Raiva: uma visão analítico comportamental
Sentir-se irritado é uma experiência humana compartilhada por todos. Com muita frequência, quando estamos irritados, tendemos a agir de forma mais impulsiva, e ter atitudes que nos arrependemos em seguida. Faz parte da humana condição senti-la, porém, considero que compreender o processo nos ajuda a entender como controlar e se preparar em situações em que reações desproporcionais possam ser pouco vantajosas para nós.
Raiva é um conjunto de sensações e comportamentos que costuma ocorrer nas situações nas quais algo ou alguém retira ou não fornece uma recompensa que normalmente ocorreria após um comportamento do sujeito. Exemplo: ao apertar o botão do controle remoto, o canal não muda e a pessoa experiência um conjunto de sensações que normalmente se chama raiva.
Outro momento comum na qual ela surge é quando somos atacados de alguma maneira, evocando também comportamentos e sensações semelhantes. Exemplo: durante uma situação em um diálogo com outra pessoa, uma delas é ofendida por algo que a outra disse, ou uma recebe algum tipo de agressão física. A experiência geral, nestes momentos é também da emoção raiva.
A raiva ocorre em graus muito diferentes, indo de uma leve irritação até a cólera e controle total do responder emocional. Essa diferença está diretamente ligada ao quão importante ou intensa foi a recompensa perdida, ou a agressão apresentada. Ou seja, quanto mais importante a recompensa perdida ou ameaça, maior a raiva (Millenson, 1975).
Outros exemplos de situações que causam raiva em humanos: quando um sistema de computador importante para de funcionar ou o rompimento de um vínculo afetivo. Ocorre também comumente quando nos sentimos prejudicados ou injustiçados nas relações, perdemos status ou poder, alguém que valorizamos ser atacado ou ameaçado pelos outros (Linehan, 2018)
Algo particularmente importante também ocorre nesses momentos. De acordo com os princípios básicos da ciência do comportamento, as condições que vivemos fazem com que nos motivemos a buscar coisas diferentes. No caso da raiva, nós naturalmente nos motivamos a atacar algo que esteja próximo. Ou seja, enquanto a raiva está presente, causar dano ao outro ou a algo próximo se torna recompensador e motivador para nós.
Esta é uma herança comportamental evolutiva que foi de extrema importância para nossa sobrevivência enquanto espécie, porém é pouco útil quando pensamos nas relações complexas que vivemos. Ter vontade de bater no computador que não funciona, por exemplo, é pouco produtivo hoje, mas no passado reagir a agressores próximos era importante.
Existem, porém, diversas estratégias para evitar se comportar de forma a gerar dano, e gostaria de comentar uma delas, a técnica STOP. O primeiro passo é: ao se perceber em uma situação muito difícil, como uma situação que traz uma grande Ira, e perceber que as emoções vão tomar o controle, simplesmente parar absolutamente todos os comportamentos.
Não reaja imediatamente e ceda ao impulso de atacar. Fique paralisado. Já no segundo momento, dê um passo mental ou físico para trás e reveja a situação. Você não precisa responder a situações difíceis na hora. Respire profundamente repetidas vezes, até sentir que recuperou o controle. Tente observar os fatos ao redor, pessoas e elementos na situação, para que tome uma decisão mais vantajosa possível.
É importante mencionar que o uso de substâncias, estado de sono e fome ou doença física são fatores que também devem ser considerados como eventos que nos deixam mais vulneráveis a responder emocionalmente, e por isso devem ser evitados em situações em que se precisa manter a calma.
Existem outras estratégias que podem funcionar melhor de acordo com o funcionamento comportamental de cada um. Se você ou alguém que conhece apresenta comportamentos de raiva excessivos, busque ajuda. Há estratégias eficazes na melhora do autocontrole.
Bibliografia
Linehan, M. M. Treinamento de Habilidades em DBT: Manual de Terapia Comportamental Dialética para o Terapeuta. 2. Ed. São Paulo: Artmed, 2018.
Millenson, J. R. Princípios de análise do comportamento. Brasília: Coordenada – Editora de Brasília. 1975.
1 Comment
Vania Alves
Me ajudou muito esta publicação
Obrigada