Transtorno de estresse pós traumático: uma visão comportamental.
Algumas pessoas experienciam traumas muito intensos emocionalmente. Algumas delas, porém, acabam sofrendo mais do que emoções intensas que tipicamente as pessoas sentem, se enquadrando no que chamamos de Transtorno de Estresse Pós-Traumático.
O Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) é o desenvolvimento de sintomas específicos após a exposição a um ou mais eventos traumáticos (que podem ser, por exemplo, episódios de ameaça de morte, lesão grave ou violência sexual). Esses sintomas podem incluir pelo menos um de: lembranças intrusivas angustiantes, recorrentes e involuntárias sobre o evento traumático; sonhos angustiantes recorrentes nos quais o conteúdo e sentimentos do sonho são relacionados ao trauma; reações de flashback e dissociação em que o indivíduo se sente ou age como se estivesse passando pela situação de trauma novamente; sentimento de sofrimento intensos ou prolongado e sintomas físicos frente a situações ou eventos que sejam parecidos ou lembrem o trauma.
Observam-se também: comportamentos de evitar tudo que se relacione de alguma forma ao evento traumático (como uso de estratégias para evitar lembranças, pensamentos ou sentimentos ou de lugares, pessoas e atividades). Outro ponto é a distorção da forma de pensar e agir, com tendência a ter dificuldade de se lembrar do evento, acreditar em ideias longe da realidade sobre o trauma, (como por exemplo, acreditar que nunca mais deve confiar nas pessoas e que o corpo está arruinado para sempre, além de tendência a ter pouco interesse em atividades e relacionamentos prazerosos). É comum também perturbações do humor (irritação, medo), comportamento autodestrutivo, muita preocupação e alterações no sono e concentração. Esses sinais precisam estar presentes há pelo menos um mês e causar sofrimento intenso e prejuízo social profissional ou qualquer área da vida importante para o indivíduo (APA, 2013)
Do ponto de vista comportamental, existem várias explicações para diferentes partes do transtorno, mas três processos comportamentais são particularmente importantes: o processo de condicionamento reflexo, reforçamento negativo e generalização.
No condicionamento reflexo, estímulos neutros (como por exemplo um lugar) após serem sucedidos por uma situação traumática (que causa sentimentos intensos e dano), são relacionados entre si. Após essa experiência, o estímulo neutro passa a trazer sensações muito parecidas ao do trauma por meio desta associação. No caso do TEPT, diversos estímulos até então neutros (exemplo: pessoas, lugares ou situações) são fortemente associados à situação traumática, se tornando, então, estímulos que trazem uma situação muito parecida com a do trauma. Por um processo de generalização, às vezes, até mesmo estímulos parecidos com esses lugares e pessoas também trazem sentimentos semelhantes ao do trauma. Por exemplo, após passar por uma situação de trauma em um prédio verde (que até então não trazia nenhuma sensação) a pessoa passa a ter uma aversão e sentimentos parecidos com o do trauma, sempre que ficar próxima a cor verde. Por meio da generalização até tons parecidos com o verde podem também trazer sentimentos parecidos.
Reforçamento negativo é quando um comportamento é selecionado e repetido no futuro por ter como consequência a remoção de algum estímulo desagradável. Quando algo gera desconforto, ou nos coloca em risco, normalmente isso evoca na pessoa uma tendência a encontrar uma forma de remover ou se afastar da causa do mal estar. Tudo que fizer com que a pessoa consiga se afastar com sucesso da causa do mal estar, tende a ser repetido no futuro. Então, a partir da pessoa do exemplo anterior, cancelar qualquer convite a ir em algum local que tenha a cor verde, ou evitar passar por caminhos que tenham coisas verdes podem ser comportamentos que tenderão a se repetir do futuro por conseguir evitar com sucesso a exposição a esses estímulos associados com o trauma.
A partir do desenvolvimento do TEPT, existem diversas opções de tratamentos medicamentos, e as psicoterapias, especialmente a analítico comportamental e cognitivo-comportamental possuem ferramentas para auxiliar o paciente a tratar este transtorno de forma adequada.
Bibliografia
American Psychiatry Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental disorders – DSM-
5. 5th.ed. Washington: American Psychiatric Association, 2013.