Mitos e Verdades sobre a Medicação Psiquiátrica – Parte 1
A prática psiquiátrica ainda é envolta em inúmeras dúvidas e preconceitos. Muitas pessoas se esquivam de ir ao psiquiatra por preocupações que não foram devidamente esclarecidas e, com isso, deixam de procurar ajuda e receber os cuidados que são necessários.
Desse modo, gostaria de elucidar algumas questões sobre o uso de medicações na psiquiatria, que é um tema que comumente traz questionamentos.
A questão que quero abordar hoje é: precisar de medicação psiquiátrica me faz alguém fraco?
Essa é uma dúvida bastante frequente no consultório de um psiquiatra. Infelizmente, é comum se ouvir que portadores de transtornos psiquiátricos são pessoas mais “fracas” ou até mesmo que se sentem daquela forma por suas próprias escolhas (“você está assim porque quer”, “você precisa reagir”).
Todavia, a ciência já provou que isso se trata de um MITO. Os transtornos psiquiátricos são quadros bastante complexos, que envolvem componentes biológicos, psicológicos e sociais entrelaçados. Ou seja, há uma susceptibilidade genética associada ao desenvolvimento individual de cada pessoa.
O mesmo acontece com tantas outras doenças tão frequentes na prática médica, como hipertensão arterial, diabetes, alterações de colesterol, infarto e AVC – há um fator genético e hábitos que foram se desenvolvendo ao longo da vida contribuindo para o risco de apresentar tais doenças.
Contudo, não se ouve dizer que quem é portador de algumas dessas outras doenças as tem “porque quer”, e nem que sejam “fracas” as pessoas que usam medicações para tratá-las.
Se os transtornos psiquiátricos têm esse mesmo modelo de adoecimento, por que alguns tendem a responsabilizar a pessoa por precisar de tratamento, denominando-a “fraca”? Trata-se de um preconceito, gerado pela falta de compreensão sobre o que são transtornos psiquiátricos.
Medicina e transtornos mentais
Durante muito tempo os quadros psiquiátricos foram deixados de lado pela prática médica e pelas ciências. Apenas no século XIX houve uma aproximação entre medicina e transtornos mentais, e, apesar dos inúmeros avanços obtidos ao longo das últimas décadas, ainda há muito para a ciência investigar.
Desse modo, ao longo da história se desenvolveram muitas formas de tentar explicar os transtornos psiquiátricos que não têm embasamento científico.
Apesar de os conhecimentos atuais mostrarem tais concepções como inverídicas, elas ainda continuam enraizadas em nossa sociedade, por exemplo, a ideia de “fraqueza” associada aos quadros psiquiátricos.
Ademais, o fato de quadros psiquiátricos afetarem sistemas cerebrais tão complexos (que são responsáveis, por exemplo, pelos pensamentos, sentimentos, vontade, atenção) pode trazer uma falsa ideia de que a pessoa tem o controle sobre isso.
Desse modo, é comum responsabilizar o indivíduo por sua desregulação emocional, seus impulsos de difícil controle e seus pensamentos disfuncionais. Porém, os estudos atuais mostram como o tratamento pode auxiliar nesses transtornos e contribuir para a qualidade de vida da pessoa.
Portanto, é importante compreender que transtornos mentais não são sinal de “fraqueza”, nem responsabilidade do indivíduo acometido. São afecções à saúde da pessoa, que merecem cuidados, tais como quaisquer outras doenças.
Entre os cuidados necessários pode estar o uso de alguma medicação psiquiátrica. Com isso, deixo a pergunta que gostaria de discutir na próxima semana: ir ao psiquiatra envolve necessariamente tomar remédio?