Falando sobre dinheiro em terapia
Falar sobre dinheiro na vida pode ser um tabu, mas dentro do contexto terapêutico é muito bem-vindo e, inclusive, é material para sessão, podendo revelar a forma de funcionamento do paciente.
Sempre digo aos meus pacientes que dinheiro representa muito mais que o valor de um trabalho, mas a energia depositada neste trabalho, bem como a relação terapeuta-paciente. Portanto, quanto, quando e como é feito o pagamento podem fornecer informações sutis, mas muito válidas sobre a personalidade e organização psíquica do paciente.
Para os iniciantes, costumo fazer uma analogia que os ajuda a compreender o processo terapêutico de uma forma mais abrangente. As pessoas costumam enxergar, não sem motivo, que a terapia é um produto ou um serviço prestado e, caso não seja possível a realização da sessão, não há o que ser “acertado”. Mas vamos pensar sob uma outra perspectiva.
Vamos comparar, a grosso modo, o processo terapêutico com um aluguel de um imóvel. Ao fechar um contrato de locação, o locatário se compromete a pagar um valor mensal que inclui tanto o espaço, quanto o condomínio. Se por ventura o sujeito sai de viagem e o imóvel fica “desocupado”, o proprietário ainda assim cobrará o valor contratado, afinal, ele não pôde disponibilizar o espaço neste meio tempo, ainda que o indivíduo não estivesse usufruindo.
Pois bem, da mesma forma, quando feito um contrato, ainda que verbal, entre terapeuta-paciente, o profissional está reservando este horário para o paciente, que ele pode usar da maneira que bem entender, isto é, se ele quiser se atrasar, dormir ou ficar em silêncio, assim poderá fazê-lo, até porque, faz parte do processo terapêutico. Mas sem dúvida, poderão ser interpretadas na relação transferencial e poderá cumprir com funções bastante adversas a depender do contexto em que se dão.
Portanto, o dinheiro é o objeto que de alguma forma simboliza o investimento que o paciente está disposto a colocar no próprio processo de autoconhecimento, ou a falta dele pode até mesmo ser o álibi perfeito para não ter de entrar em contato com aquilo que tanto o mobiliza.