Luto Parental: quando se perde um filho
Entende-se por luto parental quando os pais perdem os filhos. Trata-se de uma situação bastante complexa e individual, uma vez que para sua elaboração há diferentes fatores envolvidos.
Dentre eles, está o papel que o filho desempenhava na família e sua relação com os pais. Por mais difícil que seja esta situação, uma possível relação conturbada na família pode gerar culpa por parte dos pais, complicando ainda mais o lidar com este acontecimento. Na mesma linha, compreender as circunstâncias da perda, de que maneira, quando e como aconteceu, pode ajudar no cuidado com a família enfraquecendo o sentimento de culpa e possíveis fantasias que os pais podem ter no sentido de terem podido evitar a morte do filho.
Outra característica é que quando se perde um filho entende-se que houve mudança na sequência cronológica da morte, uma vez que geralmente os pais partem antes. A interrupção deste projeto dos pais, suas expectativas em relação ao futuro dos filhos, bem como a ausência e o vazio existencial que aparece, são sentimentos comuns e podem gerar revolta e questionamentos. Por isso, não é raro que algumas pessoas comecem a brigar com Deus ou com a fé que costumam professar, pois é difícil entender e aceitar o que aconteceu.
O luto parental não envolve apenas a perda de um filho, mas também as repercussões trazidas por este evento. Quando há outros filhos na família, é comum haver comparações entre o filho que se foi e aqueles que estão vivos, de maneira que o primeiro acaba tendo suas características exaltadas de maneira exagerada e idealizada, o que pode gerar desconforto nos outros filhos e possíveis desentendimentos. Por outro lado, os pais podem apresentar sentimentos bastante contraditórios, como certa resistência em investir afetivamente nos filhos vivos ou mesmo passar a ter uma postura de superproteção, ambas as atitudes geradas pelo medo.
O casamento dos pais por vezes não resiste a esta perda. O luto é vivido de maneira singular e esta individualidade pode surgir na forma dos pais lidarem com a ausência do filho. Por isso, pode ocorrer de um dos parceiros se isolar ou se revoltar e se afastar, causando dificuldades na comunicação do casal e contribuindo para o distanciamento.
Vale mencionar que ainda na sociedade há expectativas e preconceitos em relação a forma de um homem e uma mulher viverem o luto. Enquanto se espera que a mãe tenha uma reação mais emocional e, por vezes, exacerbada, a respeito do pai, o que se espera é uma atitude mais contida e racional. Tal ideia é completamente distorcida e preconceituosa, pois não podemos comparar a dor de alguém nem exigir que tal pessoa tenha um tipo de reação baseada em seu gênero ou papel social.
Neste sentido, é importante que o pai também tenha lugar em expressar sua dor e ser acolhido, não percebendo esta reação e necessidade de acolhimento como uma fraqueza ou impotência, mas sim como um direito de sofrer a perda de alguém que amava.
Para finalizar, é importante ressaltar que o luto parental é um processo difícil de ser vivido e que leva tempo. Ter um cuidado com a família em sua totalidade é essencial, pois são diversos fatores relacionados que, se não cuidados, podem encaminhar para formas patológicas do luto.