Como o TOC pode atrapalhar a vida profissional?
O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é um transtorno mental que afeta cerca de 2% da população ao longo da vida. O TOC é caracterizado pela ocorrência de obsessões e/ou compulsões. As obsessões são pensamentos, impulsos ou imagens que vêm à mente de forma frequente e indesejada, trazendo desconforto. Já as compulsões são comportamentos que são repetidos ou ações mentais realizadas a fim de aliviar a angústia associada às obsessões, ou para seguir regras que são rigidamente seguidas pelo indivíduo. Como característica, os sintomas costumam trazer grande impacto no dia-a-dia ou ocorrerem por mais de 1 hora por dia. Existem diferentes formas desses sintomas se apresentarem, como mania de limpeza, ordem e simetria, pensamentos proibidos ou tabus, e de causar danos a si/outros e checagem (ex.: checar se fechou a porta).
Se por um lado fica fácil imaginar como isso pode ocupar bastante tempo no dia-a-dia em formas moderadas e graves, pouco refletimos sobre como isso traz impacto no ambiente de trabalho – e traz. Primeiro, que o nível de impacto dos sintomas obsessivos-compulsivos na vida de cada varia. Segundo, como as obsessões e compulsões são heterogêneas, a forma de impacto no cotidiano e no trabalho também é heterogênea. Terceiro, que não só pelo tempo gasto há potencial impacto, mas por eventual evitação a situações específicas que piorem os sintomas ou mesmo obstáculos específicos, a depender dos sintomas de cada um. Por exemplo, pacientes com sintomas obsessivos-compulsivos de simetria e ordenação podem ter dificuldade em completar trabalhos solicitados. Outras situações podem ocorrer, como atrasos no trabalho por gastar muito tempo executando compulsões, estar ao redor de pessoas e participar de reuniões, caso gatilhos estejam presentes em situações sociais, desconcentração por obsessões recorrentemente vindo à mente, levando a distração.
O TOC não devidamente diagnosticado ou tratado inadequadamente resulta em claros prejuízos. Segundo um estudo realizado nos Estados Unidos da América, 38% dos pacientes com TOC relataram não estar aptos a trabalhar por motivos psiquiátricos, evidenciando o grande impacto que os sintomas podem ter na capacidade laboral. Ainda, é comum que, sem o tratamento adequado, haja mais faltas no trabalho e menor produtividade.
Em um ambiente de trabalho saudável e compreensível, é possível realizar adaptações específicas, a fim de contornar as dificuldades trazidas pelos sintomas. Estratégias para gerenciamento de tempo, bem como flexibilização de prazos, programas de psicoeducação, opção de realizar trabalho remotamente etc. Mais do que nunca, cada caso é um caso.
Para essa adaptação, é preciso um ambiente acolhedor e de respeito, em que o paciente se sinta confortável em expor ao seu empregador sobre a condição. Entretanto, o paciente não é obrigado a detalhar sobre sua condição mental. O que se observa é que muitas vezes, efetivamente, não se fala sobre isso, por receio do estigma e opiniões negativas que podem se suceder.
O TOC tem tratamento, importante para uma redução significativa dos sintomas. O tratamento inclui a psicoterapia e a medicação; em geral, utiliza-se antidepressivos em maiores doses do que o habitual. Muitos pacientes apresentam melhora importante dos sintomas e podem voltar a ter uma melhor qualidade de vida.