Esquiva Experiencial: fugir de emoções negativas é uma boa estratégia?
Em muitos momentos na vida sentimos ansiedade, tristeza, e outras sensações desagradáveis. Essas emoções fazem parte da vida e eventualmente todos os seres humanos entram em contato com elas.
Algumas pessoas acabam desenvolvendo formas para evitá-las. Será que evitar entrar em contato é uma boa estratégia? O conceito de esquiva experiencial pode nos ajudar a entender melhor essa questão.
De acordo com Hayes e colaboradores (1996), esquiva experiencial é definida por dois pontos principais: a recusa de permanecer em contato com experiências internas aversivas (negativas) que incluem sensações corporais, pensamentos, memórias, emoções; e a adoção de estratégias para evitar situações ou eventos que geram essas experiências internas. Um exemplo clássico e comum de padrão prejudicial de Esquiva Experiencial é o uso excessivo de substâncias psicoativas como álcool e drogas.
Pensando em termos evolutivos, fugir e evitar ameaças externas como um predador, ou um choque é muito importante para a sobrevivência. E é unanimidade na comunidade científica que humanos e animais possuem essa tendência e motivação. Contudo, nós humanos temos a linguagem, e de acordo com Hayes e colaboradores (1996) é daí que surge o problema.
A linguagem possui uma característica conhecida como “bidirecional” no sentido de assumir a função do evento. Por exemplo: falar de um evento traumático faz com que a pessoa experiencie o sofrimento novamente. Essa característica da linguagem faz com que as pistas de ameaças ambientais aumentem bastante e comecem a prejudicar a vida diária do indivíduo, já que a pessoa passa a evitar não somente a situação real, mas também qualquer representação simbólica ou algo que remeta a essa questão.
Essa estratégia de fuga de sensações tende a não funcionar por três motivos principais:
- As estratégias de evitar algum pensamento também são verbais, e essa regulação verbal também inclui o item que está se tentando evitar. Exemplo: O pensamento “Não vou mais pensar em chocolate” faz com que você pense no chocolate e aumente a chance de isso ocorrer novamente.
- Muitas experiências emocionais negativas foram associadas com eventos, involuntariamente, e provavelmente vão ressurgir assim que houver um novo contato com esse evento, independente da vontade do indivíduo. Tentativas voluntárias de não sentir muito provavelmente não funcionarão, pois, a associação ocorreu por um processo diferente.
- Evitar todos os eventos que podem remeter àquela sensação pode funcionar no sentido de fazer com que a pessoa não entre em contato com a experiência interna que quer evitar, mas ao mesmo limita a vida do indivíduo, fazendo com que ele perca experiências que poderiam ser agradáveis ou necessárias, diminuindo também o autoconhecimento.
Vivenciar essas emoções e experiências internas, aceitando-as faz parte de um funcionamento saudável. Entrar em contato com todas elas, não é uma tarefa fácil, mas você não precisa passar por isso sozinho. A psicoterapia analítico-comportamental pode te ajudar a entender melhor e te ajudar nesse processo. Permita-se ser ajudado!
Bibliografia
Hayes, S. C., Wilson, K. G., Gifford, E. V., Follette, V. M., & Strosahl, K. (1996). Experiential avoidance and behavioral disorders: A functional dimensional approach to diagnosis and treatment. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 64, 1152–1168.
1 Comment
Anete Mancini
Dr Alan, eu evitei olhar para fotos de minha filha que faleceu há quase 10 anos pois doía o peito e chorava demais. Estou começando a ver fotos agora é já não me afetam dolorosamente. Deveria te-lo feito antes, mesmo com tanta dor? Muito obrigada.