Uma das formas mais acessíveis de falar sobre teorias psicológicas é com a ajuda de obras de Arte como modelos. A Arte não é, afinal, nada mais que um veículo de expressão de emoções, e a sua capacidade nesse sentido extrapola infinitamente a capacidade de qualquer texto de conteúdo técnico.
No texto de hoje, eu gostaria de falar sobre Adoniran Barbosa. É claro que muitos elogios poderiam ser feitos à ele e sua obra, a rara felicidade em captar o universo existencial do trabalhador paulistano humilde não sendo o menos comum, mas, este texto sendo sobre Saúde Mental, gostaria de atentar para um sentimento recorrentemente cantado em sua obra.
Este sentimento é a desesperança.
Seja na irrevogabilidade do trem que demanda a partida em sua música mais famosa, ou na razão que “os homens” possuem em derrubar a sua (saudosa) maloca, na ausência de culpa do chofer que atropelou Iracema, ou mesmo na inquestionabilidade da “ordem superior” que o decreto possui na mais obscura “Despejo na Favela”, o narrador parece sempre amarrado ao mesmo discurso: A vida é assim mesmo: frustração e fracasso. Não há nada que se possa fazer a respeito.
A inexorabilidade do destino, e, mais especificamente, do destino trágico, não é uma novidade na condição humana e nem tampouco no mundo artístico, sendo documentada extensamente no universo do teatro grego, e ocorrendo provavelmente desde que hominídeos se esquentando à beira de uma fogueira começaram a inventar histórias para fazer o tempo passar.
Entretanto, desde sempre, o figurino manda que os heróis, gregos, hollywoodianos, enfim, tutti quanti, briguem contra este destino! Que raio de história é essa em que um rapaz apaixonado volta para casa cedo para cuidar de sua mãe? Ou de um homem humilde que, vendo a sua casa ser derrubada, senta para “apreciar a demolição”?
O sentimento expressado por Adoniran nestas letras, portanto, é, claramente, o da desesperança. De nada adianta discutir, ficar mais um pouquinho, reclamar… A vida é assim mesmo.
Nos modelos animais habitualmente utilizados para o estudo da depressão o teste do nado forçado ilustrado na imagem acima é um dos mais consagrados. Basicamente, um rato é colocado num pote de vidro no qual tem que continuar nadando para respirar (e, consequentemente, sobreviver).A percepção de que não há como escapar e a consequente desistência são utilizados como parâmetro, e supõe-se que ratos “deprimidos” (ou com um modelo animal análogo) demorariam menos tempo para desistir da vida (e, portanto, pararem de nadar) nestes estudos, e o uso de antidepressivos aumentaria a “resiliência” destes ratos, observada por uma maior perseverança no comportamento de buscar saída para a situação em que se encontra.
O modelo, como soem ser os modelos laboratoriais, é bastante simplista. A vida é mais complexa do que qualquer modelo laboratorial jamais conseguiria dar conta de reproduzir.
Talvez, para os modelos da vida real, sejam os cenários de Adoniran uma alternativa mais naturalística. Será que não haveria alguma alternativa além de pegar aquele trem? Será que a maloca tinha que ser, inexoravelmente, derrubada?
Analisar os problemas de personagens fictícios é um exercício fútil, porém. Embora a utilização dos mesmos como modelo seja muito útil para exemplificar uma vivência específica, os problemas de pessoas de carne e osso estarão sempre muito além da capacidade de condensação de algumas estrofes de poesia.
Levando para o cenário ainda mais complexo de nossas vidas, coloco aqui uma pergunta frequentemente feita no consultório: Será que existe alguma saída para a situação em que me encontro?
Para os indivíduos que, como eu, não possuem o dom da Onisciência, esta pergunta estará sempre fadada a ficar sem uma resposta categórica.
Os cenários de vida reais são infinitamente complexos. Dizer que não há nenhuma saída possível neste caso é o mesmo que afirmar a finitude do Infinito. Estatisticamente falando, sempre existirá a possibilidade de uma saída.
Neste infindável trabalho de ir tateando o Infinito, porém, existem momentos em que todos nós nos sentiremos assoberbados com a tarefa. E, nestes momentos, é preciso admitir que não há vergonha nenhuma em pedir ajuda.
Uma das formas mais acessíveis de falar sobre teorias psicológicas é com a ajuda de obras de Arte como modelos. A Arte não é, afinal, nada mais que um veículo de expressão de emoções, e a sua capacidade nesse sentido extrapola infinitamente a capacidade de qualquer texto de conteúdo técnico. No texto de hoje, eu gostaria de falar sobre Adoniran Barbosa. É claro que muitos elogios poderiam ser feitos à ele e sua obra, a rara felicidade em captar o universo existencial do trabalhador paulistano humilde não sendo o menos comum, mas, este texto sendo sobre Saúde Mental, gostaria de atentar para um sentimento recorrentemente cantado em sua obra. Este sentimento é a desesperança. Seja na irrevogabilidade do trem que demanda a partida em sua música mais famosa, ou na razão que “os homens” possuem em derrubar a sua (saudosa) maloca, na ausência de culpa do chofer que atropelou Iracema, ou mesmo na inquestionabilidade da “ordem superior” que o decreto possui na mais obscura “Despejo na Favela”, o narrador parece sempre amarrado ao mesmo discurso: A vida é assim mesmo: frustração e fracasso. Não há nada que se possa fazer a respeito. A inexorabilidade do destino, e, mais especificamente, do destino trágico, não é uma novidade na condição humana e nem tampouco no mundo artístico, sendo documentada extensamente no universo do teatro grego, e ocorrendo provavelmente desde que hominídeos se esquentando à beira de uma fogueira começaram a inventar histórias para fazer o tempo passar. Entretanto, desde sempre, o figurino manda que os heróis, gregos, hollywoodianos, enfim, tutti quanti, briguem contra este destino! Que raio de história é essa em que um rapaz apaixonado volta para casa cedo para cuidar de sua mãe? Ou de um homem humilde que, vendo a sua casa ser derrubada, senta para “apreciar a demolição”? O sentimento expressado por Adoniran nestas letras, portanto, é, claramente, o da desesperança. De nada adianta discutir, ficar mais um pouquinho, reclamar… A vida é assim mesmo. Nos modelos animais habitualmente utilizados para o estudo da depressão o teste do nado forçado ilustrado na imagem acima é um dos mais consagrados. Basicamente, um rato é colocado num pote de vidro no qual tem que continuar nadando para respirar (e, consequentemente, sobreviver).A percepção de que não há como escapar e a consequente desistência são utilizados como parâmetro, e supõe-se que ratos “deprimidos” (ou com um modelo animal análogo) demorariam menos tempo para desistir da vida (e, portanto, pararem de nadar) nestes estudos, e o uso de antidepressivos aumentaria a “resiliência” destes ratos, observada por uma maior perseverança no comportamento de buscar saída para a situação em que se encontra. O modelo, como soem ser os modelos laboratoriais, é bastante simplista. A vida é mais complexa do que qualquer modelo laboratorial jamais conseguiria dar conta de reproduzir. Talvez, para os modelos da vida real, sejam os cenários de Adoniran uma alternativa mais naturalística. Será que não haveria alguma alternativa além de pegar aquele trem? Será que a maloca tinha que ser, inexoravelmente, derrubada? Analisar os problemas de personagens fictícios é um exercício fútil, porém. Embora a utilização dos mesmos como modelo seja muito útil para exemplificar uma vivência específica, os problemas de pessoas de carne e osso estarão sempre muito além da capacidade de condensação de algumas estrofes de poesia. Levando para o cenário ainda mais complexo de nossas vidas, coloco aqui uma pergunta frequentemente feita no consultório: Será que existe alguma saída para a situação em que me encontro? Para os indivíduos que, como eu, não possuem o dom da Onisciência, esta pergunta estará sempre fadada a ficar sem uma resposta categórica. Os cenários de vida reais são infinitamente complexos. Dizer que não há nenhuma saída possível neste caso é o mesmo que afirmar a finitude do Infinito. Estatisticamente falando, sempre existirá a possibilidade de uma saída. Neste infindável trabalho de ir tateando o Infinito, porém, existem momentos em que todos nós nos sentiremos assoberbados com a tarefa. E, nestes momentos, é preciso admitir que não há vergonha nenhuma em pedir ajuda.
No Brasil, até meados do século XIX, os pacientes psiquiátricos eram objeto da justiça: os violentos iam para as prisões e os pacíficos perambulavam pelas ruas sem receberem qualquer tipo de tratamento especializado.
A Mancini Psiquiatria e Psicologia oferece soluções customizadas em Saúde Mental para a sua empresa, desde a detecção e tratamento de transtornos psiquiátricos e psicológicos até diagnósticos e intervenção sistêmicos da identidade corporativa.
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Anete Mancini
Fantástica explanação