Como o depressivo vive o tempo
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) a depressão atinge cerca de 322 milhões de
pessoas em todo mundo, incluindo todas as faixas etárias e todas as comunidades. No Brasil,
11,5 milhões de pessoas (cerca de 5,8% da população) já foram diagnosticadas com este
quadro.
Sabe-se que a depressão é um problema de saúde importante que merece atenção, sendo
também uma das principais causas de incapacidade. A pessoa com depressão funciona com
um sofrimento intenso atingindo o modo que enxerga o mundo e a si mesma. Nesta mesma
linha, a maneira como percebe o tempo é peculiar.
Eugène Minkowski, psiquiatra francês que se debruçou sobre o tema, afirmava que o
depressivo não encara o tempo como uma energia que o impulsiona, pelo contrário, o modo
como percebe o futuro é bloqueado. Sua atenção é voltada para o passado e seu presente se
mostra estagnado. Ou seja, o tempo não flui para o depressivo e, consequentemente, a forma
como enxerga a vida se mostra muito reduzida, uma vez que não consegue ver possibilidades
no futuro.
De igual modo, Ludwig Biswanger, psiquiatra suíço, entendia que a temporalidade neste
quadro pode se apresentar como a dificuldade do indivíduo se desvincular de seu passado, o
que faz com que ocorra muito o pensamento e discurso do tipo “e se…”, mas que não leva a
nada, uma vez que se trata de um passado impossível de ser modificado.
Outra forma que o teórico discute diz respeito a percepção que a pessoa tem do futuro que,
neste caso, é visto como perda e impossibilidade. O depressivo acaba por ter a convicção que
seu futuro será infrutífero e, por isso, não consegue criar possibilidades.
Estas formas de apreender o tempo por parte do indivíduo diagnosticado com depressão
permite ao profissional de saúde mental uma maior aproximação e compreensão da vivência
do depressivo. A partir disso, pode-se dar a oportunidade ao paciente em terapia de reavaliar
a forma como percebe o tempo, buscando outras formas de enxergar suas experiências
passadas e, com isso, se abrindo a novas possibilidades futuras.