Thomas Szasz e a antipsiquiatria
Thomas Szasz foi um psiquiatra húngaro-americano, reconhecido pela sua crítica aos fundamentos morais e científicos da psiquiatria nascido de uma família judaica em Budapeste no ano de 1920. Aos 18 anos mudou-se para os Estados Unidos, formando-se em medicina em 1944. Publicou em 1961 o livro “O Mito da Doença Mental”, que lhe rendeu muita fama e controvérsia.
O Mito da Doença Mental
Szasz defendia que o que chamava-se de Doença Mental seriam ações ou padrões de comportamento considerados socialmente perturbadores, apenas agrupados em síndromes. Para Szasz, doenças, por definição, requereriam anormalidades biológicas afetando tecidos ou órgãos. Uma vez que doenças psiquiátricas afetariam apenas a um construto que chamamos de mente, a própria noção de doença psiquiátrica seria impossível. Enfim, se a psiquiatria não lida com doenças, como explicar as intervenções aplicadas nos pacientes, frequentemente de maneira involuntária, nos últimos séculos? A prática de Thomas Szasz era voltada para o tratamento exclusivamente voluntário de pacientes, sem o uso de medicações psiquiátricas ou intervenções como terapias de choque.
As ideias de Szasz criaram ramificações para o direito e sociedade civil, incluindo discussões sobre a validade das internações involuntárias, a validade da inimputabilidade nos tribunais, o direito à morte e ao uso de substâncias. Foi extremamente influente nos Estados Unidos em especial dentro do movimento denominado pelos psiquiatras ortodoxos como “antipsiquiatria”. A discussão chegou até dentro da Corte americana, mudando a maneira como os tratamentos podem ou não ser impostos às pessoas. Na época, os pacientes poderiam ser internados à força uma vez que fossem considerados “sujeitos apropriados para custódia e tratamento”.
Acima de tudo, o tema central da discussão de Szasz era a liberdade. Foi extremamente contra, durante toda a vida, o tolhimento da liberdade individual, seja pela internação e tratamento involuntários. Defendeu fervorosamente o direito à escolha individual, como no direito ao suicídio. Para ele, se cada um tem o direito à vida, deve ter também o direito à própria morte. Faleceu em 2012, aos 92 anos: suicidou-se cerca uma semana após uma queda em que fraturou sua coluna.
Atualmente ainda se discute muito a Etiologia (a causa ou origem) do que chamamos de Transtornos Psiquiátricos. O próprio termo, “transtorno”, leva esse nome pelo fato das alterações psiquiátricas não terem bem definidas sua causa. Considera-se que as alterações observadas na psiquiatria tem uma etiologia multifatorial, com predisposições genéticas e fatores psíquicos e sociais que desencadeiam e permitem a existência e continuação dos sintomas, os quais trazem sofrimento para si ou para os demais. Por fim, vale ressaltar que a presença de sofrimento para si ou para os outros é fundamental na definição de um transtorno, requerendo, portanto, algum tipo de tratamento. Isso reforça o caráter social da psiquiatria. Considerar os transtornos psiquiátricos é, sempre, considerar o ambiente social do indivíduo.
Bibliografia:
Williams, A. R., & Caplan, A. L. (2012). Thomas Szasz: rebel with a questionable cause. The Lancet, 380(9851), 1378–1379. doi:10.1016/s0140-6736(12)61789-9
Pickering, N. J. (2013). Doubting Thomas. Journal of Medical Ethics, 39(10), 658–659. doi:10.1136/medethics-2012-101268
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