Autocontrole: desenvolvendo estratégias eficazes
Assunto importante e discutido diariamente em nossa cultura, o autocontrole é um comportamento fundamental para a sociedade e para o bem-estar das pessoas. Agir considerando unicamente as consequências imediatas do comportamento pode ter muitos efeitos negativos a longo prazo, tanto para o indivíduo como para a sociedade.
Por uma questão cultural, o autocontrole teria origem na “força de vontade” ou em algum sentimento, causas internas que explicariam porque algumas pessoas se controlam em algumas situações e outras não.
Diferente da noção tradicional, para a análise do comportamento, os comportamentos devem ser explicados a partir de sua interação com o ambiente. Desta maneira é possível identificar quais variáveis aumentam ou diminuem sua probabilidade, e desenvolver estratégias mais eficazes para controlá-los.
Em uma definição dada por Rachlin (1991), autocontrole é um comportamento sob controle de uma consequência ambiental temporalmente atrasada (longo prazo) que concorre com uma consequência imediata. Outro ponto trazido pelo autor é a chamada magnitude (valor) da consequência.
Em geral, as consequências imediatas possuem menor magnitude, mas exigem menos espera, enquanto as atrasadas exigem mais tempo, porém são mais potentes. A interação entre o tempo de espera, e o valor das consequências definirá se uma pessoa apresentará um comportamento sensível às variáveis de longo prazo ou não.
Exemplo: Optar por ingerir alimentos saudáveis pode fazer com que a pessoa abdique do alto sabor dos alimentos não saudáveis no momento imediato, mas a longo prazo gera diversos benefícios à saúde e ao bem-estar físico em geral.
De acordo com a história individual de cada um, as pessoas se mostrarão mais ou menos sensíveis às consequências atrasadas de seu comportamento. Em alguns momentos o resultado a longo prazo de um comportamento é aversivo (negativo), mas o imediato é muito prazeroso, e a pessoa acaba reproduzindo esse padrão e sofrendo pelas consequências.
Em muitos casos, após não ter sido capaz de emitir um autocontrole, as pessoas experienciam sentimentos de culpa ou tristeza por não terem sido capazes de se controlar.
É possível, considerando o peso ambiental no autocontrole, desenvolver estratégias de organização ambiental que aumentam a probabilidade da emissão desses comportamentos.
Vamos ter como exemplo uma pessoa que gostaria de parar de comer um certo tipo de alimento. Essa pessoa já sabe que no passado, sempre que houve a disponibilidade desse determinado alimento em sua casa, ela o ingeriu possivelmente num padrão compulsivo, apesar de haver consequências negativas a longo prazo como ganho de peso, danos à saúde, e experiência de culpa e tristeza.
Considerando isso, não comprar o alimento, ou não deixá-lo disponível em sua casa pode ser uma estratégia de diminuir a probabilidade da ingestão, uma vez que sair para comprar o alimento é um comportamento muito mais custoso, e demorado, do que a simples abertura do local onde o alimento está estocado em sua casa, onde o acesso a ele é imediato e, portanto, tem sua probabilidade aumentada.
Cada comportamento deve ser analisado individualmente, junto com a história do indivíduo, entendendo quais são as consequências que estão mantendo o comportamento que a pessoa gostaria de controlar, e assim desenvolver uma estratégia para facilitar a eficiência do próprio controle. Apenas dizer para uma pessoa que ela deve ter mais “força de vontade” pouco a ajuda na mudança de seu comportamento.
Bibliografia
Rachlin, H. (1991). Self Control. Em H. Rachlin (Ed.), Introduction to modern behaviorism (3a . ed.) (pp. 264-286). New York: Freeman
1 Comment
Anete Mancini
Bom!!!