Nos últimos anos, o uso medicinal de canabinoides vem ganhando cada vez mais atenção na mídia e no imaginário popular.
O meu interesse original seria o de abordar este assunto, mas a confusão de conceitos a ele relacionados parece tão disseminada e é tão prejudicial à discussão que considero imprescindível a realização de uma discussão preliminar.
A origem
Cannabis é um gênero de plantas originárias da Ásia Central, com uma vasta gama de utilidades descoberta pelo ser humano há pelo menos 10 mil anos atrás. Os principais atributos da planta eram a resistência de suas fibras, utilizadas para a confecção de cordas e tecidos, e o seu potencial psicoativo, utilizado inicialmente em contextos de rituais religiosos e com alguns usos medicinais, próprios de seu tempo, já descritos em farmacopéias chinesas do século I d.C.
A intervenção humana gerou grupos destinados à fabricação de cordas e tecidos, e portanto com baixas concentrações de princípio ativo, a que chamamos atualmente de cânhamo, e outras com concentrações cada vez mais altas de princípio ativo.
Maconha, em português corrente, é o nome das plantas da família da cannabis em que são encontradas concentrações significativas de princípio ativo (o THC, como veremos mais adiante), e utilizadas, portanto, por seus princípios psicoativos.
O conceito mais importante a ser guardado aqui é o fato de que cannabis e maconha não são sinônimos. Muitas plantas do gênero não possuem princípio ativo em quantidade relevante, e classificar toda planta do gênero cannabis como uma “droga” seria uma generalização bastante imprecisa.
No laboratório
Saindo da botânica e indo agora para o laboratório:
A pesquisa científica sobre os efeitos (psicoativos ou não) de derivados de plantas do gênero no nosso organismo gerou algumas descobertas importantes.
A primeira delas foi a do tetraidrocanabinol ou THC como princípio psicoativo da maconha. Por princípio psicoativo, entenda-se como a substância que promove alterações no nível de consciência, na capacidade de julgamento, ou na sensopercepção do indivíduo. Uma analogia seria pensar que o THC estaria para a maconha da mesma forma que o álcool estaria para o vinho.
Um pouco depois, uma descoberta muito curiosa foi feita: algumas moléculas da planta se ligavam a receptores específicos do corpo de animais vertebrados até aquele momento desconhecidos. Estes receptores foram então chamados de receptores canabinoides, e posteriormente foram descobertas diversas funções para este sistema de receptores, notadamente ligados à homeostase do corpo (regulação de temperatura, frequência cardíaca, apetite e síntese de lipídios, etc.).
Até esta descoberta, conhecia-se apenas os canabinoides encontrados na plantas, como o anteriormente mencionado THC e o canabidiol. Descobriu-se desde então que existem moléculas endógenas (isto é, fabricadas pelo próprio corpo) que atuam nestes receptores, e a indústria farmacêutica vem sintetizando novas moléculas com ação nos mesmos.
Todas as moléculas anteriormente mencionadas recebem o nome de canabinoides.
Os canabinoides, portanto, são substâncias que podem ou não ser encontrados em plantas, podem ou não ter um efeito psicoativo e, finalmente, podem ou não ter um efeito terapêutico sobre determinadas patologias.
A combinação de probabilidades aqui é importante pois muito comumente se vêem opiniões leigas combinando-as de diversas maneiras equivocadas.
Nem todo canabinoide com uso medicinal é encontrado em plantas (nem muito menos na maconha, especificamente), nem todo canabinoide encontrado em plantas possui uso medicinal para uma determinada patologia e nem todo canabinoide com uso medicinal tem ou deixa de ter efeitos psicoativos.
Mais importante ainda é o fato de que seria exatamente destas generalizações que viria a maior fonte de desinformações a respeito do uso medicinal de canabinoides.
Curiosamente, é difícil tratar deste próprio assunto da desinformações sem cair o próprio autor em generalizações rasas, e, tomando este cuidado, descreveremos dois grupos que comumente emitem opiniões não-científicas sobre o assunto.
“Planta de poder”
O primeiro grupo seria o que classificaria a cannabis como uma “planta de poder”. O termo não é exclusivo de uma linha religiosa ou filosófica específica. Temos desde religiões que defendem os poderes místicos da planta até indivíduos que possuem convicções pessoais a respeito da capacidade especial que a planta e seus derivados teriam para, de alguma forma, fazer bem aos que deles se utilizam.
É importante entender que o argumento se coloca em um campo místico, e não científico. Nenhum argumento da Ciência Ocidental seria capaz de confirmar ou refutar o posicionamento de qualquer pessoa sobre questões de fé, sejam elas a respeito da existência ou não de Deus ou dos poderes místicos de uma planta. O corpo de evidências abordado aqui não pertenceria ao mundo material, naturalmente.
“É errado e ponto”
Um segundo grupo é o que possui contra a cannabis e seus derivados uma posição de repúdio e contrariedade viscerais, e cujo posicionamento independe de argumentos materiais ou racionais.
Para um grupo significativo da sociedade, o ato de usar cannabis é errado, e ponto. O julgamento moral, mais uma vez, não é passível de ser modificado com argumentos científicos.
Maconha com uso medicinal
No próximo artigo, pretendo desvendar os argumentos científicos que perpassam a maconha medicinal. Me comprometo a tentar me distanciar ao máximo de toda convicção pessoal ou julgamento moral que possam comprometer a minha imparcialidade, e convido o leitor a, na medida do possível fazer o mesmo.
Nos últimos anos, o uso medicinal de canabinoides vem ganhando cada vez mais atenção na mídia e no imaginário popular. O meu interesse original seria o de abordar este assunto, mas a confusão de conceitos a ele relacionados parece tão disseminada e é tão prejudicial à discussão que considero imprescindível a realização de uma discussão preliminar. A origem Cannabis é um gênero de plantas originárias da Ásia Central, com uma vasta gama de utilidades descoberta pelo ser humano há pelo menos 10 mil anos atrás. Os principais atributos da planta eram a resistência de suas fibras, utilizadas para a confecção de cordas e tecidos, e o seu potencial psicoativo, utilizado inicialmente em contextos de rituais religiosos e com alguns usos medicinais, próprios de seu tempo, já descritos em farmacopéias chinesas do século I d.C. A intervenção humana gerou grupos destinados à fabricação de cordas e tecidos, e portanto com baixas concentrações de princípio ativo, a que chamamos atualmente de cânhamo, e outras com concentrações cada vez mais altas de princípio ativo. Maconha, em português corrente, é o nome das plantas da família da cannabis em que são encontradas concentrações significativas de princípio ativo (o THC, como veremos mais adiante), e utilizadas, portanto, por seus princípios psicoativos. O conceito mais importante a ser guardado aqui é o fato de que cannabis e maconha não são sinônimos. Muitas plantas do gênero não possuem princípio ativo em quantidade relevante, e classificar toda planta do gênero cannabis como uma “droga” seria uma generalização bastante imprecisa. No laboratório Saindo da botânica e indo agora para o laboratório: A pesquisa científica sobre os efeitos (psicoativos ou não) de derivados de plantas do gênero no nosso organismo gerou algumas descobertas importantes. A primeira delas foi a do tetraidrocanabinol ou THC como princípio psicoativo da maconha. Por princípio psicoativo, entenda-se como a substância que promove alterações no nível de consciência, na capacidade de julgamento, ou na sensopercepção do indivíduo. Uma analogia seria pensar que o THC estaria para a maconha da mesma forma que o álcool estaria para o vinho. Um pouco depois, uma descoberta muito curiosa foi feita: algumas moléculas da planta se ligavam a receptores específicos do corpo de animais vertebrados até aquele momento desconhecidos. Estes receptores foram então chamados de receptores canabinoides, e posteriormente foram descobertas diversas funções para este sistema de receptores, notadamente ligados à homeostase do corpo (regulação de temperatura, frequência cardíaca, apetite e síntese de lipídios, etc.). Até esta descoberta, conhecia-se apenas os canabinoides encontrados na plantas, como o anteriormente mencionado THC e o canabidiol. Descobriu-se desde então que existem moléculas endógenas (isto é, fabricadas pelo próprio corpo) que atuam nestes receptores, e a indústria farmacêutica vem sintetizando novas moléculas com ação nos mesmos. Todas as moléculas anteriormente mencionadas recebem o nome de canabinoides. Os canabinoides, portanto, são substâncias que podem ou não ser encontrados em plantas, podem ou não ter um efeito psicoativo e, finalmente, podem ou não ter um efeito terapêutico sobre determinadas patologias. A combinação de probabilidades aqui é importante pois muito comumente se vêem opiniões leigas combinando-as de diversas maneiras equivocadas. Nem todo canabinoide com uso medicinal é encontrado em plantas (nem muito menos na maconha, especificamente), nem todo canabinoide encontrado em plantas possui uso medicinal para uma determinada patologia e nem todo canabinoide com uso medicinal tem ou deixa de ter efeitos psicoativos. Mais importante ainda é o fato de que seria exatamente destas generalizações que viria a maior fonte de desinformações a respeito do uso medicinal de canabinoides. Curiosamente, é difícil tratar deste próprio assunto da desinformações sem cair o próprio autor em generalizações rasas, e, tomando este cuidado, descreveremos dois grupos que comumente emitem opiniões não-científicas sobre o assunto. “Planta de poder” O primeiro grupo seria o que classificaria a cannabis como uma “planta de poder”. O termo não é exclusivo de uma linha religiosa ou filosófica específica. Temos desde religiões que defendem os poderes místicos da planta até indivíduos que possuem convicções pessoais a respeito da capacidade especial que a planta e seus derivados teriam para, de alguma forma, fazer bem aos que deles se utilizam. É importante entender que o argumento se coloca em um campo místico, e não científico. Nenhum argumento da Ciência Ocidental seria capaz de confirmar ou refutar o posicionamento de qualquer pessoa sobre questões de fé, sejam elas a respeito da existência ou não de Deus ou dos poderes místicos de uma planta. O corpo de evidências abordado aqui não pertenceria ao mundo material, naturalmente. “É errado e ponto” Um segundo grupo é o que possui contra a cannabis e seus derivados uma posição de repúdio e contrariedade viscerais, e cujo posicionamento independe de argumentos materiais ou racionais. Para um grupo significativo da sociedade, o ato de usar cannabis é errado, e ponto. O julgamento moral, mais uma vez, não é passível de ser modificado com argumentos científicos. Maconha com uso medicinal No próximo artigo, pretendo desvendar os argumentos científicos que perpassam a maconha medicinal. Me comprometo a tentar me distanciar ao máximo de toda convicção pessoal ou julgamento moral que possam comprometer a minha imparcialidade, e convido o leitor a, na medida do possível fazer o mesmo.
No Brasil, até meados do século XIX, os pacientes psiquiátricos eram objeto da justiça: os violentos iam para as prisões e os pacíficos perambulavam pelas ruas sem receberem qualquer tipo de tratamento especializado.
A Mancini Psiquiatria e Psicologia oferece soluções customizadas em Saúde Mental para a sua empresa, desde a detecção e tratamento de transtornos psiquiátricos e psicológicos até diagnósticos e intervenção sistêmicos da identidade corporativa.