Vergonha e Culpa
Sentimentos fazem parte da vida. Diferentes situações nos geram sentimentos, e eles são um importante sinal da forma como estamos sendo afetados por cada situação. Dentre as diversas confusões de emoções, vergonha e culpa são emoções que comumente são utilizadas de forma idêntica. Brene Brown (2013), pesquisadora que estuda relacionamentos e a importância da vulnerabilidade nos traz informações importantes sobre a vergonha, e a diferença entre ela e a culpa.
Para Brown, a vergonha seria uma experiência universal para os humanos, e ela envolveria o medo de perda de conexão e vínculo com alguém ou alguma comunidade. Os seres humanos nascem sensíveis a vínculos e conexões, tantos o ponto de vista biológico como cultural. O sentimento de vergonha normalmente surge quando temos medo que algo que fizemos ou deixamos de fazer nos torne indignos de ser aceito ou manter um vínculo com alguém. Em sua pesquisa, Brown (2013) concluiu em sua pesquisa que vergonha seria o sentimento de dor intensa ou experiência de acreditar que somos defeituosos e, isto nos tornaria não dignos de amor e aceitação.
Os temas tipicamente que trazem vergonha, De acordo com a pesquisa de Brown (2013) são: aparência e imagem corporal; dinheiro e trabalho; maternidade/paternidade; família; criação de filhos; saúde mental e física; vícios; sexo; velhice; religião; traumas; estigmas e rótulos.
As emoções tipicamente fazem com que nos concentremos em algum detalhe ou ponto específico. No caso da vergonha, ela faz com que nos concentremos em esconder transgressões ao que a nossa comunidade considera inadequado, e se elas já forem públicas, nos direcionamos para comportamentos que amenize a situação (Linehan, 2018).
Apesar de culpa também ter relação com a forma como nos sentimos sobre comportamentos que tivemos, a principal diferença entre ela e a vergonha, é que na culpa nós entendemos nosso comportamento como inadequado, ou negativo. Já na vergonha, o olhar é de que aquele comportamento sinaliza que na verdade nós somos indignos e negativos/inadequados. Ao invés de olhar para a ação ou falta dela apenas enquanto um comportamento inadequado, a pessoa sente que ela em si é inadequada (Brown, 2013). O impacto emocional, portanto, das duas emoções é muito diferente. Ao olhar um determinado comportamento que a pessoa considera inadequado, como um sinal de que ela é inadequada, cria-se um sofrimento muito maior do que entender que apenas o comportamento dela foi inadequado.
Brown, B. A coragem de ser imperfeito: como aceitar a própria vulnerabilidad, vencer a vergonha, e ousar ser quem você é pode levá-lo a uma vida mais plena. Rio de Janeiro: Sextante, 2013.
Linehan, M. M. Treinamento de Habilidades em DBT: Manual de Terapia Comportamental Dialética para o Paciente. 2. Ed. São Paulo: Artmed, 2018