E se não foi possível atingir a remissão dos sintomas?
Assim como em outras áreas da medicina, na Psiquiatria também há limites quando se fala em cura dos transtornos psiquiátricos. Assim, em alguns casos não é possível atingir a remissão do quadro, ou seja, mesmo após a realização de todas as intervenções adequadas, o paciente permanece com alguns sintomas.
Irei explorar essa situação com um exemplo. Imaginemos, então, um paciente com Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) que, mesmo após várias tentativas de intervenções adequadas, diminuiu seus pensamentos intrusivos para lavar as mãos, porém tais preocupações não cessaram. Como médico e paciente podem intervir no sentido de melhorar a qualidade de vida desse paciente?
Em primeiro lugar, é necessário reconhecer que a medicina possui limites e, então, conversar sobre as expectativas do tratamento é algo muito importante. Além disso, a noção de cura precisa ser trabalhada, pois nem sempre cura, em um sentido mais amplo e profundo, significa ausência de sintomas.
Muitas vezes, o paciente pode conviver com alguns sintomas e considerar-se curado, pois a carga de sofrimento que ele carrega diminuiu muito.
Voltando ao exemplo do paciente com TOC que continua com pensamentos intrusivos que dizem para ele lavar as mãos recorrentemente. Vamos supor que ele já consegue não “obedecer” os pensamentos, e que a sua carga de sofrimento e desconforto emocional em relação a eles diminuíram, de modo que ele consegue observar os pensamentos e deixar eles passarem sem atuar sobre eles. Somado a isso, o paciente conseguiu voltar para suas atividades de vida, sendo que o sintoma não repercute mais em sua funcionalidade.
Se considerarmos todos os fatores do exemplo acima, fica evidente que é possível um sucesso de tratamento mesmo quando não é atingida a remissão total dos sintomas. Para que isso ocorra, é essencial que o paciente elabore toda a sua expectativa que está envolvida no processo de cura e aprenda a conviver com seus sintomas residuais, diminuindo o seu sofrimento em relação a eles.
Isso é algo bastante difícil e complexo, mas possível de ser realizado. Para isso, além do acompanhamento médico, é preciso também um acompanhamento psicoterápico e outras possíveis intervenções multidisciplinares que possam atuar no sentido de melhorar a qualidade de vida do paciente.