Transtorno bipolar piora com a idade?
Uma questão comum na prática clínica é se o transtorno bipolar tem piora com avanço da idade. Segundo estudo mais recente, o pico da idade de início se dá aos 19.5 anos, com cerca de metade dos casos se iniciando até os 33 anos de idade.
O curso natural do transtorno bipolar é caracterizado por mudanças cíclicas no humor. Além disso, compreendemos-no como um transtorno mental associado a uma progressão da doença, com piora de diferentes características, caso não se intervenha com o tratamento adequado. Os estudos indicam que quando mais episódios de humor ocorrerem, maior chance de novos episódios, com menos tempo de recuperação entre eles, aumenta o risco de comorbidades psiquiátricas (ex.: ansiedade, abuso de substâncias psicoativas), deterioração cognitiva e dificuldade de melhorar com o tratamento, apresentando uma resistência progressiva às medicações.
Os estudos mostram que mudanças estruturais no sistema nervoso central, bem como alterações cognitivas, após um primeiro episódio de mania podem ser resolvidas se não houver uma nova crise no primeiro ano da doença. Então, uma das chaves para evitar sequelas e a piora gradual ao longo dos anos é o tratamento precoce, desde o primeiro episódio de humor.
Muitas vezes, o tratamento pode ser difícil, não sendo suficiente apenas o uso de apenas uma medicação, sendo infelizmente muito comum a necessidade do uso de diferentes combinações de medicamentos – tal como é para diferentes condições clínicas, que também demandam diferentes combinações medicamentosas. Inclusive, sabe-se hoje que o tratamento combinado é mais efetivo para a prevenção de novas crises.
Ainda há pesquisas limitadas acerca dessa progressão, sendo necessária um aprofundamento nesse campo de estudo. Entretanto, sabe-se que efetivamente alguns pacientes apresentam um declínio em seu funcionamento e cognição, conforme os anos passam. Segundo alguns estudos, pacientes com transtorno bipolar têm, inclusive, maior risco para síndromes demenciais. Entretanto, é importante destacar que o declínio pode ser uma consequência da gravidade de base do quadro clínico do paciente. De fato, os pacientes são muito diferentes entre si, com trajetórias distintas. Neste sentido, é importante considerar que o tratamento é a principal forma de se conseguir uma melhor trajetória dentro de sua própria história, visando a menor ocorrência possível de crises e, com isso, minimizando o possível comprometimento e sequelas da doença.