Uso de Álcool e outras drogas por Idosos
Em diversos países do mundo, inclusive no Brasil, está ocorrendo um fenômeno conhecido como envelhecimento populacional. Com a urbanização das cidades e entrada das mulheres no mercado de trabalho, a taxa de natalidade está diminuindo, com consequente redução na proporção de crianças e jovens na população. Concomitante a esse fato existe um considerável aumento da expectativa de vida em muitos países ocidentais. A expectativa de vida ao nascer no Brasil era de 69,8 anos em 2000 e estima-se que até 2030 seja de 78,64 anos de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de 2017 (IBGE). Esse fato se dá devido às melhores condições de saneamento básico e escolaridade, além de avanços tecnológicos e desenvolvimento científico.
Além do fato da população idosa estar em constante crescimento, os idosos e adultos mais velhos têm importantes diferenças culturais quando comparados às gerações nascidas anteriormente. Essa geração foi protagonista de movimentos sociais e mudanças comportamentais significativas, repercutindo na cultura e em hábitos da sociedade inteira.
Em décadas anteriores o uso prejudicial de substâncias químicas por idosos não era um fenômeno frequente, porém devido às mudanças comportamentais e culturais ocorridas na segunda metade do século passado, os idosos da atual geração tiveram mais contato com drogas e possuem uma conduta diferenciada diante dessa questão. O que torna mais frequente o uso de substâncias químicas nessa geração.
O uso de drogas por idosos é considerado por alguns autores como uma “epidemia invisível” por não causar tantos danos à sociedade (idosos geralmente não cuidam de crianças, não dirigem e não trabalham) e esse fato pode fazer com que a questão seja negligenciada pelo governo e passe despercebida pelas políticas públicas existentes (GRAY, 2014).
Além do fato dessa geração ter tido mais contato com medicamentos e drogas ilícitas e de ter uma visão mais flexível sobre o tema, há outras questões que são estressoras aos idosos e se tornam possíveis motivadores para o uso abusivo de drogas, entre elas: doenças crônicas e consequentes dores, prescrição de diversos medicamentos, perdas financeiras e aposentadoria, mudanças de papéis na família e trabalho, lutos, diminuição da prática de atividades físicas, perda importante de apoio social, sentimento de inutilidade, tédio, isolamento social e conflitos internos.
Diante dessas situações estressoras, que de alguma forma podem atingir os idosos, o uso de drogas pode ser visto como a alternativa mais imediata que proporciona alívio e prazer. Outro fato que motiva o uso dessas substâncias por idosos é a atenuação das consequências negativas em longo prazo, visto que os idosos não pretendem construir família ou carreira.
Além dos fatores que motivam o uso de drogas, as consequências do uso de substâncias também se diferem de outras faixas etárias. Os idosos possuem vulnerabilidades específicas, principalmente ligadas ao aumento de problemas clínicos decorrentes do aumento da idade. Assim, a prescrição de vários remédios devido à presença de comorbidades aumenta o risco de interações medicamentosas; declínios em funções do corpo, como alterações metabólicas e da função cognitiva podem ser acentuadas com o uso abusivo de substâncias. O aumento do risco de quedas e acidentes pode ser ainda mais agravado, e a diminuição da massa corporal faz com que os idosos tenham uma menor tolerância à droga e sinta mais agudamente os efeitos de abstinência.
Há um estereótipo presente em nossa cultura, que relaciona o uso abusivo de drogas apenas como uma questão da juventude, sendo subdiagnosticado em outros grupos etários. Além disso, alguns sinais que indicam abuso de substâncias (gagueira, perda de equilíbrio, perdas cognitivas), são sinais comuns com a idade avançada, além de serem confundidos com outros diagnósticos como demência e/ou depressão.
Apesar de proporcionalmente o uso de substâncias químicas por idosos ser baixo quando comparado a outras faixas etárias, esse uso está em constante crescimento e pode causar prejuízos significativos para a população idosa quando é abusivo e não cuidado, pois idosos possuem vulnerabilidades específicas e dificuldades no tratamento.
Se precisa de ajuda ou está com dúvidas, não deixe de se consultar com profissionais que podem te ajudar.
Texto resumido e adaptado das fontes abaixo:
Schreiner, AC. Particularidades do uso de substâncias psicoativas por idosos – uma revisão. [Monografia]. Serviço de Psicologia e Neuropsicologia, Instituto e Departamento de Psiquiatria, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; 2017.
Referências:
Gray, MT. Habits, rituals, and addiction: an inquiry into substance abuse in older persons. Nursing Philosophy. 2014. 15(2), 138-151.
Hawn R. Substance Abuse in Older Adults: An Exploratory Study [tese]. Eastern Illinois University, Charleston, 2014.