Uma concepção muito comumente defendida por leigos a respeito dos psiquiatras é a de que só se deve ir ao psiquiatra quando for o caso de receber medicamentos. Outra, que vai de mãos dadas com a primeira, é a de que psiquiatras só servem para prescrever medicamentos, ou ainda que fatalmente um paciente que vá ao psiquiatra sairá de lá com um medicamento.
Fora do consultório é muito mais comum que se fale sobre a má reputação que acaba recaindo sobre a Psiquiatria (e, por consequência, também sobre a pessoa do psiquiatra) por conta destas crenças.
Críticas à medicalização do sofrimento humano, ou sobre a patologização de variações da normalidade saudáveis não costumam sair de moda, e o assunto poderia até merecer um texto à parte.
Entretanto, dentro do ambiente do consultório do psiquiatra talvez os efeitos deletérios mais comuns desta crença venham precisamente do excesso de confiança no tratamento psicofarmacológico. E é precisamente deste assunto que pretendo tratar.
Dentro da prática diária, portanto, é muito comum que encontremos pacientes cuja expectativa quando vão ao psiquiatra é de uma simplicidade singela: Será realizado um diagnóstico, um medicamento será prescrito, todos os males vão desaparecer e eles serão felizes para sempre. The End.
Para qualquer pessoa que tenha esta crença, posso afirmar com segurança que não conheço nenhum caso cuja formulação termine nos aspectos biológicos. O diagnóstico psiquiátrico é importante, de fato. Um tratamento medicamentoso, se indicado, também.
Mas não há como pensar no desbalanço de neurotransmissores dentro do cérebro de alguém isolado do contexto básico da vida deste indivíduo e do ambiente que o cerca: quem é esta pessoa? Como ela vive? Como ela enxerga o mundo? Quais são os eventos biográficos mais relevantes dela? Quem são os seus familiares, parceiros e amigos próximos?
De fato, neurotransmissores influenciam nossa forma de (vi)ver o mundo, mas igualmente a forma como (vi)vemos o mundo influencia a nossa homeostase neuroquímica. Em um bom número de patologias psiquiátricas a comparação entre tratamentos medicamentosos e não medicamentosos favorece o grupo tratado com psicoterapia. A afirmação não pretende em absoluto diminuir a importância da psicofarmacoterapia, até porque a mesma e outras modalidades de tratamento não são mutuamente excludentes, mas sim reiterar a importância de ir além do tratamento medicamentoso, quando estamos falando de saúde mental.
Por vezes, estes indivíduos adeptos da crença da “pílula mágica” passam em um psiquiatra, que prescreve um tratamento correto, mas a ausência de resultados fáceis e rápidos os torna céticos em relação à eficácia do mesmo. Será que não haveria por aí afora um medicamento mais moderno?
Sobre este assunto, venho dar mais uma ducha de água fria: embora o acréscimo de um novo medicamento ao arsenal terapêutico seja sempre bem-vindo, no caso dos medicamentos psiquiátricos a maior parte dos novos fármacos representa apenas uma alternativa diferente de tratamento, sem aumento significativo da eficácia quando comparado aos anteriores. A expectativa mais honesta em relação a um psicofármaco novo, na verdade, seria a de encontrar um que, com eficácia similar aos anteriores, possuísse um perfil de efeitos colaterais mais tolerável.
Karl Jaspers já afirmava há 100 anos que o homem será sempre mais que o que ele pode saber sobre si mesmo. Medicamentos são obras humanas, e, como tal, não podem ter a cobrança de remediar todos os sofrimentos da existência humana recaindo sobre seus ombros. Por isso, meu conselho àqueles que buscam tratamento é que estejam atentos a toda gama de intervenções propostas, aceitando, sem distinção ou preconceito, tanto as de ordem biológica (como as medicamentosas) como as não farmacológicas (como psicoterapias e orientações de mudanças de estilo de vida).
Uma concepção muito comumente defendida por leigos a respeito dos psiquiatras é a de que só se deve ir ao psiquiatra quando for o caso de receber medicamentos. Outra, que vai de mãos dadas com a primeira, é a de que psiquiatras só servem para prescrever medicamentos, ou ainda que fatalmente um paciente que vá ao psiquiatra sairá de lá com um medicamento. Fora do consultório é muito mais comum que se fale sobre a má reputação que acaba recaindo sobre a Psiquiatria (e, por consequência, também sobre a pessoa do psiquiatra) por conta destas crenças. Críticas à medicalização do sofrimento humano, ou sobre a patologização de variações da normalidade saudáveis não costumam sair de moda, e o assunto poderia até merecer um texto à parte. Entretanto, dentro do ambiente do consultório do psiquiatra talvez os efeitos deletérios mais comuns desta crença venham precisamente do excesso de confiança no tratamento psicofarmacológico. E é precisamente deste assunto que pretendo tratar. Dentro da prática diária, portanto, é muito comum que encontremos pacientes cuja expectativa quando vão ao psiquiatra é de uma simplicidade singela: Será realizado um diagnóstico, um medicamento será prescrito, todos os males vão desaparecer e eles serão felizes para sempre. The End. Para qualquer pessoa que tenha esta crença, posso afirmar com segurança que não conheço nenhum caso cuja formulação termine nos aspectos biológicos. O diagnóstico psiquiátrico é importante, de fato. Um tratamento medicamentoso, se indicado, também. Mas não há como pensar no desbalanço de neurotransmissores dentro do cérebro de alguém isolado do contexto básico da vida deste indivíduo e do ambiente que o cerca: quem é esta pessoa? Como ela vive? Como ela enxerga o mundo? Quais são os eventos biográficos mais relevantes dela? Quem são os seus familiares, parceiros e amigos próximos? De fato, neurotransmissores influenciam nossa forma de (vi)ver o mundo, mas igualmente a forma como (vi)vemos o mundo influencia a nossa homeostase neuroquímica. Em um bom número de patologias psiquiátricas a comparação entre tratamentos medicamentosos e não medicamentosos favorece o grupo tratado com psicoterapia. A afirmação não pretende em absoluto diminuir a importância da psicofarmacoterapia, até porque a mesma e outras modalidades de tratamento não são mutuamente excludentes, mas sim reiterar a importância de ir além do tratamento medicamentoso, quando estamos falando de saúde mental. Por vezes, estes indivíduos adeptos da crença da “pílula mágica” passam em um psiquiatra, que prescreve um tratamento correto, mas a ausência de resultados fáceis e rápidos os torna céticos em relação à eficácia do mesmo. Será que não haveria por aí afora um medicamento mais moderno? Sobre este assunto, venho dar mais uma ducha de água fria: embora o acréscimo de um novo medicamento ao arsenal terapêutico seja sempre bem-vindo, no caso dos medicamentos psiquiátricos a maior parte dos novos fármacos representa apenas uma alternativa diferente de tratamento, sem aumento significativo da eficácia quando comparado aos anteriores. A expectativa mais honesta em relação a um psicofármaco novo, na verdade, seria a de encontrar um que, com eficácia similar aos anteriores, possuísse um perfil de efeitos colaterais mais tolerável. Karl Jaspers já afirmava há 100 anos que o homem será sempre mais que o que ele pode saber sobre si mesmo. Medicamentos são obras humanas, e, como tal, não podem ter a cobrança de remediar todos os sofrimentos da existência humana recaindo sobre seus ombros. Por isso, meu conselho àqueles que buscam tratamento é que estejam atentos a toda gama de intervenções propostas, aceitando, sem distinção ou preconceito, tanto as de ordem biológica (como as medicamentosas) como as não farmacológicas (como psicoterapias e orientações de mudanças de estilo de vida).
No Brasil, até meados do século XIX, os pacientes psiquiátricos eram objeto da justiça: os violentos iam para as prisões e os pacíficos perambulavam pelas ruas sem receberem qualquer tipo de tratamento especializado.
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Anete Mancini
7 de outubro de 2019 at 15:47
Em 1976 um psiquiatra me diagnosticou com “Neurose de Angústia”. Sintomas idênticos a Síndrome de Pânico. Tomei por 2 anos Valium 10 mg e um outro medicamento para “despertar”. Resolvi engravidar e um ano antes parei com os medicamentos. Hoje tenho 68 anos e ainda tenho os sintomas (de vez em quando) fiz outros tratamentos psiquiátricos e psicoterapeuticos. Mas não fiquei curada. Sou uma pessoa corajosa que sente medo de vez em quando. Quando era jovem sofri muito com isso. Desculpe o desabafo. Mas senti vontade de “falar com vc”. Obrigada
Olá Anete, tudo bem? Não há motivo para você continuar sofrendo com esses sintomas! Temos profissionais capacitados que podem te ajudar! Entre em contato conosco pelo (11) 2855-3596 ou contato@mancinipsiquiatria.com.br
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Anete Mancini
Em 1976 um psiquiatra me diagnosticou com “Neurose de Angústia”. Sintomas idênticos a Síndrome de Pânico. Tomei por 2 anos Valium 10 mg e um outro medicamento para “despertar”. Resolvi engravidar e um ano antes parei com os medicamentos. Hoje tenho 68 anos e ainda tenho os sintomas (de vez em quando) fiz outros tratamentos psiquiátricos e psicoterapeuticos. Mas não fiquei curada. Sou uma pessoa corajosa que sente medo de vez em quando. Quando era jovem sofri muito com isso. Desculpe o desabafo. Mas senti vontade de “falar com vc”. Obrigada
Renato Mancini
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