Controlar a ansiedade pode beneficiar seu corpo
A história do pensamento ocidental é marcada por uma dicotomia: corpo e mente. Platão, em Fédon, discorre sobre a alma como uma estrutura imaterial, que possui desejos elevados (bondade e conhecimento); em contraposição, o corpo é uma estrutura física, a qual tem desejos menos elevados (comida, sexo, bebida). Essa foi a visão platônica que predominou a cultura ocidental. Ela é fundamentada tanto por um dualismo entre corpo e mente (herdeira da alma), quanto por uma hierarquia: as questões da mente são mais elevadas que o corpo.
Em consequência dessa tradição, hoje tentamos pensar o sofrimento do corpo e da mente como separados. Um sofrimento mental deverá se expressar unicamente em termos mentais (angústia, tristeza, raiva, ansiedade, etc). Assim como, uma dor de cabeça só poderá ter origem numa causa corporal. Será mesmo que a prática clínica é assim?
Definitivamente não! O sofrimento do corpo e da mente andam de mãos dadas. Há muitos anos a medicina psicossomática busca entender a relação entre corpo e mente. Infelizmente, a saúde mental ainda está muito presa no dualismo corpo e mente platônico, como o próprio termo “saúde mental” revela. Hoje, porém, já é vastamente conhecida e estudada a interface entre corpo e mente. Um interessante exemplo da intrínseca conexão entre corpo e mente é observado na ansiedade.
Define-se ansiedade como uma antecipação de ameaça futura, seja ela imaginária ou não. Sentimos medo, preocupação ou pensamentos angustiantes frente a algum fenômeno vindouro. Internamente, percebemo-nos ansiosos quando nossos pensamentos ficam dando voltas em preocupações futuras. É muito comum esses pensamentos virem acompanhados de uma série de sintomas físicos: coração acelerado, pulsações no pescoço, mãos geladas, tremores, falta de ar e diarreia.
Ou seja, a ansiedade, um sofrimento da mente, é capaz de gerar uma série de sintomas físicos. Essa sintomatologia corporal é oriunda de uma descarga hormonal de adrenalina, gerada pela ansiedade, capaz de causar todas essas incômodas sensações. Inclusive a percepção desses sintomas frequentemente agrava o quadro ansioso. De forma menos comum, outros sintomas como dores de cabeça, dores musculares, dores estomacais são agravadas ou causadas por estados ansiosos. Devemos considerar o seguinte: o ansioso nunca relaxa; é um corpo que permanece em um estado de alerta e tensão constante; portanto, sintomas físicos dessa tensão são muito comuns.
Por outro lado, quadros ansiosos podem ter uma melhora significativa dos seus sintomas “mentais” através de técnicas corporais. Uma ampla gama de atividades como musculação, yoga, acupuntura, esportes, dentre outras, são capazes de promover melhoras significativas nos níveis de ansiedade. O denominador em comum dessas práticas tão heterogêneas é nada mais do que o próprio corpo. Nós vivemos em um mundo que nos exige muitas atividades mentais (e ansiogênicas) no trabalho, no trânsito, nas comunicações. Possuir um período de nossa semana onde nos desligamos de nosso mundo mental e realizamos algum tipo de atividade corporal é fundamental e tem uma série de benefícios; dentre eles, a melhora da ansiedade.
Por fim, o convite desse texto era mostrar a importância do corpo para a saúde mental e suas interfaces com a ansiedade. Com isso, devemos ficar mais atentos ao corpo tanto como um sinal de sofrimento mental, como um lugar terapêutico para nossa mente.
Se precisa de ajuda ou está com dúvidas, não deixe de se consultar com profissionais que podem te ajudar.
Entre em contato com os nossos profissionais clicando aqui.