Autismo – Parte 1
O Autismo, uma das variações do Transtorno do Espectro Autista – como classificado pelo Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM) – é descrito como um transtorno mental que se evidencia principalmente pelo comprometimento na interação social, na comunicação e no comportamento repetitivo (estereotipias).
Seus sinais podem ser observados logo nos primeiros anos de vida, quando a mãe já percebe que o bebê não estabelece contato visual. Suas causas são multifatoriais e controversas, envolvendo um componente hereditário e ambiental, melhor explicado pela epigenética.
O Autismo atinge de um a dois indivíduos a cada 1.000 pessoas no mundo e tem maior prevalência em meninos do que em meninas. Este número vem aumentando consideravelmente nos últimos anos, até por mudanças na prática do diagnóstico. No Brasil, estudos epidemiológicos não são conclusivos.
Psicanálise e neurociência fazem uma leitura do autismo bastante semelhante em alguns aspectos. Ambos identificam uma dificuldade importante entre o autista e seu semelhante. Tal dificuldade pode estar presente em outros quadros, motivo pelo qual a nova classificação diagnóstica cuidou de criar um espectro que engloba todas as variações e graus de comprometimento: o Transtorno do Espectro Autista. Porém, mais importante que o diagnóstico e da rotulação, é a compreensão do quadro e dos elementos que se apresentam.
Na maioria dos casos o que se observa é que o indivíduo com autismo exclui ativamente o Outro de seu circuito de satisfação e apresenta baixa responsividade aos outros, passando uma imagem de alguém que só vive o “próprio mundo” ou é “em si mesmado”.
Além disto, outras dificuldades se fazem presentes na grande maioria dos casos de autismo, como a linguagem e a produção simbólica, de modo que o sujeito enfrenta dificuldades para o brincar de “faz de conta”.
Independente da forma como o quadro se apresenta em cada criança, ela deflagra uma falha na constituição psíquica do sujeito. Esta falha, como muitos psicanalistas pensam, é originária de funções materna e paterna inadequadas. A relação entre o bebê e a mãe (ou alguém que cumpra a função materna) ou o bebê e o pai (ou alguém que cumpra a função paterna) e maneira como ela se dá são fatores essenciais na constituição psíquica do bebê, uma vez que “emprestam” seus recursos, afetos e atendem a suas demandas.
Como dizia Lacan, o estádio do espelho caracterizaria o momento em que os pais se tornam espelhos para o bebê, possibilitando a ele diferenciar seu próprio corpo do mundo exterior. No entanto, isto se torna um problema quando a mãe não é capaz de decifrar as necessidades do bebê e o vê como um prolongamento de si mesma.
É então que a função paterna ganha importância e contribui neste processo, garantindo o distanciamento necessário na díade mãe-bebê para que haja espaço para o nascimento do sujeito psíquico. Ou seja, a função paterna é o que permite a introjeção da lei e do terceiro na criança.