Câncer e depressão
Pouca gente sabe, mas os pacientes com câncer são uma das populações com risco bastante aumentado para desenvolver depressão.
Um grande estudo científico incluindo mais de 10 mil pacientes no mundo todo concluiu
que a prevalência de depressão entre os pacientes oncológicos gira em torno de 16%. Isso
representa um risco entre 2 a 4 vezes maior do que na população geral.
Alguns fatores que podem conferir um maior risco para o paciente oncológico ter
também depressão são:
- Histórico de já ter tido depressão na vida;
- Falta de suporte social (poucos amigos, familiares, colegas de trabalho etc.), morar
- sozinho, pacientes solteiros;
- Presença de outras doenças associadas;
- Sintoma de dor frequente;
- Metástases ou câncer em estágio avançado;
- Limitação funcional, ou seja, quando o paciente perde a capacidade de exercer algumas tarefas de sua rotina de forma independente.
Por que existe essa correlação? Para explicar esse risco aumentado, é possível dividir
os motivos em 3 grupos distintos: os fatores relacionados ao paciente, os fatores relacionados ao câncer e os fatores relacionados ao tratamento do câncer.
Fatores do paciente
Por mais que a medicina tenha avançado de maneira surpreendente nos tratamentos do
câncer ao longo das últimas décadas, receber um diagnóstico como esse costuma gerar um
estresse psicológico e emocional significativo.
Lidar com uma informação desse porte pode suscitar medos, sentimentos de culpa com
relação a acontecimentos do passado, inseguranças sobre a terminalidade da própria vida.
Além deste, há outros fatores relacionados:
- Questões genéticas: se um paciente tiver parentes próximos que sofrem ou sofreram de
depressão, ele terá maior susceptibilidade para deprimir, principalmente num contexto
estressante como esse. - Falta de suporte social: pacientes com pouco suporte social tendem a ter sentimentos
de solidão mais intensos, sobretudo se estivermos falando de pacientes idosos. - Dificuldade de diálogo com a equipe médica que cuida do paciente para lhe dar
orientações e discutir aspectos do diagnóstico e do tratamento
Fatores da doença
A presença de sintomas físicos como dor, fadiga, náuseas, falta de ar, falta de apetite,
que estão comumente presentes em vários tipos de câncer, tem influência na formação do
quadro depressivo. Em estágios avançados do câncer, as taxas de depressão aumentam
conforme o avanço do câncer.
Há também a perda gradual de funcionalidade, ou seja, a independência para realizar
as tarefas do dia-a-dia.
Outro motivo é que o câncer faz o organismo liberar diversas substâncias que
aumentam o estado de inflamação (citocinas pró-inflamatórias), além de acarretar a
desregulação do equilíbrio hormonal (chamada de disfunção neuroendócrina, como, por
exemplo, a elevação de secreção noturna do cortisol), mecanismos que também estão
implicados na gênese da depressão.
Fatores do tratamento
Muitas medicações utilizadas para tratar os cânceres podem ser nocivas para o
funcionamento do cérebro (neurotoxicidade) e, com isso, contribuírem para o surgimento dos sintomas depressivos.
Também durante o tratamento, a própria morte das células tumorais pode liberar as
mencionadas citocinas inflamatórias.
Além disso, algumas cirurgias para o tratamento podem gerar resultados esteticamente
ruins, o que pode mexer muito com a autoestima da pessoa como, por exemplo, a mastectomia no câncer de mama, já que as mamas representam um aspecto importante da feminilidade e da sexualidade da mulher.
Câncer, depressão e mortalidade
Os estudos mostram que, dentre os pacientes oncológicos, os pacientes deprimidos
exibem maiores taxas de mortalidade do que os pacientes sem depressão, mesmo quando se equiparam pacientes de uma mesma faixa etária, com o mesmo tempo de diagnóstico do
câncer e o tipo de câncer.
Esse aumento de mortalidade dentre os pacientes deprimidos se deve tanto a mortes
por suicídio, mas, em maior parte, por conta de causas de morte gerais relacionadas à própria progressão do câncer.
A depressão nos pacientes oncológicos não pode ser subestimada, pois ela traz
consequências sérias para a saúde do paciente e influencia negativamente na sua qualidade de vida.