Maconha pode viciar? Uma discussão fisiológica e comportamental
A Cannabis (conhecida como maconha) é um vegetal, que contém substâncias utilizadas para gerar diferentes sensações, dentre elas: tranquilidade, bem estar, riso fácil etc. Há uma linha de discussão que refere que ela não oferece riscos de dependência. As pesquisas sobre seus efeitos fisiológicos e comportamentais, porém, nos mostra que ela possui sim potencial adictivo.
No Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (APA, 2013), existe o transtorno por uso de cannabis, definido por pelo sofrimento clínico ou prejuízo na vida e pelo menos 2 dos seguintes sintomas: a Cannabis é usada em quantidade ou por período maior que o planejado; há vontade e tentativas sem sucesso de diminuir ou controlar o uso; muito tempo é gasto em atividades necessárias para se conseguir a droga, ou para se recuperar dos efeitos; fissura ou forte desejo de usar; uso contínuo que resulta em fracasso em realizar papéis importantes na escola, trabalho ou relacionamentos; uso contínuo, apesar de problemas sociais de relacionamentos recorrentes que são causados ou aumentados pelo comportamento de uso; importantes atividades sociais, profissionais ou de lazer são abandonadas ou reduzidas por causa da maconha; uso recorrente de Cannabis em situações nas quais isso representa perigo para a vida;
E ainda quando o uso de Cannabis é continuado apesar da consciência de ter um problema físico ou psicológico causado ou aumentado pelo uso; tolerância, definida por qualquer um dos seguintes aspectos: necessidade de quantidades progressivamente maiores de Cannabis para atingir a alteração no corpo ou ter o efeito desejado; efeito muito menor com o uso continuado da mesma quantidade de Cannabis; abstinência, manifestada por qualquer dos seguintes aspectos: síndrome de abstinência (sintomas negativos) característica de Cannabis; e a Cannabis (ou uma substância estreitamente relacionada) é consumida para aliviar ou evitar os sintomas de abstinência.
A maconha normalmente cria uma sensação prazerosa principalmente por um composto dela conhecido como THC (Tetrahidrocanabidiol) que ao chegar no cérebro, se liga a pequenos receptores (como pequenas fechaduras) que ao se conectarem com a substância THC liberam hormônios chamados GABA e Glutamato. Quando esses hormônios são disponibilizados em uma longa conexão cerebral conhecida como sistema mesolímbico (área tegmentar ventral conectada com núcleo accumbens, amígdala cerebral, córtex pré frontal e hipocampo) causam a sensação de prazer e euforia. Porém, além de prazer, essa liberação de hormônios tende a fazer com que o comportamento de uso e busca da substância se repita no futuro. A desregulação do equilíbrio natural deste sistema, em pessoas com condições genéticas, fisiológicas, ambientais, psicológicas e sociais com vulnerabilidade, pode levar a um padrão de adicção.
Um processo comportamental conhecido como condicionamento respondente também se mostra muito relevante para se compreender a motivação para uso. O condicionamento respondente ocorre quando uma coisa até então neutra é seguida por uma sensação forte (como o prazer da droga) e então ocorre uma associação. Após um ou alguns usos da droga depois daquela coisa neutra (como um contexto), e isso vai ser associado com a sensação da droga. Sempre que a pessoa tiver contato com aquele contexto específico ou encontrar aquelas pessoas que usou no passado, provavelmente o corpo vai se preparar para receber a substância (a partir da aprendizagem feita) e esse indivíduo provavelmente sentirá muita vontade de usar.