A “alta” no processo psicoterápico
A finalização do processo terapêutico, no que tange à psicanálise, deve ser entendida, diferentemente da “cura” proposta pelo modelo médico, como o término da experiência que possibilitou ao paciente maior autonomia e recursos psíquicos para enfrentar as adversidades inerentes à vida a partir do auto-conhecimento ou da aprendizagem com a relação transferencial.
Portanto, o termo mais adequado para o modelo psicodinâmico seria “finalização” e não cura, enquanto o trabalho interno e pessoal é interminável. Nesse sentido, há que se compreender as expectativas de cada paciente quanto ao processo terapêutico, bem como seus limites em termos financeiros, de tempo e de deslocamento. Muitos pacientes não estão dispostos a investir numa análise a longo prazo e outros não têm indicação para tal. Por este motivo, a finalização do processo terapêutico relacional (terapeuta-paciente) também deve ser decidida dentro dessa relação, isto é, o fim precisa ser discutido e trabalhado.
Segundo Etchegoeyn (1989), o que interessa numa análise ou psicoterapia é que os sintomas que antes se associavam a um sofrimento constante não pesem mais como antes. De modo que se pode pensar em alguns indicadores:
a) a modificação, intensidade e a frequência dos sintomas ou as atitudes que se adotam perante eles é um guia;
b) a normalização da vida sexual (alcance da genitalidade);
c) as relações familiares também devem estar modificadas;
d) modificação e harmonização das relações sociais – pois enquanto houver conflito manifesto e difícil manejo com o ambiente, a psicoterapia não pode estar findada;
e) indicadores linguísticos, ou seja, indicativos de uma maior plasticidade egoica, em que se possa observar um ego capaz de incorporar qualidades que lhe faltavam e moderar as que tinha em excesso;
f) que possa ser visualizada uma diminuição da angústia e da culpa.
Sendo assim, não há um término ideal, porque nem todos os conflitos se extinguirão ou nem todo paciente sairá com a personalidade totalmente integrada. Mas o que se busca é a capacidade de desenvolver insights, que nada mais é que conhecimento consciente dos processos inconscientes. Este sim é duradouro e pode possibilitar grandes mudanças na personalidade do indivíduo e no fortalecimento de seu ego.