Como saber se meu relacionamento é abusivo?
Nos últimos anos, o tema de “relacionamento tóxico ou abusivo” tem aumentado. O tema foi ficando mais aparente com a internet, já que as pessoas têm mais confiança para falar anonimamente e o alcance é maior. Mas, os relacionamentos abusivos continuam acontecendo. Isso porque, por mais que se tenha acesso à informação, as pessoas que estão nessa situação podem não conseguir reconhecer a situação ou têm dificuldade em sair dela.
Quem vê de fora consegue identificar facilmente, mas a pessoa que está dentro e envolta em um turbilhão de emoções e acontecimentos não tem essa clareza. Por isso, aqui está um pequeno guia caso você esteja suspeitando que está ou esteve em um relacionamento abusivo. Outra observação é que nem sempre são homens que abusam mulheres. Relacionamentos tóxicos podem ocorrer de mulher para homem ou em casais Homoafetivos. Independe de cor, classe social, escolaridade. Para fins de diferenciação, usaremos feminino para vítima e masculino para parceiro tóxico, mas é meramente ilustrativo.
Como está seu humor?
Talvez o primeiro passo para se perguntar se você está em uma situação dessas é: como você se sente nesse relacionamento? Por mais que nosso racional nos pregue peças, com explicações para cada situação, as sensações físicas e emoções são um ótimo termômetro. Pergunte-se: você se sente mais ansiosa do que costumava? Tem sentido mais tensão muscular, gastrites, dores de cabeça? Passa muito tempo do dia pensando nele, preocupada em irritá-lo ou desapontá-lo? Isso tem interferido nas outras atividades do seu dia por falta de concentração? Esse é o ponto de partida para investigar a saúde do seu relacionamento. Caso você tenha reparado em algumas das coisas citadas acima, busque ser sincera quanto aos próximos itens, atentando-se aos fatos e evitando justificá-los.
Ele já encostou em você?
Se seu parceiro já tiver sido fisicamente agressivo com você, você está em um relacionamento abusivo. Mesmo que a pessoa tenha uma desculpa, isso não é aceitável. Geralmente essas agressões começam “leves”, com empurrões, apertões em brigas, ou chacoalhões, e depois podem evoluir para socos, ou pontapés. O simples fato de você sentir que ele poderia te ferir fisicamente em algum momento é um sinal de alerta.
Nessas situações, é comum o agressor colocar a culpa na vítima: “eu fiz isso porque você me descontrolou com (alguma coisa que a vítima fez)”. O problema está no fato de que o descontrole é responsabilidade dele. Em relacionamentos saudáveis, as pessoas ficam magoadas caso o outro tenha feito algo que não gostou. Elas podem ter discussões de relacionamentos, ficarem um tempo mais isolados, mas elas prezam pela integridade física de quem amam.
Não existe isso de alguém provocar uma agressão. Quem provoca é quem agride.
Ele controla ou influencia a sua vida?
Como têm funcionado seus outros relacionamentos? Você sente que pode ver seus amigos ou familiares como antigamente? Uma estratégia usada por abusadores é afastar a vítima de pessoas que possam ajudá-la a perceber a situação e sair dessa. Então são plantadas sementinhas de discórdia: são feitas algumas observações sobre como os outros não são confiáveis, algumas críticas ali, e a vítima passa a sentir que não pode contar com os outros.
Uma outra coisa que acontece é que os outros passam a alertar a vítima sobre o parceiro tóxico antes que ela perceba a situação. A vítima, se sentindo pouco apoiada, se afasta dos amigos ou familiares no começo do relacionamento. Isso se mantém porque o parceiro adota o discurso de que “os outros não entendem e que a pessoa só pode confiar nele”. E por vezes a vítima conseguiu entender a dinâmica e se arrepende do distanciamento, mas está com a autoconfiança tão abalada que tem vergonha de admitir que estava errada.
Se isso estiver acontecendo com você, busque retomar o contato, mesmo sentindo vergonha. As pessoas que gostam de você ficarão felizes em ter notícias e te ajudar. Lembre-se, quem te humilha é a pessoa tóxica, e não quem se importa com você. Quebrar o silêncio com pessoas confiáveis é o que vai te dar força para sair dessa. Então, se em algum momento você lembra que podia confiar em alguém, dê-se crédito e fale com ela.
O ciclo dos relacionamentos abusivos
Por último, atente-se a esse ciclo. Ele é bem comum e é o que traz grande fator de confusão para as pessoas em relacionamentos abusivos. A situação começa com um evento explosivo ou que passou do limite. Pode ser uma briga, uma agressão, uma tensão com a qual a vítima não concorda. Ela se revolta e conclui que não pode continuar esse relacionamento dessa maneira. Assim, ela decide terminar o relacionamento, se afastar, brigar de volta. Fica um clima ruim por um tempo, até que o parceiro tóxico entra em contato pedindo perdão e agindo como se fosse perfeito ou fosse mudar. Nesse momento a vítima, que gosta do parceiro e desse pedido de desculpas, retoma o relacionamento. Mas a tensão passa a aumentar ao longo do tempo e ela volta a sentir que está pisando em ovos para não desagradar o parceiro. E em certo momento, um novo evento explosivo volta a acontecer.
Em geral, as vítimas se sentem tão isoladas de outras pessoas, em tanto sofrimento físico e psíquico, que tendem a focar na esperança da mudança. É mais fácil e menos estressante. A alternativa seria resistir ao pedido para voltar, mas seria se desfazer da ideia de que as pessoas são boas e que podem melhorar. O grande problema é que a pessoa que pede desculpas não sabe por que a fez sofrer. Ela aprendeu que se pede desculpas quando se fere alguém. Mas como ela não sabe, não entende, ou não busca entender por que a outra pessoa se ofendeu, vai ser difícil modificar o comportamento.
Por que estou dizendo isso? Porque o grande problema desses relacionamentos é a empatia. Para as vítimas, que perdoam as transgressões e buscam justificar o ocorrido, há empatia demais. Para os tóxicos, que não conseguem entender como isso pode ter ferido alguém, há empatia de menos. E a tendência é cada explosão ser mais um avanço na liberdade da vítima, o que torna a situação mais intensa. E a cada conciliação, o limite foi estendido. O que era absurdo se torna o novo normal.
Enfim, sabemos que relacionamentos tóxicos são situações muito complexas e sofridas. O envolvimento das pessoas é muito grande e o laço não é fácil de desfazer sem reconhecimento da situação e planejamento. Caso você esteja desconfiando de estar em uma situação assim, busque conversar com alguém imparcial. Um profissional de saúde mental poderá te escutar atentamente e te ajudar a pensar em como melhorar o que você sente. Você pode decidir que não consegue sair disso no momento, mas podemos pelo menos ajudar você a melhorar seu humor e te fortalecer. Conte conosco!
Se precisa de ajuda ou está com dúvidas, não deixe de se consultar com profissionais que podem te ajudar.