Por mais difícil que seja viver o processo de luto, por este implicar em uma perda significativa e um misto de sentimentos e mudanças nas vidas das pessoas enlutadas, pode ser dito que ele, de uma forma ou de outra, estará presente na vida de todo ser humano. Desde a infância até a velhice experimentamos perdas de todos os tipos e buscamos formas de lidar com elas.
Há, porém, uma forma de luto que se caracteriza pelo sofrimento e resinificação que ocorre antes da perda de fato, trata-se do luto antecipatório.
O Luto Antecipatório é um termo que foi conceituado pelo psiquiatra alemão Erich Lindemann durante o período da Segunda Guerra Mundial em que foi observado que as esposas dos soldados que iam para a guerra tinham dificuldades de os incluírem novamente em suas vidas quando estes retornavam. Isso se dava pelo fato destas esposas realizarem o processo de elaboração do luto de seus maridos ainda que eles não tivessem morrido, em grande parte a alta probabilidade destes não voltarem da guerra. Assim, este processo ocorre mais em função da separação do que da morte em si, pois a percepção da finitude que aparece frente à chance e a possibilidade de se perder alguém se mostra de maneira forte.
Ainda que o estudo de Lindemann se referisse a situações em que não havia doenças, mas sim separações que se davam entre pessoas em que uma delas se encontrasse em situação com alta chance de morte, de modo que a família passasse a elaborar o luto como maneira de enfrentar a eventual perda. Hoje sabe-se que o Luto Antecipatório também aparece em contextos onde há doenças envolvidas, como no caso de quadros em que estão envolvidos cuidados paliativos.
Algo que é questionado quando se fala deste tipo de luto é se o fato de sofrer antes atenua o sofrimento quando a perda de fato acontece. Alguns estudos apontam resultados neste sentido, porém não são unânimes. Worden (2013) aponta que é necessário levar em conta que o comportamento do luto é multideterminado, ou seja, há diversos fatores envolvidos que facilitam a elaboração dessa fase, incluindo ter algum anúncio prévio da morte e a oportunidade para fazer um luto pré-morte.
Nas situações de Luto Antecipatório o luto em si começa mais cedo, pois há a consciência e aceitação de que a pessoa morrerá, e ainda que em muitos casos haja alternância entre esta consciência e a negação, em diversos casos este momento é facilitado pelo período de antecipação, haja vista que assistir de perto o que ocorre com o doente traz a inevitabilidade da morte para mais perto.
Em contrapartida, em processos muito longos de doença e em que se vive o Luto Antecipatório, foi observado um aumento da ansiedade. Dependendo do tempo do Luto Antecipatório e da proximidade com a pessoa doente, a ansiedade tende a aumentar e acelerar. Do mesmo modo ocorre com a ansiedade conhecida como existencial, pois ao se deparar com a situação de ver alguém se deteriorando, muitas vezes o que ocorre é a identificação com o processo de achar que este também pode ser seu destino, daí o aumento da ansiedade.
Por outro lado, quando se vive a antecipação da morte de alguém uma característica que é comum é imaginar-se e preparar-se em um contexto em que a pessoa não estará mais presente. Neste sentido, é comum que as pessoas que ficam comecem a pensar como será sua vida a partir daí e se preparam para essa nova realidade.
Há ainda dois movimentos possíveis em um luto antecipatório. O primeiro, a pessoa que lida com o luto recolher-se emocionalmente muito cedo. Muito antes da pessoa morrer, e isso pode tornar o relacionamento embaraçoso, além de gerar culpa por de certa forma ter se “conformado” com a situação. A outra possibilidade é ocorrer o contrário. Quando o indivíduo se aproxima demais da pessoa que está indo embora a fim de prevenir sentimentos de culpa e perda, ao ponto de querer até intervir no tratamento do paciente. Em muitos casos este movimento pode estar ligado a sentimentos ambivalentes relacionados com a pessoa que está morrendo e a culpa que advém desses sentimentos.
Vale ressaltar que todo processo de luto traz sofrimento e a necessidade de se encaixar em um novo contexto. Caso seja algo que traga muita dificuldade, a ajuda profissional pode ser uma alternativa para enfrentar este processo.
NETO, Jorge Ondere; LISBOA, Carolina Saraiva de Macedo. Doenças associadas ao luto antecipatório: uma revisão da literatura. Psic., Saúde & Doenças, Lisboa , v. 18, n. 2, p. 308-321, ago. 2017 . Disponível em <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-00862017000200003&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 17 jul. 2020. http://dx.doi.org/10.15309/17psd180203.
WORDEN, J. W. Aconselhamento do luto e terapia do Luto: um manual para profissionais da saúde mental. 4ª ed. São Paulo: Roca, 2013.
Meu interesse em Psicologia nasce da minha curiosidade em compreender o comportamento humano e na habilidade e potencialidade que esta profissão oferece de uma escuta diferenciada.
Por mais difícil que seja viver o processo de luto, por este implicar em uma perda significativa e um misto de sentimentos e mudanças nas vidas das pessoas enlutadas, pode ser dito que ele, de uma forma ou de outra, estará presente na vida de todo ser humano. Desde a infância até a velhice experimentamos perdas de todos os tipos e buscamos formas de lidar com elas. Há, porém, uma forma de luto que se caracteriza pelo sofrimento e resinificação que ocorre antes da perda de fato, trata-se do luto antecipatório. O Luto Antecipatório é um termo que foi conceituado pelo psiquiatra alemão Erich Lindemann durante o período da Segunda Guerra Mundial em que foi observado que as esposas dos soldados que iam para a guerra tinham dificuldades de os incluírem novamente em suas vidas quando estes retornavam. Isso se dava pelo fato destas esposas realizarem o processo de elaboração do luto de seus maridos ainda que eles não tivessem morrido, em grande parte a alta probabilidade destes não voltarem da guerra. Assim, este processo ocorre mais em função da separação do que da morte em si, pois a percepção da finitude que aparece frente à chance e a possibilidade de se perder alguém se mostra de maneira forte. Ainda que o estudo de Lindemann se referisse a situações em que não havia doenças, mas sim separações que se davam entre pessoas em que uma delas se encontrasse em situação com alta chance de morte, de modo que a família passasse a elaborar o luto como maneira de enfrentar a eventual perda. Hoje sabe-se que o Luto Antecipatório também aparece em contextos onde há doenças envolvidas, como no caso de quadros em que estão envolvidos cuidados paliativos. Algo que é questionado quando se fala deste tipo de luto é se o fato de sofrer antes atenua o sofrimento quando a perda de fato acontece. Alguns estudos apontam resultados neste sentido, porém não são unânimes. Worden (2013) aponta que é necessário levar em conta que o comportamento do luto é multideterminado, ou seja, há diversos fatores envolvidos que facilitam a elaboração dessa fase, incluindo ter algum anúncio prévio da morte e a oportunidade para fazer um luto pré-morte. Nas situações de Luto Antecipatório o luto em si começa mais cedo, pois há a consciência e aceitação de que a pessoa morrerá, e ainda que em muitos casos haja alternância entre esta consciência e a negação, em diversos casos este momento é facilitado pelo período de antecipação, haja vista que assistir de perto o que ocorre com o doente traz a inevitabilidade da morte para mais perto. Em contrapartida, em processos muito longos de doença e em que se vive o Luto Antecipatório, foi observado um aumento da ansiedade. Dependendo do tempo do Luto Antecipatório e da proximidade com a pessoa doente, a ansiedade tende a aumentar e acelerar. Do mesmo modo ocorre com a ansiedade conhecida como existencial, pois ao se deparar com a situação de ver alguém se deteriorando, muitas vezes o que ocorre é a identificação com o processo de achar que este também pode ser seu destino, daí o aumento da ansiedade. Por outro lado, quando se vive a antecipação da morte de alguém uma característica que é comum é imaginar-se e preparar-se em um contexto em que a pessoa não estará mais presente. Neste sentido, é comum que as pessoas que ficam comecem a pensar como será sua vida a partir daí e se preparam para essa nova realidade. Há ainda dois movimentos possíveis em um luto antecipatório. O primeiro, a pessoa que lida com o luto recolher-se emocionalmente muito cedo. Muito antes da pessoa morrer, e isso pode tornar o relacionamento embaraçoso, além de gerar culpa por de certa forma ter se “conformado” com a situação. A outra possibilidade é ocorrer o contrário. Quando o indivíduo se aproxima demais da pessoa que está indo embora a fim de prevenir sentimentos de culpa e perda, ao ponto de querer até intervir no tratamento do paciente. Em muitos casos este movimento pode estar ligado a sentimentos ambivalentes relacionados com a pessoa que está morrendo e a culpa que advém desses sentimentos. Vale ressaltar que todo processo de luto traz sofrimento e a necessidade de se encaixar em um novo contexto. Caso seja algo que traga muita dificuldade, a ajuda profissional pode ser uma alternativa para enfrentar este processo. Se precisa de ajuda ou está com dúvidas, não deixe de se consultar com profissionais que podem te ajudar. Referências: NETO, Jorge Ondere; LISBOA, Carolina Saraiva de Macedo. Doenças associadas ao luto antecipatório: uma revisão da literatura. Psic., Saúde & Doenças, Lisboa , v. 18, n. 2, p. 308-321, ago. 2017 . Disponível em <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-00862017000200003&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 17 jul. 2020. http://dx.doi.org/10.15309/17psd180203. WORDEN, J. W. Aconselhamento do luto e terapia do Luto: um manual para profissionais da saúde mental. 4ª ed. São Paulo: Roca, 2013.
Por mais difícil que seja viver o processo de luto, por este implicar em uma perda significativa e um misto de sentimentos e mudanças nas vidas das pessoas enlutadas, pode ser dito que ele, de uma forma ou de outra, estará presente na vida de todo ser humano. Desde a infância até a velhice experimentamos perdas de todos os tipos e buscamos formas de lidar com elas. Há, porém, uma forma de luto que se caracteriza pelo sofrimento e resinificação que ocorre antes da perda de fato, trata-se do luto antecipatório. O Luto Antecipatório é um termo que foi conceituado pelo psiquiatra alemão Erich Lindemann durante o período da Segunda Guerra Mundial em que foi observado que as esposas dos soldados que iam para a guerra tinham dificuldades de os incluírem novamente em suas vidas quando estes retornavam. Isso se dava pelo fato destas esposas realizarem o processo de elaboração do luto de seus maridos ainda que eles não tivessem morrido, em grande parte a alta probabilidade destes não voltarem da guerra. Assim, este processo ocorre mais em função da separação do que da morte em si, pois a percepção da finitude que aparece frente à chance e a possibilidade de se perder alguém se mostra de maneira forte. Ainda que o estudo de Lindemann se referisse a situações em que não havia doenças, mas sim separações que se davam entre pessoas em que uma delas se encontrasse em situação com alta chance de morte, de modo que a família passasse a elaborar o luto como maneira de enfrentar a eventual perda. Hoje sabe-se que o Luto Antecipatório também aparece em contextos onde há doenças envolvidas, como no caso de quadros em que estão envolvidos cuidados paliativos. Algo que é questionado quando se fala deste tipo de luto é se o fato de sofrer antes atenua o sofrimento quando a perda de fato acontece. Alguns estudos apontam resultados neste sentido, porém não são unânimes. Worden (2013) aponta que é necessário levar em conta que o comportamento do luto é multideterminado, ou seja, há diversos fatores envolvidos que facilitam a elaboração dessa fase, incluindo ter algum anúncio prévio da morte e a oportunidade para fazer um luto pré-morte. Nas situações de Luto Antecipatório o luto em si começa mais cedo, pois há a consciência e aceitação de que a pessoa morrerá, e ainda que em muitos casos haja alternância entre esta consciência e a negação, em diversos casos este momento é facilitado pelo período de antecipação, haja vista que assistir de perto o que ocorre com o doente traz a inevitabilidade da morte para mais perto. Em contrapartida, em processos muito longos de doença e em que se vive o Luto Antecipatório, foi observado um aumento da ansiedade. Dependendo do tempo do Luto Antecipatório e da proximidade com a pessoa doente, a ansiedade tende a aumentar e acelerar. Do mesmo modo ocorre com a ansiedade conhecida como existencial, pois ao se deparar com a situação de ver alguém se deteriorando, muitas vezes o que ocorre é a identificação com o processo de achar que este também pode ser seu destino, daí o aumento da ansiedade. Por outro lado, quando se vive a antecipação da morte de alguém uma característica que é comum é imaginar-se e preparar-se em um contexto em que a pessoa não estará mais presente. Neste sentido, é comum que as pessoas que ficam comecem a pensar como será sua vida a partir daí e se preparam para essa nova realidade. Há ainda dois movimentos possíveis em um luto antecipatório. O primeiro, a pessoa que lida com o luto recolher-se emocionalmente muito cedo. Muito antes da pessoa morrer, e isso pode tornar o relacionamento embaraçoso, além de gerar culpa por de certa forma ter se “conformado” com a situação. A outra possibilidade é ocorrer o contrário. Quando o indivíduo se aproxima demais da pessoa que está indo embora a fim de prevenir sentimentos de culpa e perda, ao ponto de querer até intervir no tratamento do paciente. Em muitos casos este movimento pode estar ligado a sentimentos ambivalentes relacionados com a pessoa que está morrendo e a culpa que advém desses sentimentos. Vale ressaltar que todo processo de luto traz sofrimento e a necessidade de se encaixar em um novo contexto. Caso seja algo que traga muita dificuldade, a ajuda profissional pode ser uma alternativa para enfrentar este processo. Se precisa de ajuda ou está com dúvidas, não deixe de se consultar com profissionais que podem te ajudar. Referências: NETO, Jorge Ondere; LISBOA, Carolina Saraiva de Macedo. Doenças associadas ao luto antecipatório: uma revisão da literatura. Psic., Saúde & Doenças, Lisboa , v. 18, n. 2, p. 308-321, ago. 2017 . Disponível em <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-00862017000200003&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 17 jul. 2020. http://dx.doi.org/10.15309/17psd180203. WORDEN, J. W. Aconselhamento do luto e terapia do Luto: um manual para profissionais da saúde mental. 4ª ed. São Paulo: Roca, 2013.
Dr. Lucas Silveira
Psicólogo, neuropsicólogo
1 Comment
Denise
22 de julho de 2022 at 01:24
Dr. Lucas, eu não sabia da existência do Luto Antecipatório. Comecei a ter pensamentos a pouco tempo sobre a minha idade (casa dos 30) e dos meus pais (casa dos 60) e a expectativa de vida atual deles e a calcular em minha mente quantos anos ainda poderia viver cada um.
São pessoas que não encontram-se doentes a ponto de estarem debilitadas, pelo contrário, eles tem suas comorbidades, mas seguem tratando e acompanhamento, mas tenho constantemente esses pensamentos com medo de perde-los, mesmo não sendo afetivamente ligada ao meu pai e não ser extremamente ligada a minha mãe, isso me assombra a ponto de não me deixar dormir e a sentir palpitações no peito.
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Denise
Dr. Lucas, eu não sabia da existência do Luto Antecipatório. Comecei a ter pensamentos a pouco tempo sobre a minha idade (casa dos 30) e dos meus pais (casa dos 60) e a expectativa de vida atual deles e a calcular em minha mente quantos anos ainda poderia viver cada um.
São pessoas que não encontram-se doentes a ponto de estarem debilitadas, pelo contrário, eles tem suas comorbidades, mas seguem tratando e acompanhamento, mas tenho constantemente esses pensamentos com medo de perde-los, mesmo não sendo afetivamente ligada ao meu pai e não ser extremamente ligada a minha mãe, isso me assombra a ponto de não me deixar dormir e a sentir palpitações no peito.