No meu texto anterior, falei um pouco sobre algumas crenças comuns que os leigos têm a respeito da Psiquiatria.
No texto atual, pretendo seguir um pouco nesta verve, abordando o (bastante comum) desconhecimento dos pacientes a respeito do significado de alguns termos relacionados à prática em Saúde Mental, com confusões como resultado inevitável.
A confusão, diga-se de passagem, é plenamente justificável. Seja pelo prefixo comum (“psico” vem do grego ψυχή [psykhé], e significa alma ou mente), seja mesmo pela possível intercambialidade de alguns termos, é comum (e de forma alguma ofensivo) ouvirmos leigos afirmando que foram em um “psi”, mas não lembrando de qual tipo: se era um psicólogo ou psiquiatra, por exemplo.
Tão confusos são os termos envolvidos que creio que um texto apenas elucidando o significado dos mesmos se justifique.
Realizando, portanto, um pequeno glossário:
-Psiquiatria é o nome de uma especialidade médica, cujo campo de atuação são os chamados Transtornos Mentais.
-Psicologia é o nome de uma Ciência, e também de uma Graduação, cujo objeto de estudo é o comportamento humano e os processos mentais aí envolvidos.
-Psicoterapia é o nome de uma modalidade de tratamento em Saúde Mental, em que, basicamente, um profissional visa levar um paciente a um grau mais elevado de autoconhecimento e a uma mudança de paradigmas comportamentais, através de uma relação interpessoal previamente acordada.
O termo terapia quando não ulteriormente especificado (por exemplo, terapia ocupacional, fisioterapia, etc.) costuma ser utilizado de forma intercambiável com este.
-Psicanálise é o nome de um método terapêutico desenvolvido pelo neurologista vienense Sigmund Freud (1856-1939), bem como o arcabouço teórico que o sustenta.
Em relação aos profissionais envolvidos, agora:
-Psiquiatra, portanto, é um médico formado que posteriormente concluiu uma especialização na área da Saúde Mental. A especialização mais sólida se chama Residência Médica, e no momento a Residência em Psiquiatria exige 3 anos de dedicação integral do médico já formado para que o profissional possa obter o título de especialista.
-Psicólogo é um indivíduo formado em uma faculdade de psicologia. O curso costuma durar 5 anos, e o aluno passa por estágios variados, com orientações teóricas bastante variadas, também. Da mesma forma que um médico escolhe uma especialização, é comum que o psicólogo se desenvolva, igualmente, em uma determinada área: Psicanálise, Análise do Comportamento, Recursos Humanos, etc.
-Psicoterapeuta é um termo que designa qualquer profissional que realize uma intervenção psicoterápica em saúde mental. Não há uma regulamentação específica para o uso do termo, embora pareça de bom tom esperar que alguém que se considere como tal tenha tido algum tipo de formação específica. A Graduação em Psicologia e a Residência em Psiquiatria exigem formação teórico-prática na área, e também existem Institutos e Sociedades que se dedicam à formação em linhas psicoterápicas específicas, como veremos no exemplo abaixo.
–O termo psicanalista, em sua acepção mais rigorosa, se limitaria aos terapeutas que tivessem completado a formação em uma Sociedade de Psicanálise (por exemplo, a Sociedade Brasileira de Psicanálise). Não é necessário ser médico ou psicólogo para ingressar em uma destas sociedades, embora a maioria dos mesmos o sejam. O uso mais liberal do termo para terapeutas com formações alternativas, mas prática calcada nos preceitos freudianos, vem sendo cada vez mais comum. Por vezes a abreviação analista é utilizada, em geral dentro da acepção mais exclusiva anteriormente descrita.
Agora, apenas para abordar algumas das confusões mais comuns entre os termos:
Todo psicanalista é um terapeuta, mas nem todo terapeuta é um psicanalista. A psicanálise é apenas um dos tipos de psicoterapia. Existem outras linhas, tais como a Comportamental, a Psicologia Analítica (também chamada de jungiana), a Dasein…
Seria válido afirmar que as linhas disponíveis são tão numerosas quanto os psicoterapeutas: cada um terá sempre uma prática própria, vinda de sua experiência pessoal, convicções, estudos, etc.
Não existe uma linha psicoterápica intrinsecamente melhor que outra. A melhor analogia que eu poderia fazer a este respeito seria com gosto musical: Não há como afirmar que o jazz seja superior à Música Clássica, embora amantes do primeiro tenham esta convicção. Existem opiniões pessoais, apenas.
A prática baseada em evidências científicas, no entanto, já demonstrou que algumas terapias apresentam melhores resultados para situações específicas. Voltando à analogia musical (e usando um pouco de bom senso), existem estilos musicais mais apropriados para determinados cenários.
Um belo estudo para cordas, por exemplo, pode ser um excelente fundo musical para a entrada da noiva em uma cerimônia de casamento, mas dificilmente traria os convidados à pista no auge da comemoração. Da mesma forma, um hit de axé poderia funcionar perfeitamente no final da festa, mas soar um pouco fora de contexto em uma cerimônia formal.
–Psiquiatras podem ser psicoterapeutas. A aproximação entre os termos psicólogo e psicoterapeuta é uma das mais comuns. De fato, a maioria dos terapeutas é psicólogo de formação, o que é até razoável tendo em mente a quantidade de psicólogos no mercado comparado à de psiquiatras, mas a prática em psicoterapia não é uma prerrogativa dos psicólogos.
Para confundir um pouco as coisas, no entanto, é comum que pacientes tenham tanto um psiquiatra quanto um psicoterapeuta. Nestes casos, o psiquiatra fica com a parte que chamamos de “Psiquiatria Clínica” (o que pode ser entendido como a parte mais “médica” da Psiquiatria: avaliação da melhora de sinais e sintomas, administração de medicamentos, etc.), abrindo assim espaço para que o psicoterapeuta se ocupe de suas funções mais etéreas com maior segurança e tranquilidade.
Apesar das estas diferenças, acho importante frisar que somos todos profissionais de saúde mental. A riqueza do trabalho em equipe reside justamente na pluralidade de formações e pontos de vista. Esta soma de forças deve ser sempre mais importante que diferenças filosóficas e outras convicções divisivas.
Igualmente importante é a observação de que um bom profissional em Saúde Mental não deve ficar aferrado à rigidez de sua formação técnica. Mais importante que a obediência a protocolos técnicos é a capacidade do profissional em empatizar com o ser humano que se encontra diante de si. Ou, como dizia Carl Jung, “conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.”
No meu texto anterior, falei um pouco sobre algumas crenças comuns que os leigos têm a respeito da Psiquiatria. No texto atual, pretendo seguir um pouco nesta verve, abordando o (bastante comum) desconhecimento dos pacientes a respeito do significado de alguns termos relacionados à prática em Saúde Mental, com confusões como resultado inevitável. A confusão, diga-se de passagem, é plenamente justificável. Seja pelo prefixo comum (“psico” vem do grego ψυχή [psykhé], e significa alma ou mente), seja mesmo pela possível intercambialidade de alguns termos, é comum (e de forma alguma ofensivo) ouvirmos leigos afirmando que foram em um “psi”, mas não lembrando de qual tipo: se era um psicólogo ou psiquiatra, por exemplo. Tão confusos são os termos envolvidos que creio que um texto apenas elucidando o significado dos mesmos se justifique. Realizando, portanto, um pequeno glossário: -Psiquiatria é o nome de uma especialidade médica, cujo campo de atuação são os chamados Transtornos Mentais. -Psicologia é o nome de uma Ciência, e também de uma Graduação, cujo objeto de estudo é o comportamento humano e os processos mentais aí envolvidos. -Psicoterapia é o nome de uma modalidade de tratamento em Saúde Mental, em que, basicamente, um profissional visa levar um paciente a um grau mais elevado de autoconhecimento e a uma mudança de paradigmas comportamentais, através de uma relação interpessoal previamente acordada. O termo terapia quando não ulteriormente especificado (por exemplo, terapia ocupacional, fisioterapia, etc.) costuma ser utilizado de forma intercambiável com este. -Psicanálise é o nome de um método terapêutico desenvolvido pelo neurologista vienense Sigmund Freud (1856-1939), bem como o arcabouço teórico que o sustenta. Em relação aos profissionais envolvidos, agora: -Psiquiatra, portanto, é um médico formado que posteriormente concluiu uma especialização na área da Saúde Mental. A especialização mais sólida se chama Residência Médica, e no momento a Residência em Psiquiatria exige 3 anos de dedicação integral do médico já formado para que o profissional possa obter o título de especialista. -Psicólogo é um indivíduo formado em uma faculdade de psicologia. O curso costuma durar 5 anos, e o aluno passa por estágios variados, com orientações teóricas bastante variadas, também. Da mesma forma que um médico escolhe uma especialização, é comum que o psicólogo se desenvolva, igualmente, em uma determinada área: Psicanálise, Análise do Comportamento, Recursos Humanos, etc. -Psicoterapeuta é um termo que designa qualquer profissional que realize uma intervenção psicoterápica em saúde mental. Não há uma regulamentação específica para o uso do termo, embora pareça de bom tom esperar que alguém que se considere como tal tenha tido algum tipo de formação específica. A Graduação em Psicologia e a Residência em Psiquiatria exigem formação teórico-prática na área, e também existem Institutos e Sociedades que se dedicam à formação em linhas psicoterápicas específicas, como veremos no exemplo abaixo. -O termo psicanalista, em sua acepção mais rigorosa, se limitaria aos terapeutas que tivessem completado a formação em uma Sociedade de Psicanálise (por exemplo, a Sociedade Brasileira de Psicanálise). Não é necessário ser médico ou psicólogo para ingressar em uma destas sociedades, embora a maioria dos mesmos o sejam. O uso mais liberal do termo para terapeutas com formações alternativas, mas prática calcada nos preceitos freudianos, vem sendo cada vez mais comum. Por vezes a abreviação analista é utilizada, em geral dentro da acepção mais exclusiva anteriormente descrita. Agora, apenas para abordar algumas das confusões mais comuns entre os termos: Todo psicanalista é um terapeuta, mas nem todo terapeuta é um psicanalista. A psicanálise é apenas um dos tipos de psicoterapia. Existem outras linhas, tais como a Comportamental, a Psicologia Analítica (também chamada de jungiana), a Dasein… Seria válido afirmar que as linhas disponíveis são tão numerosas quanto os psicoterapeutas: cada um terá sempre uma prática própria, vinda de sua experiência pessoal, convicções, estudos, etc. Não existe uma linha psicoterápica intrinsecamente melhor que outra. A melhor analogia que eu poderia fazer a este respeito seria com gosto musical: Não há como afirmar que o jazz seja superior à Música Clássica, embora amantes do primeiro tenham esta convicção. Existem opiniões pessoais, apenas. A prática baseada em evidências científicas, no entanto, já demonstrou que algumas terapias apresentam melhores resultados para situações específicas. Voltando à analogia musical (e usando um pouco de bom senso), existem estilos musicais mais apropriados para determinados cenários. Um belo estudo para cordas, por exemplo, pode ser um excelente fundo musical para a entrada da noiva em uma cerimônia de casamento, mas dificilmente traria os convidados à pista no auge da comemoração. Da mesma forma, um hit de axé poderia funcionar perfeitamente no final da festa, mas soar um pouco fora de contexto em uma cerimônia formal. -Psiquiatras podem ser psicoterapeutas. A aproximação entre os termos psicólogo e psicoterapeuta é uma das mais comuns. De fato, a maioria dos terapeutas é psicólogo de formação, o que é até razoável tendo em mente a quantidade de psicólogos no mercado comparado à de psiquiatras, mas a prática em psicoterapia não é uma prerrogativa dos psicólogos. Para confundir um pouco as coisas, no entanto, é comum que pacientes tenham tanto um psiquiatra quanto um psicoterapeuta. Nestes casos, o psiquiatra fica com a parte que chamamos de “Psiquiatria Clínica” (o que pode ser entendido como a parte mais “médica” da Psiquiatria: avaliação da melhora de sinais e sintomas, administração de medicamentos, etc.), abrindo assim espaço para que o psicoterapeuta se ocupe de suas funções mais etéreas com maior segurança e tranquilidade. Apesar das estas diferenças, acho importante frisar que somos todos profissionais de saúde mental. A riqueza do trabalho em equipe reside justamente na pluralidade de formações e pontos de vista. Esta soma de forças deve ser sempre mais importante que diferenças filosóficas e outras convicções divisivas. Igualmente importante é a observação de que um bom profissional em Saúde Mental não deve ficar aferrado à rigidez de sua formação técnica. Mais importante que a obediência a protocolos técnicos é a capacidade do profissional em empatizar com o ser humano que se encontra diante de si. Ou, como dizia Carl Jung, “conheça todas […]
No Brasil, até meados do século XIX, os pacientes psiquiátricos eram objeto da justiça: os violentos iam para as prisões e os pacíficos perambulavam pelas ruas sem receberem qualquer tipo de tratamento especializado.
A Mancini Psiquiatria e Psicologia oferece soluções customizadas em Saúde Mental para a sua empresa, desde a detecção e tratamento de transtornos psiquiátricos e psicológicos até diagnósticos e intervenção sistêmicos da identidade corporativa.
1 Comment
Anete Mancini
Muito bom. Obrigada