Ciúme: Quando o sofrimento se torna insuportável
O ciúme é um sentimento comum ao ser humano, que desde a Antiguidade recebeu a atenção dos homens. Por exemplo, na mitologia grega, Hera, esposa de Zeus, tem seu sofrimento frequentemente relatado em decorrência do ciúme que tinha de seu marido e dos atritos que possuía com as amantes dele. Ao longo do texto, iremos discutir sobre a natureza desse sentimento, como ele se apresenta e como identificar sinais de alerta de que ele tem causado sofrimento excessivo.
A natureza do ciúme é a ameaça de perder algo que se considera como “meu” – que pode ser verdadeiramente “meu”, ou que haja uma fantasia de que seja “meu”, ou que haja uma antecipação de que seja “meu”. Ou seja, envolve um sentimento de posse sobre aquilo que se teme perder para um rival (real ou imaginário), que pode ser: um trabalho, um cargo em uma empresa, um poder, um prestígio ou, o que é bastante conhecido, o amor de alguma pessoa.
Diante do exposto, é possível diferenciar o ciúme da inveja, pois esta é o desejo de possuir algo que se considera primariamente “do outro”, seja um pertence, algum objeto, alguma qualidade, alguma conquista.
A apresentação do ciúme se dá ao sujeito como uma forte intranquilidade e inquietação, ele é tomado por uma sensação de queimação, além de temer “explodir” e “perder o controle”. A base do ciúme é a incerteza, a dúvida e a possibilidade de perder aquilo que tanto se almeja manter. Já o fim desde sentimento se dá quando há a perda definitiva do objeto ou quando sua posse é considerada irrevogável.
Portanto, para que haja ciúmes, é importante considerar que exista um rival com capacidade de competir por aquilo que se considera como “meu”. Além disso, a intensidade do ciúme dependerá do valor que esse algo “meu” tem para o próprio indivíduo. Ou seja, quanto mais essencial seja aquilo para a pessoa e quanto mais satisfação ela tenha com a “posse” daquilo, mais intenso será o sentimento de ciúme.
Apesar de ser um sentimento comum ao ser humano, há situações em que o ciúme pode se tornar excessivo, acarretando intenso sofrimento ao indivíduo. Em situações como essa, pensamentos ligados ao ciúme começam a tomar grande parte do tempo do sujeito, que se vê imerso em preocupações relacionadas a esse tema. Com isso, o sujeito começa a ter dificuldade em lidar com essas preocupações excessivas, o que acaba acarretando prejuízos em seu cotidiano, por exemplo, dificuldade em trabalhar ou em socializar com amigos.
No caso de ciúme em relacionamentos amorosos, o indivíduo começa a ter tentativas cada vez maiores de tentar controlar o parceiro, de limitar sua liberdade, de vasculhar objetos do parceiro e de verificar comportamentos e atividades dele. Em algumas situações, o ciúme pode se tornar tão intenso que pode acarretar até mesmo agressões físicas entre o casal.
Desse modo, quando o ciúme se torna excessivo e o sofrimento intenso, a ajuda profissional pode ser fundamental para auxiliar o sujeito a compreender melhor e a lidar de maneira mais saudável com esse sentimento.
Por fim, deixo como sugestão cultural um filme do cineasta francês Claude Chabrol que aborda esse tema: “Ciúmes – o inferno do amor possessivo”.
Bibliografia:
Tellenbach, H. Fenomenología de los celos. In: Estudios sobre la patogénesis de las pertubaciones psíquicas. México: Fondo de Cultura Económica, 1969. Pp 79-88.
Sophia, EC et al. Amor patológico e ciúme excessivo. In: Psiquiatria, Saúde Mental e a Clínica da Impulsividade. Barueri, SP : Manole, 2015. Pp 222-234.