Transtorno de Personalidade Esquizotípica: quando ser “esquisito” pode indicar um problema
Cada pessoa tem um jeito de ser, um estilo e visão de mundo. Algumas delas, porém, podem destoar de forma significativa do esperado socialmente e culturalmente e apresentar um transtorno de personalidade (alteração na forma de forma de ver o mundo, emoções, relacionamentos e controle de impulsos) conhecido como transtorno de personalidade esquizotípica.
O Transtorno de Personalidade Esquizotípica (TPE) tem como característica essencial um padrão geral de dificuldades de relacionamentos sociais, dificuldades de ter intimidade nas relações, e distorções na forma de pensar ou de ver o mundo, além de comportamento excêntrico. Este padrão se inicia no começo da vida adulta e possui também cinco ou mais dos seguintes sintomas:
Ideias de referência (interpretações erradas de eventos que acontecem próximos no tempo como tendo um sentido especial e incomum para aquela pessoa); crenças estranhas ou pensamento mágico que influenciam o jeito da pessoa agir e que não são coerentes com a cultura ou subcultura daquele indivíduo (como superstições muito diferentes, crença em prever o futuro, sexto sentido); experiências de sensações incomuns, como ilusões corporais; pensamentos e discursos lidos como estranhos pelo grupo social original (vago, prolixo e com detalhes excessivos, uso de metáforas excessivas, ou muito elaborado e artificial);
Ou ainda: desconfiança ou pensamentos de perseguição; emoções inadequadas ou reduzidas; comportamento e aparência estranha, excêntrica ou peculiar (roupas que são lidas como atípicas para a maioria dos contextos e ausência de sensibilidade a convenções sociais como cumprimentar); ausência de amigos próximos ou confidentes que não sejam parentes de primeiro grau; ansiedade sobre interações relacionada a temores de perseguição e desconfiança frequente (American Psychiatric Association, 2013).
Existem diversas hipóteses para a origem do TPE, e por isso ela foi divida em dois subtipos clínicos: o primeiro é a esquizotipia do desenvolvimento do cérebro, que tem sua origem em elementos genéticos, de gestação e fatores pós-nascimento, que tem um padrão comportamental relativamente estável, correlação com esquizofrenia (transtorno que tem presença de pensamentos distorcidos da realidade e distorções como ouvir vozes ou ver coisas não presentes), e que possui alta chance de resposta a medicação;
O outro tipo é definido como “pseudoesquizotipia” que não possui relação genética com esquizofrenia e tem origem em dificuldades psicossociais (de história de vida e relação da pessoa com o ambiente), demonstra maiores flutuações dos sintomas e tende a ter os sintomas diminuídos com intervenções psicossociais (ambientais e psicoterápicas) (Raine, 2006).
Assim como qualquer sofrimento intenso ou prejuízo na vida por dificuldades de ordem emocional ou comportamental, o TPE deve ser corretamente diagnosticado e tratado para que se melhore a qualidade de vida do sujeito.
Bibliografia
American Psychiatry Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental disorders – DSM-5. 5th.ed. Washington: American Psychiatric Association. 2013
Raine A. Schizotypal personality: neurodevelopmental and psychosocial trajectories. Annu Rev Clin Psychol.;2:291-326. Review. 2006.