Flexibilidade cognitiva: aprendendo com a mudança do ambiente
Com rotinas modernas cada vez mais complexas e sofisticadas, desde cedo em nossas vidas temos que lidar com uma grande variedade de informações advindas de diferentes fontes e tarefas.
Para lidar com isso, é necessário ajustar o comportamento de acordo com as modificações do ambiente, e, com frequência, observar também a efetividade de nossos comportamentos.
De acordo com pesquisadores das ciências cognitivas, existe uma função específica chamada flexibilidade cognitiva. De acordo com Dajani e Uddin (2015), a flexibilidade cognitiva pode ser definida como a habilidade de ajustar de maneira apropriada o comportamento de acordo com a mudança ambiental.
A partir de seu uso, a pessoa consegue interromper uma tarefa de maneira eficiente, iniciar uma nova adequando o comportamento para tentativas mais adaptativas em sua nova atividade e, consequentemente, obter melhores resultados. Portanto, pessoas com baixos níveis dessa capacidade tendem a se manter executando comportamentos mesmo quando eles deixam de funcionar.
Pesquisadores afirmam que a flexibilidade cognitiva está positivamente associada com melhores habilidades de leitura na infância, maior resiliência em resposta a eventos negativos e estresse, níveis maiores de criatividade e até mesmo melhor qualidade de vida em indivíduos com mais idade (de Abreu, 2014; Gennet, Siemer, 2014; Chen, 2014).
Durante o desenvolvimento da criança é iniciado também o de sua flexibilidade, com um avanço significativo nesta capacidade por volta dos sete a nove anos de idade. A maturação principal ocorre por volta dos dez anos, contudo continua se desenvolvendo até chegar em seu pico final entre os 21 e 30 anos (Dick, 2014; Anderson, 2002; Hunter, Sparrow, 2012).
Alterações no neurodesenvolvimento, como o observado no Transtorno do Espectro Autista, prejudicam sua aquisição e, como consequência, são observados prejuízos comportamentais significativos.
É importante estar atento aos resultados das ações, realizar auto observação e se perguntar: só existe uma maneira de fazer isto? Esta é a melhor maneira de realizar essa tarefa?
Vale a pena tentar sempre adequar atitudes aos resultados, sempre abandonando práticas inefetivas, e, como consequência, estar sempre preparado para a flexibilidade, especialmente quando as consequências saírem do esperado.
É de significativa importância, também, sempre buscar desenvolver novas habilidades, tais como um novo hobbie, novo hábito ou novo idioma, possibilitando diferentes experiências e oportunidades de criar um repertório cada vez mais amplo.
Bibliografia
Dajani DR, Uddin LQ. Demystifying cognitive flexibility: Implications for clinical and developmental neuroscience. Trends Neurosci. 2015.
de Abreu PME, et al. Executive functioning and reading achievement in school: a study of Brazilian children assessed by their teachers as “poor readers”. Frontiers in psychology. 2014.
Genet JJ, Siemer M. Flexible control in processing affective and non-affective material predicts individual differences in trait resilience. Cognition and emotion. 2011.
Chen Q, et al. Association of creative achievement with cognitive flexibility by a combined voxelbased morphometry and resting-state functional connectivity study. NeuroImage. 2014.
Dick AS. The development of cognitive flexibility beyond the preschool period: An investigation using a modified Flexible Item Selection Task. Journal of experimental child psychology. 2014; 125:13–34.
Anderson P. Assessment and Development of Executive Function (EF) During Childhood. Child Neuropsychology. 2002.
Hunter, SJ., Sparrow, EP. Executive Function and Dysfunction: Identification, Assessment and Treatment. Cambridge University Press; 2012.