Transtornos de Personalidade Parte 2 – Neuroimagem
Nos últimos anos novas técnicas e modalidades de exames radiológicos foram desenvolvidas, aumentando nossa compreensão dos diversos transtornos mentais, inclusive dos Transtornos de Personalidade.
Exames de imagem mais sofisticados, como a Ressonância Magnética Funcional (fMRI), Ressonância Magnética Espectroscópica (MR spectroscopy) e a Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET), complementam com informações valiosas as técnicas de imagem previamente existentes (Tomografia Computadorizada e Ressonância Nuclear Magnética).
Modernas pesquisas que envolvem essas imagens estruturais e funcionais do cérebro podem ajudar a determinar mecanismos neurais específicos que estejam prejudicados em cada um dos Transtornos de Personalidade.
O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), por exemplo, é caracterizado por deficiências severas na regulação das emoções e no controle de impulsos, frequentemente resultando em relações turbulentas e comportamentos agressivos, auto-agressivos e auto-destrutivos.
Estudos de neuroimagem no Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) encontraram alterações (quando comparados a indivíduos sem o transtorno) nas áreas cerebrais associadas à cognição, afeto, regulação da emoção e impulsividade, como córtex pré-frontal, cingulado anterior, corpo caloso, istmo e lobo temporal, incluindo amígdala e hipocampo.
Os córtices pré-frontais são considerados críticos para controle cognitivo do comportamento e/ou impulsividade e regulação da emoção, áreas de funcionamento que são notadamente deficientes em pacientes com Transtorno de Personalidade Borderline (TPB).
O acometimento do córtex pré-frontal em pacientes com TPB faz com que esses indivíduos tenham menor capacidade de avaliar as consequências de longo prazo de suas escolhas em relação ao desejo de recompensas imediatas, levando ao comportamento impulsivo.
O mal funcionamento de muitas dessas áreas está relacionado a problemas no processamento do conhecido neurotransmissor serotonina, que sabidamente tem papel crucial no funcionamento do sistema límbico (conjunto de estruturas responsável pela regulação das emoções no cérebro.
Já no Transtorno de Personalidade Antissocial (TPAS), conhecido popularmente como “psicopatia”, observa-se déficits no processamento de informação emocional e de funções executivas. Essas atividades são coordenadas pelos circuitos pré-frontais.
Um estudo feito por Raine em 2000 mostrou que homens com TPAS possuem redução significativa de massa cinzenta no lobo frontal quando comparados a pacientes sem o transtorno (dependentes de substância ou portadores esquizofrenia). Posteriormente outros pesquisadores complementaram esse achado, demonstrando diversas alterações na atividade do lobo frontal de pacientes com TPAS, quando processando estímulos emocionais.
Esses estudos mostram em primeira mão as alterações cerebrais diretamente relacionadas à “frieza emocional” dos psicopatas.
O mesmo padrão se repete para outros transtornos de personalidade, como o Transtornos de Personalidade Esquizotípica (TPE), nos quais os estudos de neuroimagem funcional conseguem demonstrar alterações do funcionamento cerebral em áreas diretamente relacionadas aos sintomas que observamos clinicamente nos pacientes.
A riqueza de detalhes trazida por esses estudos nos ajuda a desenvolver tratamentos cada vez mais eficazes e cuidar cada vez melhor dos pacientes. Fascinante!
2 Comments
Nathalia
Boa noite, quais seriam os exames mais adequados para detectar alteraçoes em pacientes Border que não respondem ao tratamento medicamentoso?
Dr. Renato Mancini
Isso varia conforme cada caso, Nathalia.
É a avaliação clínica minuciosa do psiquiatra que irá determinar os exames complementares necessários.