Transtorno por uso de álcool: entenda os mecanismos comportamentais
Por seus efeitos de diminuição de tensão, e práticas culturais, o álcool é uma droga lícita presente no dia a dia da sociedade. Sabe-se, contudo, que o uso de substâncias psicoativas (que afetam o cérebro) legais ou ilegais acarreta prejuízo social e para a saúde da população.
O uso excessivo de álcool pode gerar o que chamamos de transtorno por uso de álcool, devido ao seu potencial de causar dependência.
De acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5.ª edição (DSM 5), a principal característica dos transtornos de substâncias seria um grupo de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos, que sugere uso contínuo, sem conseguir parar, apesar dos efeitos negativos causados por esse comportamento.
Dentre diversos sintomas, incluem-se: o uso por tempo maior que o planejado, dificuldades de reduzir o consumo, fissura (ou forte desejo de uso), tolerância (quantidade maior de álcool para ter o efeito desejado) e continuar o uso apesar de prejuízos psicológicos, sociais e físicos ou em situações que há risco físico ao se utilizar.
Em termos comportamentais, sabe-se que um determinado comportamento se repete a partir de experiências passadas. Esse aprendizado e associação é chamado de condicionamento operante, e no comportamento de uso de álcool não é diferente.
Dois processos comportamentais principais são responsáveis pela criação do hábito de consumir álcool: reforçamentos positivo e negativo.
No reforçamento positivo, após o comportamento o organismo obtém uma recompensa. No caso do álcool, pode ser euforia ou sensação de bem estar.
Já no reforçamento negativo, a partir da ação, algum incômodo é removido. Ou seja, o álcool pode remover temporariamente ansiedade, tensão, irritabilidade e mal estar emocional.
Em ambos os casos, a consequência, que pode ser relacionada a uma sensação prazerosa ou à remoção de um mal estar, aumenta a probabilidade daquele determinado comportamento se repetir no futuro (Gilpin; Koob, 2008).
Com o tempo, o uso de álcool pode evoluir para um transtorno por uso de álcool que dificulta a capacidade de controle do consumo, especialmente quando a pessoa tem pouco acesso a atividades prazerosas.
Por se tratar de um transtorno comportamental que apresenta risco à saúde e prejuízos gerais, e com frequência ocorrer concomitantemente a outros transtornos psiquiátricos, como transtornos depressivos ou de ansiedade, é importante encaminhar o indivíduo para um serviço ou profissional como psicólogo ou médico psiquiatra para que tenha uma avaliação e acompanhamento adequado.
Bibliografia
Gilpin NW, Koob GF. Neurobiology of alcohol dependence: focus on motivational mechanisms. Alcohol Res Health. 2008.