Entre o medo de se contaminar e de contaminar os outros
Nossa experiência nas últimas semanas tem revelado como a pandemia impacta a saúde mental. Inúmeros fatores contribuem para isso, entre eles, o medo, as incertezas, o isolamento e a mudança de rotina.
Primeiramente, quando se abordam outras formas de calamidade, como desastres naturais ou ataques terroristas, o contato social se mostra crucial para o suporte psicológico da população. Isso se encontra na base da organização social. Contudo, ao nos referirmos à pandemia, o distanciamento social tem sido até o momento uma das medidas preconizadas para o controle da disseminação. Consequentemente, nosso contato com outras pessoas se torna mais rarefeito e muitas vezes embasado em meios sociais. Os abraços, tidos habitualmente como forma de acalentar, se tornam objeto de medo.
O medo por não sabermos de quem poderíamos contrair a infecção. Estudos recentes mostrando que o vírus pode se disseminar a partir de indivíduos assintomáticos reforça essa preocupação. Por outro lado, há também o medo de contaminar pessoas próximas a nós, nossos entes queridos. Isso tem levado muitos profissionais de saúde a optarem por morar longe de suas famílias, evitando, pois, serem veículos de transmissão.
Ademais, o medo se reforça diante das incertezas. Preocupações financeiras, elevação do desemprego, dúvidas sobre o futuro profissional e a necessidade de reorganizar projetos de vida são elementos que impactam diretamente na saúde mental das pessoas.
Muitas pessoas precisaram reorganizar suas rotinas. O home office, prática que tem crescido, agradando uns e desagradando outros, deixa mais tênue os limites entre trabalho e casa. É frequente ouvir pessoas dizerem que têm trabalhado mais nesse período de quarentena. A busca por lazer dentro de casa e a necessidade de vencer o tédio e a monotonia se transformam em desafios diários.
Em suma, o momento em que vivemos atualmente é caracterizado por importante impacto sobre a saúde mental, um sofrimento marcado para grande parte da população. Resta, pois, nos questionarmos: que transformações advirão dessa crise? O que podemos aprender?