Dor crônica: uma visão comportamental
Dor é uma experiência extremamente incômoda para a maioria das pessoas. Para nos livrarmos delas foram desenvolvidas medicações e são utilizadas diferentes estratégias pelas pessoas, incluindo o uso de substâncias. Devido a interação entre elementos ambientais e genéticos algumas pessoas desenvolvem dor crônica. A dor crônica se caracteriza por uma dor que se mantém por mais de um mês (Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas, 2012).
Do ponto de vista de sobrevivência humana, a dor prepara o corpo para cuidar e evitar aumento de lesão ou infecção de tecidos prejudicados. Ela ativa diretamente regiões do cérebro que são associadas com o comportamento de passividade e preservação do corpo. Quando ela se intensifica, a qualidade de vida desta pessoa costuma cair uma vez que se torna cada vez mais difícil realizar tarefas do cotidiano e que são importantes para uma vida funcional (Sokolov, 1963; McNeil & Burnetti, 1992)
O que para muitos pode ser novidade é que existe um elemento comportamental na transição de uma dor comum para dor crônica. Pesquisas apontam que parte desse processo pode ser explicado através do desenvolvimento de um certo “medo” da dor e comportamento de tentativas de fuga.
Aos poucos, sensações e elementos ambientais anteriormente neutros passam a ser associados com a experiência de dor, fazendo com que eles em si eliciem sensação de dor, causando comprometimento cada vez maior na vida da pessoa (Vlaeyen et. al., 2002). Esse processo de associação de eventos é chamado pela ciência do comportamento de “condicionamento respondente”, é o que promove por exemplo, aversão a alimentos que comemos e nos fez passar mal.
Dos tratamento não medicamentosos relevantes de acordo com as evidências científicas, encontram-se: atividade física regular, terapia cognitiva comportamental, terapia com calor local e ou fisioterapia (Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas, 2012).
Em conjunto com equipe multidisciplinar, existem, portanto, estratégias presentes nas psicoterapias comportamentais que podem ajudar o indivíduo a se expor a esses contextos dolorosos e que com o tempo podem diminuir não somente a experiência dolorosa em si, mas também a importância que essas dores tem na vida de uma pessoa. Enfrentar as sensações desagradáveis apesar de não ser o mais intuitivo, é o que tem maior probabilidade de funcionar no processo de lidar com essas dificuldades.
McNeil, R. & Burnetti, M. Pain and fear: A bioinformational perspective on responsitivity to imagery. Behavior Research and Therapy, 30, p. 513-520. 1992
Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas. Dor Crônica. Portaria SAS/MS nº 1083, de 02 de outubro de 2012.
Sokolov, Y. Perception and the conditioned reflex. Oxford: Pergamon Press. 1963.
Vlaeyen, J., de Jong, J., Onghena, P., Kerckhoffs-Hanssen, M. Kole-Snijders, A. Can pain-related fear be reduced? The application of exposure in vivo. Pain Research and Management, 7, p. 144-153. 2002.