Sexualidade & Síndrome de Down: um encontro possível?
Nas últimas semanas, discutimos o quão importante é estimular e oferecer condições para que as pessoas com Síndrome de Down, assim como todos os sujeitos no mundo, possam exercer da melhor maneira possível sua autonomia.
Neste sentido, frequentemente surgem dúvidas como: de que maneira uma pessoa com deficiência poderia praticar sua sexualidade? É seguro realmente deixar que pessoas com deficiência intelectual tenham relacionamentos sexuais?
Primeiramente, é importante lembrar que a presença de uma deficiência intelectual não inibirá os desejos sexuais e amorosos de uma pessoa. No Brasil, um estudo realizado pela Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down¹, com 376 pais de pessoas com a Síndrome, mostrou que 70% dos indivíduos pesquisados acreditavam que a sexualidade de seus filhos era semelhante à de outras pessoas.
Contudo, outros estudos² indicam que ainda é comum a prática sexual de uma pessoa com deficiência ser compreendida por educadores e familiares de maneira “selvagem” ou “excessivamente fundadas na afetividade”.
Abrem-se então duas grandes oportunidades: desmistificar com fatos e dados a possibilidade de prática sexual das pessoas com deficiência, além de sistematizar estratégias educativas para que as próprias pessoas com Síndrome de Down possam exercer sua sexualidade de maneira segura.
Entre as pessoas com Síndrome de Down podem ser verificados diferentes níveis de déficits intelectuais, desde casos leves, onde são capazes de gerenciar seus comportamentos sexuais e sociais, a casos opostos com alterações significativas na inteligência, presença de respostas impulsivas, dificuldade em comportar-se de maneira socialmente adequada, com alterações na comunicação e compreensão de interações sociais.
Contudo, é importante reiterar que frequentemente nos casos considerados mais “graves”, não são encontradas alterações cerebrais ou cognitivos suficientemente capazes de comprometer seu comportamento. Tais alterações podem ser decorrentes de um ambiente pouco estimulante socialmente sem a presença de uma educação sexual adequada a seu nível cognitivo.
O silêncio e a repressão são formas pouco saudáveis de lidar com a sexualidade. Dessa forma, a educação sexual (presente como um item global na evolução psicossexual do indivíduo) permite a correta aceitação de regras sociais e definição de valores que certamente conduzem a prática sexual de maneira autônoma e segura.
A educação sexual deve fazer parte da construção gradativa do ser humano, favorecendo uma personalidade psicologicamente sadia e socialmente adequada. Afinal, quem não deseja ser feliz?
Referências:
Schiavo MR, coord. Síndrome de Down. Brasília (DF): Fundação Brasileira das Associações de Síndrome de Down; 1999. p. 157
Giami A, D’Allonnes CR. O Anjo e a fera: as representações da sexualidade dos deficientes mentais pelos pais e educadores. In: Neto MID, editor. A negação da diversidade. Rio de Janeiro: Achiamé/ Socius; 1984
Pan, José Ramón Amor. Educação sexual para pessoas com síndrome de Down: Propostas de orientação. Espanha, 200.