As diferentes cores da depressão
Quando você ouve falar em depressão, o que lhe vem à cabeça? Você se lembra de alguém triste? Alguém choroso? Alguém que só fica trancado no quarto e não quer sair?
De fato, essas características são bastante frequentes em portadores de depressão. Todavia, a maneira como a depressão surge em cada indivíduo é muito variada. Ou seja, indivíduos diferentes podem apresentar sintomas diferentes de depressão, e até um mesmo indivíduo pode ter ao longo da vida episódios de depressão com características diferentes.
Um dos primeiros sintomas que as pessoas se lembram ao falar de depressão é de ficar com um humor mais triste. É comum a depressão cursar com sentimentos de tristeza, angústia, desânimo, desesperança.
Todavia, algumas pessoas ao deprimirem começam a sentir mais irritadiças, mais “pavio-curto”, perdem a paciência com mais facilidade. Já outras pessoas começam a apresentar uma “anestesia afetiva”, como se não tivessem sentimentos; nesses casos, é comum a pessoa referir uma apatia, uma indiferença a tudo que acontece ao seu redor. Inclusive alguns se queixam de não conseguirem mais amar as pessoas que lhe são próximas.
É importante saber que essas alterações de humor podem ter oscilações. Alguns casos de depressão podem ter uma reatividade maior a estímulos positivos de seu ambiente. Ou seja, conseguem sentir uma elevação dos ânimos diante de boas notícias ou de atividades prazerosas. Às vezes conseguem sair com amigos e se sentir bem durante um tempo. Por sua vez, outros quadros de depressão são caracterizados pela falta de reatividade, ou seja, mesmo diante de eventos positivos, o indivíduo mantém afetos mais negativos.
Outra característica importante da depressão é a diminuição da capacidade de sentir prazer em atividades. Para alguns, há uma perda total de interesse, nada mais lhe agrada. Ficam trancados em seu quarto sem fazer nada. Contudo, para outros indivíduos, há uma redução da quantidade atividades que comumente lhe traz prazer. Nesses casos, as pessoas podem ter um estreitamento das atividades de sua vida, por exemplo, ficando boa parte do dia assistindo à televisão ou jogando videogame.
Vale lembrar que a depressão também afeta funções fisiológicas do organismo, como apetite e sono. Dependendo da pessoa essas modificações podem ser diferentes. Algumas pessoas têm uma perda de apetite, não tem mais prazer em se alimentar; podem às vezes descrever que os alimentos perderam o sabor. Nesses casos, é comum ter uma perda de peso ao longo do quadro de depressão.
Para outras pessoas acontece o contrário: há um aumento do apetite, a pessoa começa a sentir mais fome, ou pode comer mais como uma forma de aliviar a angústia. É comum nesses casos, haver uma predileção por doces. Desse modo, esses indivíduos podem evoluir com ganho de peso ao longo da depressão.
Em relação ao sono, algumas pessoas referem não conseguir dormir, podendo se sentir cansadas ou inquietas diante da falta de sono. E mesmo o pouco que conseguem dormir em geral acaba sendo um sono de má qualidade, não reparador. Por sua vez, outras pessoas sentem muito sono, têm dificuldade em se manter acordados, sentem-se sem energia.
Além disso, em relação aos pensamentos de morte pode haver diferentes sintomas. Algumas pessoas deprimidas começam a apresentar pensamentos de suicídio. Já outras podem desenvolver um medo intenso de vir a morrer.
Em suma, cada depressão é única, com características diferentes. Não se deve, pois, julgar se o outro está deprimido ou não apenas olhando por fora. Não é toda pessoa deprimida que ficará em seu quarto sem fazer nada, se sentindo o tempo inteiro triste e chorosa.
Outras pessoas com depressão ainda podem sair, conseguir se divertir em algumas situações, com alguns amigos, com alguns tipos de atividade. Então, não é necessariamente por estar deprimida que a pessoa não conseguirá trabalhar ou não sairá com amigos. Mas é importante lembrar que outras pessoas terão sim dificuldades em ir para o trabalho e até mesmo para sair da cama. Cada depressão é diferente: não se deixe levar pelo estigma.