A clínica das compulsões
Já faz algum tempo, falamos sobre compulsão alimentar. Volto hoje para tratar das COMPULSÕES num sentido mais amplo, que se aplique a todas elas, ao passo que o comportamento é similar, o que muda é o objeto do vício.
Entende-se por compulsão, o comportamento em que o “freio” é menor que o impulso. Portanto, quando o indivíduo é incapaz de controlar seu desejo, seja por álcool, drogas, comida, jogo ou compras, o sinal de alerta se acende.
Veja, o grande vilão não é o objeto em si, mas a ligação que se estabelece com ele. Tomemos como exemplo o chocolate, as frituras, dentre outros alimentos tidos como prejudiciais à saúde. Se você os comer uma vez na semana, em pouca quantidade, não será tão prejudicial quanto comer arroz integral com feijão em quantidades exorbitantes todos os dias.
Todo excesso, independente do objeto de ligação, esconde uma falta que se manifesta na compulsão como sintoma. Tais objetos, enquanto subterfúgios para tamponar a falta, podem causar danos imensuráveis, pois, acima de tudo, mascaram a realidade que tanto se tenta esconder por meio da anestesia.
Esses objetos deflagram também um descontrole no comportamento, interferindo na vida, nas relações e na percepção de que o prazer está no “muito” e não no “bom”. O compulsivo é incapaz de adiar gratificação e é movido à recompensa. “Eu mereço”, “é só hoje”, “só porque estou triste” ou “só para comemorar”. As justificativas são infinitas e o resultado é um só: o objeto passa a controlar o sujeito e não o contrário.
Por isso, o tratamento das compulsões consiste, em grande parte, em desconstruir ou ressignificar suas crenças, buscando compreender causas e gatilhos e, principalmente, repensar e mudar o COMPORTAMENTO. Claro que o tratamento varia de acordo com a abordagem utilizada e tem efeitos diversos para cada indivíduo, portanto cabe ao paciente buscar aquela com a que melhor se identifica.