Resolvi engravidar, e agora???
Uma preocupação muito comum para grande parte das mulheres é o que fazer em relação ao seu tratamento psiquiátrico quando está grávida. Para discutir esse tema, é importante abordar 2 conceitos principais: o risco do uso de medicamentos na gestação e o risco de um transtorno psiquiátrico na gestação não tratado.
Antes de falar sobre o risco do uso de medicamentos na gestação, é importante mencionar que existe o risco de malformações fetais na população geral, ou seja, mesmo sem utilizar nenhum fármaco, há uma chance de cerca de 1 a 3% de ocorrer uma malformação.
Dito isso, vários remédios possuem taxa de malformação semelhante ao da população geral. Quando isso acontece, consideramos que o medicamento é considerado seguro na gestação, pois ele não aumenta o risco de malformação.
Exemplos de fármacos seguros na gestação são: antidepressivos (tricíclicos e inibidores seletivos de recaptação da serotonina, com exceção da paroxetina) e antipsicóticos (haloperidol, olanzapina, risperidona, quetiapina).
Se foi optado por interromper a medicação, é preciso considerar o risco da ocorrência de um transtorno não tratado na gestação. Para entender isso, é importante dizer que a gravidez, ao contrário do que muitos pensam, não é considerada um período protetor para doença mental, pelo contrário, é considerada um período de vulnerabilidade para transtornos mentais, sendo o mais frequente o transtorno depressivo.
Cerca de 50 a 75% das pacientes que interrompem o uso de antidepressivos durante a gravidez irão apresentar recaída na gestação. Além disso, estudos mostram que 10 a 25% das gestantes apresentam depressão, porém somente 1 em cada 5 gestantes deprimidas procura tratamento.
Fica evidente que existe a questão do estigma, que impede muitas mulheres de buscar ajuda e, muitas vezes, passam toda a gestação em sofrimento.
Além do sofrimento materno, já é comprovado cientificamente que tanto a depressão quanto a ansiedade geram riscos para o bebê: maior risco de prematuridade, abortamento, escores mais baixos no Apgar, prejuízo no vínculo mãe-bebê, atraso no desenvolvimento emocional, cognitivo e de linguagem, entre outros.
Portanto, quando há risco de um transtorno mental não tratado, retirar as medicações não quer dizer anular os riscos. A decisão de manter ou não a medicação deve envolver a paciente, seu parceiro e o psiquiatra, tomando uma decisão conjunta considerando os pontos acima mencionados.
Também é imprescindível oferecer à gestante, além do tratamento médico, um suporte social adequado e acolhimento necessários.