Pensar sobre o fenômeno do suicídio geralmente suscita na gente angústia, sensação de impotência e até revolta. É um tema bastante complexo e que não se esgota – nem pode se esgotar – no campo restrito da saúde mental.
O tema vem aparecendo com mais frequência na mídia depois dos suicídios de dois adolescentes, alunos de uma tradicional escola paulistana, em um curto intervalo de tempo (menos de 15 dias de distância entre eles), no mês de abril desse ano.
Recentemente, a jornalista e escritora Eliane Brum, conhecida pela sua capacidade de conduzir o leitor em suas reflexões para além da simples e empobrecedora concretude dos fatos, publicou, em sua coluna do jornal El País, um texto bastante sensível e inquietante sobre como a sociedade historicamente se portou diante esse fenômeno e sugere como deveríamos pensar sobre esse tema daqui pra frente – sugiro a sua leitura: https://bit.ly/2M2J4Fr
Nessa ampla reflexão, não podemos deixar de levar em conta a presença cada vez mais pervasiva das redes sociais no modo de ser, pensar e desejar das pessoas.
O mundo real e o mundo virtual são cada vez mais imiscuídos e há quem diga que essa distinção já nem seja mais tão clara em termos de estruturação de ego, visto que as redes sociais modificaram profundamente a maneira como as pessoas se relacionam umas com as outras, com o mundo e consigo mesmas.
O que está na rede virtual pode ter um caráter tão real quanto o que está fora dela. Indo além: o que está na internet pode se tornar mais perene e mais difuso, em termos de alcance, com um potencial de causar estragos imensuráveis.
A sociedade não pode mais se abster dessa problemática, já que o suicídio é um fenômeno fundamentalmente social, que se fez presente em todas as civilizações da humanidade, com picos de incidência tipicamente em momentos da História em que os laços sociais se esgarçam (períodos de grandes crises econômicas, em que a individualidade ganha força em detrimento do coletivo, por exemplo) e o indivíduo fica desamparado, sem mais encontrar sentidos para suportar a sua dor.
Porque é fato que o sofrimento é um aspecto inerente à vida, assim como as coisas boas e belas também o são. Mas as possibilidades de vislumbrar um propósito em seu futuro, construir projetos de vida e encontrar seus significados e sentidos para existir, são vitalizantes para tornar qualquer dor suportável.
Quando não há mais possibilidade de futuro, não há mais sentido nem espaço para o sofrimento, e então a morte pode vir como uma possível saída.
Apesar de doenças psiquiátricas serem um fator de risco importante para o suicídio, não podemos cair na armadilha de restringir a sua discussão a um problema de saúde mental. Precisamos ter sempre em vista as circunstâncias sociais e estruturais que o produzem. Por isso, não adianta nos darmos por satisfeitos, como há muito tempo fizemos, simplesmente pondo o suicídio na conta da suposta fragilidade de caráter do indivíduo suicida, de sua possível doença mental ou da família que o acompanha.
Não podemos perder de vista a ideia de mundo que queremos construir para que os jovens desejem ter motivos para encará-lo.
Por isso, aqui vale resgatar uma oportuna fala da psicanalista Maria Lucia Homem:
“Sempre houve melancolia – isso é retratado pelos gregos. Mas uma coisa é retratar a melancolia como quadro possível, outra coisa é colocar a felicidade, o prazer e o entretenimento como obrigações contínuas. Todas as estatísticas mostram que estamos em uma epidemia de sintomas mentais em que depressão, pânico e transtornos alimentares são a ponta de lança. Como não estar doente de tristeza na era da felicidade? Como não estar doente de desamparo, de medo, de pânico quando todas as redes de amparo estão esgarçadas? O individualismo mata os elos comunitários. É um paradigma que não tem como não jogar o sujeito no desamparo. Os iguais são seus concorrentes e você tem de se destacar. Então, como é possível não ter medo? Como o pânico, a fobia, a fragilidade não vão ser os sintomas básicos de uma era que só prega o ideal de força, potência e vitória? E como não ter transtorno ou distúrbios com o corpo e com a imagem que se tem de si em um universo que dita o tempo todo o corpo que você deve ter: jovem, magro e belo?”
A demanda da minha atividade profissional ao longo dos últimos anos cresceu exponencialmente, tornando-se um desafio cada vez maior conciliá-la com o atendimento de altíssima qualidade, do qual não abro mão.
Pensar sobre o fenômeno do suicídio geralmente suscita na gente angústia, sensação de impotência e até revolta. É um tema bastante complexo e que não se esgota – nem pode se esgotar – no campo restrito da saúde mental. O tema vem aparecendo com mais frequência na mídia depois dos suicídios de dois adolescentes, alunos de uma tradicional escola paulistana, em um curto intervalo de tempo (menos de 15 dias de distância entre eles), no mês de abril desse ano. Recentemente, a jornalista e escritora Eliane Brum, conhecida pela sua capacidade de conduzir o leitor em suas reflexões para além da simples e empobrecedora concretude dos fatos, publicou, em sua coluna do jornal El País, um texto bastante sensível e inquietante sobre como a sociedade historicamente se portou diante esse fenômeno e sugere como deveríamos pensar sobre esse tema daqui pra frente – sugiro a sua leitura: https://bit.ly/2M2J4Fr Nessa ampla reflexão, não podemos deixar de levar em conta a presença cada vez mais pervasiva das redes sociais no modo de ser, pensar e desejar das pessoas. O mundo real e o mundo virtual são cada vez mais imiscuídos e há quem diga que essa distinção já nem seja mais tão clara em termos de estruturação de ego, visto que as redes sociais modificaram profundamente a maneira como as pessoas se relacionam umas com as outras, com o mundo e consigo mesmas. O que está na rede virtual pode ter um caráter tão real quanto o que está fora dela. Indo além: o que está na internet pode se tornar mais perene e mais difuso, em termos de alcance, com um potencial de causar estragos imensuráveis. A sociedade não pode mais se abster dessa problemática, já que o suicídio é um fenômeno fundamentalmente social, que se fez presente em todas as civilizações da humanidade, com picos de incidência tipicamente em momentos da História em que os laços sociais se esgarçam (períodos de grandes crises econômicas, em que a individualidade ganha força em detrimento do coletivo, por exemplo) e o indivíduo fica desamparado, sem mais encontrar sentidos para suportar a sua dor. Porque é fato que o sofrimento é um aspecto inerente à vida, assim como as coisas boas e belas também o são. Mas as possibilidades de vislumbrar um propósito em seu futuro, construir projetos de vida e encontrar seus significados e sentidos para existir, são vitalizantes para tornar qualquer dor suportável. Quando não há mais possibilidade de futuro, não há mais sentido nem espaço para o sofrimento, e então a morte pode vir como uma possível saída. Apesar de doenças psiquiátricas serem um fator de risco importante para o suicídio, não podemos cair na armadilha de restringir a sua discussão a um problema de saúde mental. Precisamos ter sempre em vista as circunstâncias sociais e estruturais que o produzem. Por isso, não adianta nos darmos por satisfeitos, como há muito tempo fizemos, simplesmente pondo o suicídio na conta da suposta fragilidade de caráter do indivíduo suicida, de sua possível doença mental ou da família que o acompanha. Não podemos perder de vista a ideia de mundo que queremos construir para que os jovens desejem ter motivos para encará-lo. Por isso, aqui vale resgatar uma oportuna fala da psicanalista Maria Lucia Homem: “Sempre houve melancolia – isso é retratado pelos gregos. Mas uma coisa é retratar a melancolia como quadro possível, outra coisa é colocar a felicidade, o prazer e o entretenimento como obrigações contínuas. Todas as estatísticas mostram que estamos em uma epidemia de sintomas mentais em que depressão, pânico e transtornos alimentares são a ponta de lança. Como não estar doente de tristeza na era da felicidade? Como não estar doente de desamparo, de medo, de pânico quando todas as redes de amparo estão esgarçadas? O individualismo mata os elos comunitários. É um paradigma que não tem como não jogar o sujeito no desamparo. Os iguais são seus concorrentes e você tem de se destacar. Então, como é possível não ter medo? Como o pânico, a fobia, a fragilidade não vão ser os sintomas básicos de uma era que só prega o ideal de força, potência e vitória? E como não ter transtorno ou distúrbios com o corpo e com a imagem que se tem de si em um universo que dita o tempo todo o corpo que você deve ter: jovem, magro e belo?”
Pensar sobre o fenômeno do suicídio geralmente suscita na gente angústia, sensação de impotência e até revolta. É um tema bastante complexo e que não se esgota – nem pode se esgotar – no campo restrito da saúde mental. O tema vem aparecendo com mais frequência na mídia depois dos suicídios de dois adolescentes, alunos de uma tradicional escola paulistana, em um curto intervalo de tempo (menos de 15 dias de distância entre eles), no mês de abril desse ano. Recentemente, a jornalista e escritora Eliane Brum, conhecida pela sua capacidade de conduzir o leitor em suas reflexões para além da simples e empobrecedora concretude dos fatos, publicou, em sua coluna do jornal El País, um texto bastante sensível e inquietante sobre como a sociedade historicamente se portou diante esse fenômeno e sugere como deveríamos pensar sobre esse tema daqui pra frente – sugiro a sua leitura: https://bit.ly/2M2J4Fr Nessa ampla reflexão, não podemos deixar de levar em conta a presença cada vez mais pervasiva das redes sociais no modo de ser, pensar e desejar das pessoas. O mundo real e o mundo virtual são cada vez mais imiscuídos e há quem diga que essa distinção já nem seja mais tão clara em termos de estruturação de ego, visto que as redes sociais modificaram profundamente a maneira como as pessoas se relacionam umas com as outras, com o mundo e consigo mesmas. O que está na rede virtual pode ter um caráter tão real quanto o que está fora dela. Indo além: o que está na internet pode se tornar mais perene e mais difuso, em termos de alcance, com um potencial de causar estragos imensuráveis. A sociedade não pode mais se abster dessa problemática, já que o suicídio é um fenômeno fundamentalmente social, que se fez presente em todas as civilizações da humanidade, com picos de incidência tipicamente em momentos da História em que os laços sociais se esgarçam (períodos de grandes crises econômicas, em que a individualidade ganha força em detrimento do coletivo, por exemplo) e o indivíduo fica desamparado, sem mais encontrar sentidos para suportar a sua dor. Porque é fato que o sofrimento é um aspecto inerente à vida, assim como as coisas boas e belas também o são. Mas as possibilidades de vislumbrar um propósito em seu futuro, construir projetos de vida e encontrar seus significados e sentidos para existir, são vitalizantes para tornar qualquer dor suportável. Quando não há mais possibilidade de futuro, não há mais sentido nem espaço para o sofrimento, e então a morte pode vir como uma possível saída. Apesar de doenças psiquiátricas serem um fator de risco importante para o suicídio, não podemos cair na armadilha de restringir a sua discussão a um problema de saúde mental. Precisamos ter sempre em vista as circunstâncias sociais e estruturais que o produzem. Por isso, não adianta nos darmos por satisfeitos, como há muito tempo fizemos, simplesmente pondo o suicídio na conta da suposta fragilidade de caráter do indivíduo suicida, de sua possível doença mental ou da família que o acompanha. Não podemos perder de vista a ideia de mundo que queremos construir para que os jovens desejem ter motivos para encará-lo. Por isso, aqui vale resgatar uma oportuna fala da psicanalista Maria Lucia Homem: “Sempre houve melancolia – isso é retratado pelos gregos. Mas uma coisa é retratar a melancolia como quadro possível, outra coisa é colocar a felicidade, o prazer e o entretenimento como obrigações contínuas. Todas as estatísticas mostram que estamos em uma epidemia de sintomas mentais em que depressão, pânico e transtornos alimentares são a ponta de lança. Como não estar doente de tristeza na era da felicidade? Como não estar doente de desamparo, de medo, de pânico quando todas as redes de amparo estão esgarçadas? O individualismo mata os elos comunitários. É um paradigma que não tem como não jogar o sujeito no desamparo. Os iguais são seus concorrentes e você tem de se destacar. Então, como é possível não ter medo? Como o pânico, a fobia, a fragilidade não vão ser os sintomas básicos de uma era que só prega o ideal de força, potência e vitória? E como não ter transtorno ou distúrbios com o corpo e com a imagem que se tem de si em um universo que dita o tempo todo o corpo que você deve ter: jovem, magro e belo?”
A Mancini Psiquiatria e Psicologia oferece soluções customizadas em Saúde Mental para a sua empresa, desde a detecção e tratamento de transtornos psiquiátricos e psicológicos até diagnósticos e intervenção sistêmicos da identidade corporativa.
1 Comment
Anete Mancini
Muito bom. Gostei demais.