As semelhanças entre o puerpério e o isolamento social
Você sabe o que é puerpério? No mundo médico, considera-se que é o período de 6 semanas após o parto. No dicionário, lê-se “o tempo para que os órgãos genitais voltem ao seu tamanho anterior ao da gestação”. Mas quem vive isso – as puérperas – ou acompanha a situação de perto percebe que esse tempo não tem prazo delimitado.
Começando pela definição do “retorno do corpo”. Todo o tempo que se transcorreu e as transformações que ocorreram tornam impossível um “retorno a tudo o que era antes”. O útero se expandiu como uma bexiga já foi enchida uma vez, os músculos do abdome e a pele se estiraram. Podem ter surgido estrias ou não. Mas esse corpo é novo. Ele é portador de muito mais histórias do que antes de carregar um bebê.
E não falando apenas de corpo, é impossível que a vida retorne ao que era antes. Nem se o bebê não estiver mais aí. Porque, mesmo sem que a criança tenha nascido, a ideia da existência dele já mudou a perspectiva da pessoa que o gestou, nem que por algumas semanas. E quando falamos de bebês nascidos e vivos, a rotina muda. As prioridades se transformam.
O puerpério, psiquicamente, é a fase em que a mulher busca se adaptar à realidade de sua nova vida. Corpo novo, vida nova, pessoa nova. A mulher é convocada a mergulhar em um espaço que ela dificilmente entrou antes. Novas funções, responsabilidades, choros. A vida deixa de ser sobre ela – antes a grávida paparicada – e passa a ser da – sua majestade, o bebê.
Nessa sequência de ouvir choro, pegar no colo, alimentar, pôr o bebê para arrotar, trocar a fralda, pôr para dormir, perde-se noção do horário, do clima, da data. Existe uma solidão imensa, uma perda por não se poder fazer o que se fazia antes – sair para ver amigos, ver série no fim do dia, trabalhar – e uma dúvida de quanto tempo isso vai levar. E como vamos sair de tudo isso. Me sentirei igual? Tem como voltar a se sentir do mesmo jeito que se era?
No isolamento social, as coisas funcionam com uma dinâmica parecida. Presos dentro de casa, não sabíamos quanto tempo isso duraria. Imaginávamos que voltaríamos a fazer o que fazíamos antes de tudo começar. Mas as coisas aconteceram, o tempo passou, e por mais que a gente já tenha voltado a trabalhar, ir a restaurantes, ver família e amigos, nada está igual.
Passamos por muitos momentos de dúvida. Ficamos sobrecarregados trabalhando de casa ou lamentando a perda de um emprego. Para quem tem filhos em idade escolar, passamos a acumular responsabilidades que não tínhamos. Não podemos apagar o que aconteceu. Tivemos momentos difíceis. Ao mesmo tempo, alguns que nunca teríamos tido se não estivéssemos nessa situação.
Somos novas pessoas agora. Transformamos algo dentro de nós. Talvez estejamos sofrendo e precisamos de ajuda. Talvez antes de tudo a gente já estivesse assim e só conseguiu perceber nesse momento. Mas não voltamos a ser quem éramos, somos algo novo.
E assim é o puerpério também. Portanto, mesmo sendo um momento solitário, difícil, estranho, ele nos dá a oportunidade de transformar coisas. E inclusive para melhor. Não quer dizer que o processo é fácil. Ele precisa de muito apoio, aceitação, pedidos de ajuda. Mas ao buscar tudo isso, a transformação dentro desse casulo pode resultar em uma linda borboleta.
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