Quando a mania se torna uma doença
Lavar as mãos, tomar banho, trancar a porta. Coisas que nós fazemos na nossa rotina mas que podem ser uma verdadeira tortura para algumas pessoas.
Certo grau de repetição em algumas atividades acontece e pode até ter uma característica protetora. Por exemplo, checar se realmente trancamos a porta de casa porque estávamos distraídos. Porém, isso se torna patológico quando as repetições se tornam obsessões e o paciente vira um verdadeiro refém dessas “manias”, que podem ser de verificação, limpeza, organização, contagem e outros.
Estamos falando de uma condição psiquiátrica chamada Transtorno Obsessivo-Compulsivo, mais conhecida como TOC.
O TOC é caracterizado por obsessões, que são pensamentos intrusivos na mente da pessoa. Isto é, que vêm sem que a mesma tenha buscado esses pensamentos.
Em geral, os pensamentos indicam que a pessoa faça algo e ficam recorrentes na mente do indivíduo caso a ação não seja realizada. Isso gera sofrimento e desconforto emocional e, para aliviá-los, o paciente “obedece” aos pensamentos e atua no sentido de realizar a ação. Isso é a chamada compulsão do TOC.
TOC na prática
Segue uma situação de exemplo: uma ação trivial do dia a dia é lavar as mãos. Em um paciente com TOC sua mente diz: “preciso lavar as mãos porque podem estar contaminadas”.
A possibilidade de contaminação é intolerável para o paciente e gera muita ansiedade, então, para aliviar esse desconforto, ele lava. E normalmente lava de uma maneira ritualizada, demorando muito tempo e fazendo de um jeito específico para deixar as mãos o mais limpas possível.
Mesmo assim, após o paciente ter lavado as mãos a primeira vez, muito comumente o pensamento volta, dizendo: “ainda assim as mãos podem estar contaminadas pois pode ser que eu tenha encostado em algo sem perceber”.
Isso gera novo incômodo e novamente o ciclo se repete. E pode se repetir por horas, causando um impacto importante na vida do indivíduo, que muitas vezes abandona seu trabalho, vida social, e pode até ficar deprimido por conta desses rituais e da diminuição do repertório que ocorre em sua vida.
Algumas vezes o pensamento intrusivo pode ter caráter abominável para o paciente, de conteúdo agressivo ou cunho sexual inadequado. Nesse tipo de apresentação, a sensação de sofrimento, desconforto emocional e culpa é muito intensa.
Em situações como essa, normalmente os pacientes não atuam sobre os pensamentos, mas costumam criar rituais para anulá-los. Esses rituais podem envolver qualquer atividade, ou então invocar um outro pensamento para afastar o primeiro.
Para que realmente sejam considerados um transtorno, os sintomas obsessivos compulsivos devem causar sofrimento para o indivíduo e ocupar grande parte do dia da pessoa, gerando prejuízo em outras atividades da sua vida. Cerca de 2% da população poderá apresentar TOC ao longo da vida.
O tratamento dessa condição é feito com medicações específicas, geralmente antidepressivos. É adequado também associar a terapia cognitivo-comportamental (TCC), que tem uma boa eficácia sobre o TOC. A ideia da TCC é expor gradualmente o paciente às sensações de desconforto, de modo que elas pareçam cada vez menos aversivas.