Arrancando os cabelos
Joana é uma moça de 23 anos que entra no consultório usando um lenço cobrindo seus cabelos. Logo no início da consulta, ela retira o lenço e fica evidente o motivo de sua procura por ajuda.
Há uma grande área em seu couro cabeludo em que o cabelo estava rarefeito. Joana conta que desde o final de sua adolescência começou a ter o comportamento de arrancar alguns fios de cabelo. Conta que sempre ao final do dia quando estava descansando em seu quarto, começava a passar as mãos pelos seus cabelos e sempre que se deparava com algum fio que apresentava uma textura diferente, arrancava-o.
Diz que isso nunca lhe havia acarretado grandes preocupações. Contudo, atualmente, diante do estresse de terminar o TCC de sua faculdade e das cobranças de seu estágio, esse comportamento tem aumentado consideravelmente. Desse modo, tem sido visível a quantidade de cabelo que foi arrancado e ela começou a usar lenços para cobrir as áreas rarefeitas do couro cabeludo, por ser sentir muito envergonhada.
Estudos mostram que aproximadamente 1% da população sofre dessa condição, denominada tricotilomania, sendo mais frequente em mulheres adolescentes e adultas jovens. Trata-se de um quadro clínico no qual o indivíduo tende a arrancar fios de cabelo ou de pelos de seu corpo, que pode acontecer de forma “automática” (sem que a pessoa se dê conta de que está fazendo isso) ou com grande foco atencional. Apesar de o couro cabeludo ser a área mais frequente, esse comportamento pode envolver outras áreas, como cílios, sobrancelhas, pelos de braços, pernas e axilas.
Geralmente esse comportamento aparece em momentos em que a pessoa vivencia afetos negativos (como ansiedade, angústia) ou durante atividades de repouso (como assistir TV, ler, falar ao telefone). Além do mais, sabe-se que diante de situações mais estressantes, há uma propensão a aumentar essa atividade.
Algumas pessoas desenvolvem comportamentos de levar o fio arrancado à boca, podendo ficar mordiscando o cabelo ou até mesmo engoli-lo (o que é denominado de tricofagia e pode acarretar várias complicações para a saúde, como alteração do apetite, dificuldade de absorção de algumas vitaminas e constipação). Ademais, é comum haver outros comportamentos associados, tais como morder as unhas, mordiscar os lábios, contrair a face. Os portadores de tricotilomania também são frequentemente diagnosticados com transtornos de ansiedade e transtorno obsessivo-compulsivo.
Infelizmente, sabe-se que muitos indivíduos demoram a buscar ajuda por se envergonharem desse comportamento. É importante saber que se trata de uma condição passível de tratamento. Não deixe de buscar ajuda!