Por que é tão difícil tomar remédios?
É muito comum que pacientes apresentem algum tipo de resistência aos medicamentos e isso tem relação com alguns fatores, dentre eles: medo de ficar dependente dos remédios, dificuldade de lidar com os efeitos colaterais e (esta última mais subjetiva) associar ao remédio o fato de estar doente.
Aprofundarei esses 3 fatores.
Medo de ficar dependente: A grande maioria das medicações psiquiátricas não causa dependência. Mesmo os que têm risco de dependência, como os benzodiazepínicos, se usados corretamente e com parcimônia, têm seu risco diminuído. O que acontece em relação às medicações é que o tratamento precisa ser feito pelo tempo adequado pois, se os remédios são descontinuados antes do tempo, aumentam a chance de recaída do transtorno. Mas isso não é dependência e sim um tratamento que foi interrompido inadequadamente.
Quando o medicamento é descontinuado após o tempo certo e, geralmente, gradualmente, a chance de recaída é menor e o paciente normalmente se adapta sem dificuldades à ausência do remédio.
Em alguns casos, quando a chance de recaída é muito grande sem a medicação, é preciso mantê-la a longo prazo, mas novamente isso não caracteriza dependência e sim um tratamento contínuo devido à gravidade do quadro.
Dificuldade de lidar com efeitos colaterais: Infelizmente muitas medicações psiquiátricas provocam efeitos colaterais, mas a grande maioria deles desaparece ou é atenuada após as primeiras semanas de uso.
Por isso, é importante tentar manter a medicação se o efeito colateral não for intenso. Contudo, se o efeito colateral continuar após as primeiras semanas, deve-se avaliar o custo-benefício daquela medicação.
Se o efeito colateral não for muito incômodo e o benefício for grande, isto é, o paciente ficou bem com a medicação, vale a pena tentar lidar com ele. Para isso existem medidas não farmacológicas ou então a associação de outro fármaco para tentar anular o efeito colateral indesejado. Porém, se realmente ele causar muito incômodo, optamos por trocar a medicação.
Associar ao remédio o fato de estar doente: Esse último talvez seja o fator mais importante, já que estudos científicos mostram que mesmo com a melhora do perfil de efeitos colaterais dos remédios nos últimos anos, a taxa de adesão medicamentosa não teve muita alteração, revelando que não é só o perfil farmacológico que influencia a aderência ao tratamento.
É comum depositar no remédio a crença de que está doente. Pode parecer óbvio, mas não é: suspender a medicação não vai fazer com que o transtorno suma, pelo contrário, pode causar uma piora do quadro.
Distanciar-se do transtorno através da recusa do tratamento medicamentoso revela uma dificuldade de lidar com o problema. Por isso, muitas vezes é necessário conversar com seu médico sobre a relação que você tem com o medicamento e com seu transtorno, sobre quais são suas crenças, dúvidas e inseguranças. Isso é muito importante pois pode ser tão terapêutico quanto o remédio em si!
1 Comment
Anete Mancini
Muito bom. Se tomamos medicamentos para evitar novo infarto, significa que somos doentes ou cardíacos? Obrigada!