Autoconhecimento: porque é tão importante saber quem somos.
Autoconhecimento é uma palavra muito importante para a sociedade, e com frequência é associada à felicidade e algo a ser buscado por todos.
Existem diversas definições para autoconhecimento; hoje eu gostaria de falar a respeito da visão comportamental sobre o assunto.
De acordo com Tourinho (1993), na obra de Skinner, um dos fundadores da análise do comportamento, o autoconhecimento se refere geralmente a capacidade de identificar e relatar experiências internas (sentimentos, pensamentos, sensações), e os próprios comportamentos.
Explicar os próprios comportamentos, envolve também a habilidade de explicar e descrever eventos importantes que ocorrem antes ou depois do comportamento, e o efeito destes fatos sobre às emoções, pensamentos e ações.
Exemplo: Imagine que uma pessoa passe por uma discussão no trânsito e, alguns minutos depois, vá a uma loja comprar um objeto. A vendedora afirma que não possui a mercadoria que ela procura, e a partir disso a pessoa apresenta um comportamento agressivo (aumento de voz, fala excessiva, e expressões faciais que indicam raiva). A vendedora então diz se sentir desconfortável com o tom de voz do cliente, e pede para se acalmar.
Uma pessoa com um autoconhecimento desenvolvido, ao ser perguntada sobre o motivo de ter agido daquela maneira, seria capaz de descrever o comportamento, o sentimento, às sensações corporais do momento, mas também, a resposta da vendedora sobre o produto, o evento da briga no trânsito anterior que possivelmente a deixou num estado emocional alterado, e a maneira como a vendedora reagiu após seu comportamento. Pode ser que até mesmo eventos do seu passado mais distante, podem gerar uma influência nisso, uma vez que experiências anteriores semelhantes são sempre importantes ao se compreender um comportamento, e o indivíduo que se conhece poderá ter condições de identificar esses efeitos.
Em geral, quando se trata deste tema, é comum as pessoas dizerem que para se conhecer deve-se “olhar para dentro de si”. A análise do comportamento não nega isso, mas sugere a necessidade de olhar também para fora, no sentido de observar aquilo que ocorre antes, em que momentos se apresenta o comportamento e o que geralmente acontece após cada comportamento ou expressão de emoção.
Em alguns momentos, o que ocorre depois do comportamento pode ser a chave para compreender porque a pessoa continua tendo uma determinada atitude.
Um ponto fundamental nesse sentido é que este autoconhecimento é de origem social (Skinner, 1974). Isto significa que a maneira como o ambiente estimulou o sujeito a observar, explicar e descrever o próprio comportamento definirá a habilidade dele em ter conhecimento de si. Considerar apenas as respostas mais superficiais, como por exemplo “fiz isso porque estava com raiva”, como suficientes para explicar o motivo de uma ação, impedirá a observação de outros fatores além dos sentimentos anteriores ao comportamento e a ação em si.
Outra característica importante no autoconhecimento, é que quando a pessoa se torna mais “consciente de si” a partir de questionamentos feitos por sujeitos de seu ambiente, ela é capaz de prever e controlar melhor o próprio comportamento, potencializando o sucesso em seus objetivos e possivelmente agindo de maneira mais congruente com seus valores (Skinner, 1974).
Quando um indivíduo apresenta dificuldades e limitações em seu autoconhecimento, isso não significa que precise permanecer desta maneira para sempre. Uma vez que o autoconhecimento é desenvolvido a partir do ambiente social, a psicoterapia pode ser um instrumento fundamental para que a pessoa passe a desenvolver as habilidades e o conhecimento de si, em um ambiente seguro com ajuda profissional, e seja capaz de viver de maneira mais autêntica e efetiva.
Bibliografia
Skinner, B. F. (1974/2006). Sobre o Behaviorismo. São Paulo: Cultrix.
Tourinho, E. Z. (1993). O autoconhecimento na psicologia comportamental de B.F. Skinner – Belém: UFPA. CFCH.