O que fazer e o que não fazer diante da automutilação?
Nos últimos anos temos observado um grande aumento no número de pessoas que praticam automutilação, especialmente (mas não exclusivamente) entre a população mais jovem. Estudos tem mostrado que 1 a cada 5 pessoas com menos de 30 anos já praticou automutilação pelo menos uma vez na vida! Isso tem gerado grande preocupação nos pais, parentes e professores.
Seria interessante definirmos no início de nosso trabalho o que exatamente é a automutilação: são comportamentos propositais de agressão e lesão em relação ao próprio corpo, porém que não têm como objetivo o suicídio. As pessoas que praticam automutilação afirmam que o fazem para aliviar o sofrimento emocional. Ou seja, se agridem e se machucam como uma forma de lidar com sentimentos desagradáveis, como tristeza, ansiedade, angústia, raiva, vergonha, arrependimento, frustração, “vazio”.
É importante destacar que estudos mostram que mais de 90% das pessoas que praticam automutilação sofrem de algum transtorno psiquiátrico, como depressão, ansiedade, transtornos de personalidade, transtornos alimentares, transtornos de uso de substâncias, etc.
É comum também observar outros problemas relacionados à impulsividade, tais como, compras compulsivas e dependência de internet. Ademais, apesar de a automutilação ser diferente de tentativas de suicídio, é comum os dois comportamentos estarem presentes em uma mesma pessoa.
As formas de agressão podem variar: cortes (por exemplo, usando estiletes, giletes, lâminas de apontador), queimaduras (por exemplo, usando isqueiro, cigarro), furos (por exemplo, com agulhas), arranhões, mordidas, cutucar feridas, bater a cabeça ou outras partes do corpo contra a parede. É válido ressaltar que procedimentos estéticos que intencionam a modificação corporal, como tatuagens, piercings e uso de alargadores não são considerados formas de automutilação.
Em geral, as lesões são realizadas em áreas de fácil acesso como braços, pernas, abdome e tórax. É comum os jovens se envergonharem de tal ato e terem medo da reação das outras pessoas; por isso, automutilam-se em locais escondidos (como sozinhos em seus quartos ou no banheiro), usam roupas compridas (mesmo em dias muito quentes!) para esconder as cicatrizes, e têm medo de procurar por ajuda especializada.
Por isso, é muito comum pais, parentes e professores descobrirem “acidentalmente” esse comportamento. E nesse momento vem a questão: o que fazer e o que não fazer nesse momento?
O QUE FAZER?
- Converse com a pessoa de forma calma e tranquila.
- Mesmo não aceitando ou compreendendo seu comportamento, mostre que se você se importa com ele(a) e deseja ajudá-lo(a).
- Mostre que há pessoas que se importam com ele(a).
- Entenda que essa é uma forma que a pessoa encontrou para lidar com o sofrimento emocional.
- Não julgue o comportamento da pessoa.
- Mantenha uma postura acolhedora, com escuta atenta e respeitosa.
(Adaptado de Toste, 2010)
O QUE NÃO FAZER?
- NÃO reaja exageradamente, pois isso pode afastar o jovem e dificultar a formação de um vínculo.
- NÃO responda com pânico, repulsa, surpresa ou espanto.
- NÃO tente coibir o comportamento com ameaças.
- NÃO demonstre excessivo interesse pela automutilação (mas um pouco de interesse será necessário para manter uma postura acolhedora e entender a gravidade do problema).
- NÃO permita que o paciente reviva os episódios de automutilação com detalhes, uma vez que isso pode desencadear novos episódios.
- NÃO expor o jovem falando publicamente de seu comportamento.
- NÃO prometa que não irá contar a ninguém sobre a mutilação, pois será necessário procurar por ajuda.
(Adaptado de Toste, 2010)
E lembrem-se: é fundamental buscar ajuda de profissionais especializados. Estes poderão auxiliar no manejo e tratamento das automutilações, além de diagnosticar e tratar transtornos psiquiátricos presentes na pessoa.
Fontes:
Aratangy, EW. Como lidar com a automutilação – Guia prático para familiares, professores e jovens que lidam com o problema da automutilação. 1. Ed. – São Paulo: Hoegrefe, 2017.
Toste, J; Health, N. School Response to non-suicidal self-injury. The prevention researcher, volume 17 (1), 2010.
2 Comments
Cristiane
Ótimo texto!
Posso por favor copiar parte dele e passar para outras pessoas, claro que mantendo os dados de autoria e o endereço eletrônico.
Pouquíssimas vezes li algum texto sobre automutilação tão bom. Me senti como se estivesse conversando com meu psicólogo.
Desculpe o detalhe pessoal, mas o texto é realmente muito bom.
Renato Mancini
Pode sim, Cristiane. Além da autoria, por favor cite a fonte: Blog Mancini Psiquiatria e Psicologia – mancinipsiquiatria.com.br/blog
Obrigado e um abraço!