Como funciona uma Terapia de Casal?
Os relacionamentos são capazes de despertar diferentes tipos de emoções na vida de uma pessoa, especialmente nos relacionamentos afetivos, cujo parceiro ou parceira muitas vezes, além de representar o amor, consegue despertar também outros afetos como raiva, frustração, mágoa, tristeza e angústia.
Como vimos na semana anterior, lidar com os próprios pensamentos que despertam emoções e comportamentos difíceis de serem gerenciados é o principal foco da psicoterapia cognitivo comportamental.
Mas e quando tais emoções estão relacionadas ao funcionamento do casal? Como lidar com as expectativas que parecem caminhar em vias divergentes resultando em desesperança a ponto de cogitarem a separação?
Muitos problemas vivenciados no relacionamento podem ser atribuídos a pensamentos distorcidos de ambos os parceiros. Diversos estudos¹ indicam que os pensamentos ocorrem na mente humana como um fluxo de ideias de rápida passagem que por si só não são bons ou ruins e devem ser analisados dentro do contexto. É justamente na identificação dos pensamentos rápidos e disfuncionais que o terapeuta pode auxiliar os membros de um relacionamento. Veja um exemplo²:
Quando uma esposa não recebe a atenção que gostaria de seu marido, a respeito de um problema de trabalho, pode chegar à seguinte conclusão: “ele nunca me ouve”. Nessa situação, a parceira pode sentir raiva e gritar com seu companheiro, dizendo que ele é um imprestável.
O pensamento “ele nunca me ouve”, pode não ser 100% verdadeiro, e especialmente naquele dia, seu marido também desejasse a atenção de sua esposa para compartilhar fatos de seu dia e talvez estive pensamento o melhor momento para iniciar o diálogo. Vejamos outro exemplo³:
Um homem está falando com sua parceira e nota que durante a conversa ela boceja por estar cansada, desencadeando o seguinte pensamento: “ela está achando chato conversar comigo”. Por pensar dessa forma, ele então pode sentir-se magoado e evitar contato ao longo do dia. Este exemplo mostra um funcionamento do tipo “Leitura Mental”, já que para confirmar sua hipótese o homem poderia perguntar para sua esposa como ela estava se sentindo, ao invés de concluir precipitadamente seu “possível desconforto” em ouvi-lo.
Afinal, porque então os membros de um relacionamento possuem pensamentos automáticos distorcidos?
O cérebro humano busca de maneira contínua estabelecer interpretações rápidas sobre o ambiente no qual o sujeito está inserido. Dessa forma, invariavelmente podem ocorrer interpretações incorretas da realidade baseadas em sua autoimagem ou regras rígidas. Por exemplo, quando o marido pensa de forma automática “ela está achando chato conversar comigo” sua regra rígida fica acionada: “Se ela não me deu atenção o tempo todo, ela não liga para mim” confirmando sua autoimagem distorcida “Não sou digno de amor”.
Cabe ao terapeuta de casal auxiliar os membros do relacionamento a identificarem os pensamentos automáticos distorcidos, além de oferecer suporte com técnicas específicas para potencializar a qualidade da comunicação, manejo das emoções além de propor estratégias para solução de problemas no cotidiano.
É importante lembrar que todos os tipos de casais, sejam estes de longa data ou recém-casados, heterossexuais ou não, possuem pensamentos automáticos, já que estes estão diretamente envolvidos na maneira como interpretamos a realidade. Todos os relacionamentos possuem pontos fortes e fracos e considerar ambos com sabedoria, pode resultar em uma união verdadeira e funcional para os parceiros. Afinal, nunca é tarde para ser feliz.
Referências:
¹ – Beck, A. T. (1995). Para além do amor. Rio de Janeiro: Record.
² – Dattilio, F. M.; Epstein, N. & Baucom, D. H. (1998). An introduction to cognitive-behavioral therapy with couples and families. Em: F. M. Dattilio (Org.). Case studies in couple and family therapy: Systemic & cognitive perspectives (pp. 1-36). New York – London: Guilford Press
³ – Beck, A.T. & Alford, B. A. (2000). O poder integrador da terapia cognitiva. Porto Alegre: Artmed.
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Anete Mancini
Excelente