum tipo de intervenção em termos de saúde mental. Portanto, depressão não é uma palavra para designar experiências negativas ou tristes eventuais de nossa vida, mas ser reservada para um estado patológico cuja atenção em termos de saúde mental se torna necessária. O nome que devemos utilizar ao referir sobre nossas experiências negativas é a tristeza.
Tristeza e depressão são experiências subjetivas muito diferentes. A tristeza é um evento usual e corriqueiro da nossa vida; trata-se de uma experiência subjetiva inerente ao ser humano enquanto tal. Sentir-se triste, desanimado, cabisbaixo frente a alguma negativa que a vida nos tenha dado ou a um período de vida mais estressante (como a pandemia pelo COVID-19) é um fenômeno natural.
Devemos considerar que o ser humano não é uma unidade estável, mas é melhor compreendido um fluxo afetivo móvel e variável. Assim, tristeza, felicidade e sentimentos neutros são parte da experiência humana. Inclusive, estudos recentes nas neurociências revelam que nossos sentimentos e percepções são sobretudo relacionais. Ou seja, é através da comparação com outros estados mentais que um novo estado pode surgir. Portanto, se nos sentimos tristes é porque outrora nos sentimos felizes. Assim como, se nos sentimos felizes em dado momento, em outro não estávamos.
A tristeza, portanto, é um estado momentâneo natural no fluxo das emoções humanas. Algo bem diferente da depressão. Se podemos entender o ser humano como um fluxo de movimentos, desejos, sensações e sentimentos, a depressão é um estado de parada de movimentação. É uma condição patológica e não transitória marcada por uma constante tristeza, falta de vontade, culpabilização e falta de energia. Aqui vemos que a tristeza é um elemento do quadro depressivo – e não o quadro todo – assim como vemos uma característica essencial de um episódio depressivo: sua constância. A tristeza não patológica é estado eventual e transitório. A tristeza dentro de um episódio depressivo é pervasiva e permanente. Dias, semanas passam e aquela sensação de angústia e de tristeza permanece cravada em nosso peito.
Portanto, não devemos nos culpar ou nos preocupar em excesso caso estejamos tristes eventualmente algum dia. Sobretudo se estiver relacionado a algum evento desencadeante. Acordar um dia triste não quer dizer que estejamos deprimidos, apenas estamos experimentando um evento natural da existência humana. Nas próximas horas ou dias essa tristeza irá embora e seremos invadidos por outras experiências subjetivas. Entretanto, caso essa tristeza dure dias, semanas e haja uma imobilização afetiva em torno dessa negatividade, talvez, estejamos diante de um quadro depressivo.
O objetivo deste texto é o de marcar que não devemos classificar qualquer tristeza como depressão. Ficar triste é um estado natural e inevitável da experiência humana. Uma maior preocupação deverá ocorrer caso essa tristeza seja pervasiva e constante ao longo de vários dias e semanas. Talvez, esse seja um momento para procurar um profissional de saúde mental e buscar ajuda.
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