Bulimia: uma visão comportamental
Vivemos em uma sociedade que valoriza o corpo magro. Dietas, exercícios e as mais diferentes estratégias são utilizadas como forma de alcançar o corpo ideal e considerado belo pela sociedade. Neste contexto, alguns indivíduos acabam sendo acometidos por sofrimentos significativos, e dentre eles existe um transtorno conhecido como bulimia.
Na bulimia, existem três aspectos essenciais: episódios recorrentes de compulsão alimentar (consumo de uma quantidade de alimentos superior ao que a maioria dos indivíduos consumiria nas mesmas situações acompanhado de sensação de perda de controle), comportamentos compensatórios inapropriados recorrentes para impedir o ganho de peso (vômitos autoinduzidos; uso indevido de laxantes, diuréticos ou outros medicamentos; jejum; ou exercícios em excesso) com frequência de uma vez por semana nos últimos 3 meses e autoavaliação indevidamente influenciada pela forma e pelo peso.
Para se compreender os comportamentos, deve-se sempre pensar em quais contextos eles ocorrem e as consequências que produzem. Quando se pensa na alimentação enquanto necessidade básica do corpo, e manutenção do equilíbrio do corpo, o comportamento de se alimentar geralmente é acompanhado por uma sensação de bem-estar.
Se a pessoa experiencia emoções negativas (como tristeza, ansiedade, raiva), e neste momento tem um episódio de compulsão alimentar, o alimento no corpo gera uma sensação de bem-estar e prazer que é incompatível com a emoção negativa (não dá para sentir tristeza e prazer de forma intensa ao mesmo tempo). Ou seja, ao se alimentar de forma compulsiva, em alguns momentos o indivíduo obtém a possibilidade de possuir menos emoções negativas por estar sentindo a sensação de prazer do alimento, cumprindo uma função de regulação das emoções. Deve-se lembrar, porém, que são pessoas que em geral se auto-avaliam (se enxergam) de acordo com o peso e forma que estão.
Como alimentação excessiva gera ganho de peso, como forma de fugir do desconforto possível do aumento de massa corporal, o indivíduo então utiliza estratégias para evitar que ele ocorra (como vômito autoinduzido, jejum, medicamentos ou exercícios), junto com a diminuição da probabilidade de ganho de peso. Porém, produz possíveis prejuízos a fisiologia de seu corpo.
Dentre as estratégias compensatórias, é especialmente importante comentar sobre o jejum. O jejum envolve em geral se privar de se alimentar por um período prolongado. Quando estamos em privação de alimentos, por uma herança inclusive evolutiva, nosso corpo tende a considerar alimento como algo muito motivador e isso mobiliza nosso comportamento de forma intensa.
Nesse momento em que estamos sem nos alimentar, o alimento passa a ser muito mais recompensador do que o normal. Quando então o indivíduo acessa os alimentos, pode ser que ele consuma muito mais do que normalmente consumiria, e em quantidade superior ao que o saciaria, um processo que com frequência está envolvido nos episódios de compulsão.
É importante que o indivíduo que possui sintomas típicos de bulimia busque ajuda profissional para que seja avaliado e tratado adequadamente.
Bibliografia
American Psychiatry Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental disorders – DSM-
5. 5th.ed. Washington: American Psychiatric Association, 2013.
VALE, A. M. O. d.; ELIAS, L. R. Transtornos alimentares: uma perspectiva analítico- comportamental. Rev. bras. ter. comport. cogn., São Paulo , v. 13, n. 1, p. 52-70, 2011 .