TRANSTORNO DE HUMOR BIPOLAR
PARA ALÉM DE SIMPLES ALTOS E BAIXOS
O transtorno de humor bipolar é um transtorno mental que levanta uma série de mitos a seu respeito.
Afinal, frequentemente pode-se usar a nomenclatura do transtorno bipolar para caracterizar, no cotidiano, pessoas de gênio forte, temperamento incisivo, nervosas ou explosivas demais em um momento, e mais calmas em outro. Mas será que apenas alterar os estados de humor exaltado e a calmaria é o bastante para ser bipolar?
O que caracteriza verdadeiramente esse transtorno? Quais as consequências que ele traz para a vida da pessoa que o vivencia? E quais as alternativas de tratamento e de cuidado para essas pessoas?
A seguir veremos perguntas e respostas a fim de esclarecer um pouco mais a respeito desse transtorno, cujo nome já se encontra disseminado, mas por ser aplicado de maneira incorreta, aumenta o preconceito das pessoas e causa confusão em quem realmente precisa receber ajuda.
O que caracteriza o transtorno de humor bipolar?
O transtorno de humor bipolar é identificado por manifestação relativamente duradoura do estado de mania, geralmente por em média duas semanas, a depender de cada indivíduo.
A mania é caracterizada por um comportamento onde os sentimentos e reações se manifestam de forma mais exacerbada do que de costume para aquela pessoa.
É descrito com forte sentimento de euforia, uma alegria ou felicidade que não será justificável pelos acontecimentos ao redor. Além da euforia, o estado de mania por vezes pode aparecer na forma de agressividade. Uma maneira mais áspera de falar, o uso de palavras mais duras, mais diretas ou agressivas, também sem conexão com algum acontecimento específico que o sujeito tenha experienciado. Sem ter conexão com uma discussão, por exemplo.
No estado de mania também pode estar presente uma sensação de poder fora do normal, na qual o sujeito se sente destemido, intrépido, poderoso. Engrandece suas características e capacidades. Assim sendo, coloca-se frequentemente em situações de risco, com menor cautela, receio ou medo. Ou torna-se arrogante em demasia durante esse sentimento de grandeza exacerbada.
Pode-se observar um aumento de gastos com compras, o que às vezes gera dívidas e prejuízos econômicos sérios.
Pode-se observar um comportamento mais sexualizado, tanto em homens quanto em mulheres, o que, pela menor crítica, pode causar algum prejuízo se somado ao sentimento de poder e falta de cautela, muitas vezes expondo o indivíduo à doenças sexualmente transmissíveis.
Essa desmedida, esses exageros, destemperos, seja no sentimento solar de euforia ou nas reações espinhosas de agressividade, para caracterizarem o transtorno de humor bipolar, devem obedecer a regra estarem diferentes do humor basal do indivíduo.
Devem se apresentar de forma diferente do que ele costuma ser e agir normalmente em relação ao mundo. É importante salientar que, se o indivíduo normalmente já costuma ser mais aberto, comunicativo, falante, ou mesmo mais agressivo no falar e no agir, isso não quer dizer que ele esteja em uma crise de mania.
Como identificar uma crise de mania?
O indivíduo passa a manifestar comportamentos inadequados em público, como por exemplo fazer comentários indecorosos.
Sua fala pode tornar-se mais acelerada, mudando de um assunto para o outro sem que o interlocutor consiga acompanhar o curso do que ele diz. O indivíduo pode apresentar fuga de ideias, onde os pensamentos vem num turbilhão e por isso a fala torna-se mais rápida e de difícil compreensão de seu conteúdo.
Em outras situações, dirigindo um automóvel, por exemplo, pode, diferente do normal, passar a arriscar-se mais, dirigindo em alta velocidade.
Geralmente, quando interpelado pelas outras pessoas a respeito de seus comportamentos inadequados, o sujeito em crise de mania pode reagir de forma cínica, mostrando não se importar, ou mesmo reativa, reagindo de forma agressiva, com ou sem a presença de violência física.
Onde a depressão entra no transtorno de humor bipolar?
Até agora falamos apenas do estado maníaco pois é ele o indicador do transtorno bipolar. A depressão sozinha, sem a presença do estado maníaco, é designada como depressão unipolar apenas. Não apresenta alterações entre os estados de humor e é tratada com medicamentos diferentes, visando a estabilização do humor e afastar o risco de suicídio presente na depressão.
O estado depressivo é caracterizado predominantemente por uma diminuição de energia do indivíduo. Este torna-se, diferentemente do habitual, mais letárgico, com alterações no sono, podendo apresentar insônia ou dormir mais do que o normal. Também ocorrem alterações no apetite, a pessoa pode passar a comer menos ou mais do que de costume, o que se observa em ganho de peso ou perda de peso a depender do caso.
Observa-se também um autocuidado prejudicado, a pessoa passa a não se importar com cuidados básicos que antes eram importantes para si, pode deixar de tomar banhos, descuidar da aparência, deixar de se barbear, de pentear os cabelos, entre outros sinais, variando sempre conforme os hábitos costumeiros da pessoa. Antes mais cuidadoso, o sujeito passa a não se importar consigo próprio.
O que nos leva ao estado de apatia, muito comum nos estados depressivos. Muitas vezes a pessoa se torna apática, indiferente ao mundo ao redor. Esse sinal é facilmente identificável quando o indivíduo passa a deixar de fazer atividades que antes lhe eram prazerosas e boas.
Nem todo deprimido vai chorar, como pode ser comum de se pensar. Muitas pessoas, diferentemente do que de costume, ficam mais fechadas, mais reclusas, procuram estar mais sozinhas, ainda que o choro não apareça.
Como ajudar alguém que esteja vivendo um possível transtorno de humor bipolar?
Inicialmente, é preciso afastar os riscos. Em se tratando de o transtorno se manifestar inicialmente como uma depressão, a pessoa passa mais tempo na cama, parece mais “pra baixo” do que o habitual por um período médio de 10 dias consecutivos em média, o que sempre pode variar, mas, muito importante sempre insistir, um estado de tristeza de 3 dias, por exemplo, não caracteriza depressão.
Para afastar a pessoa dos riscos, procure não deixá-la sozinha, afaste objetos que possam ferir ou machucar, muitas vezes objetos do dia a dia como apontadores de lápis, devido à sua lâmina interna que por vezes é usada para autolesão, ou giletes, facas, entre outros com potencial lesivo.
Atente que a pessoa não tenha acesso fácil à janelas ou sacadas sem redes de proteção. Atente que a pessoa não tenha acesso a armas de fogo.
No caso de o transtorno se manifestar inicialmente pelo estado de mania, a regra de ouro é a mesma. Afastar os riscos.
Se a pessoa estiver em seu ambiente de trabalho, é possível que alguém tenha notado alterações no estado do indivíduo nas últimas semanas.
Se não houver maneira de ter acesso a esses dados, quando a crise de mania se tornar mais visível, pode ser que o indivíduo dê entrada em algum hospital geral, serviço de saúde, ou mesmo os ambulatórios das empresas, como maneira mais rápida de conter a situação de mania e contornar seus efeitos.
Tendo em vista isso, encaminhe o indivíduo à um consultório psiquiátrico o mais rápido possível, dentro das alternativas existentes que puderem ser acessadas, por vezes o SAMU (serviço de atendimento médico de urgência) costuma ser uma opção viável e sem custos.
Depois de recebido o diagnóstico de transtorno de humor bipolar, o que fazer para melhorar a qualidade de vida da pessoa?
Após o recebimento do diagnóstico de transtorno de humor bipolar, um plano de ação pode ser traçado, oferecendo um norte para os familiares do indivíduo e, sobretudo, oferecendo o cuidado para com ele.
Padrão ouro em tratamento do transtorno afetivo bipolar tem sido a combinação entre medicamentos estabilizadores de humor e psicoterapia. Os estabilizadores de humor, prescritos exclusivamente em consulta com psiquiatras, que irão acompanhar a resposta do indivíduo e sua adaptação. O remédio apresentando boa resposta, costuma ser mais fluente o trabalho em psicoterapia, e muito mais tranquila a vida da pessoa.
Com excelente prognóstico, o tratamento psicológico funciona auxiliando a pessoa a identificar os gatilhos dos estados maníacos e/ou depressivos. Com o tempo, o indivíduo vai se tornando capaz de identificar em que momentos o humor pode estar começando a se elevar, ou começando a se rebaixar.
Muito importante saber: em se tratando de transtorno de humor bipolar, o quanto antes o tratamento começar, melhor. As crises não acontecem do nada, elas vem numa crescente, aumentam devagar. E quando ocorrem, costumam gerar sofrimento muito intenso para a pessoa que o vivencia, e ainda mais, alguns prejuízos causados pela crise maníaca podem ser difíceis de serem revertidos, piorando a vida da pessoa no longo prazo. Psicoterapia, Acompanhamento terapêutico e acompanhamento médico. O transtorno de humor bipolar tem tratamento, tem solução. E o quanto antes for acompanhado, melhor.